Desde 2008 uma cantora pop vinha tomando um lugar na história da música. Sim, Stefani Germanota, mais conhecida como Lady Gaga, abalou o mundo da música nos últimos anos. Mas, ao mesmo tempo, Lady Gaga é uma das provas de como o mercado musical pop pode virar uma grande piada. Em um cenário onde o visual vale cada vez mais que a MÚSICA propriamente dita, a cantora demonstrou muito mais competência no lado artístico – através de performances, polêmicas e vestes estranhas – do que em fazer uma música realmente bem composta e arranjada. Isso porque, pelo menos até agora, Lady Gaga tinha demonstrado dificuldade em mostrar real qualidade sonora em suas obras, efeito muito mais culpa de orientações de produtores ruins do que de si própria. Seu último álbum, ArtPop, é um dos piores discos dessa década, o que fez a lixeira transbordar e a cantora perder público. Um novo e menos pretensioso rumo precisava ser seguido como forma de aliviar a pressão.
Uma notícia revelada esse ano surpreendia a muitos: a cantora viria a lançar o álbum Cheek To Cheek com um dos maiores nomes do Jazz, Tony Bennet. O disco mostra ser o primeiro trabalho de efetiva qualidade da artista, onde podemos ver Stefani Germanota, a mulher por trás do alter ego “Lady Gaga”, mostrar seu talento musical sem as maquiagens da indústria, através apenas de sua bela voz e capacidade interpretativa. Dentro de um estilo totalmente diferente do pop, Stefani mostra seu verdadeiro talento como cantora. Ao invés de gritos e agudos “Auto-Tunescos”, prefere fazer ótimas afinações dignas do melhor lado do Jazz.
Em um disco que interpreta clássicos do Jazz, o duo varia de intensidade de faixa pra faixa, mas possui uma tendência maior ao tom mais animado. Há momentos que focam em Gaga, como Every Time We Say Goodbye, e há os que focam em Bennet – no estilo mais clássico do artista – como Sophisticated Lady. Mas pela maior parte do disco são os duetos que roubam a cena, onde ambos parecem bastante entrosados, seja na melancólica But Beautiful, ou nas animadas Firefly e It Don’t Mean A Thing (If Ain’t Got That Swing) (ainda que nessas esse entrosamento pareça maior). Pode-se citar, ainda, a banda como grande destaque, que faz um excelente papel harmônico e instrumental, sendo quase impossível não estalar os dedos com o som dançante, ou se emocionar nas melodias mais tristes.
Cheek To Cheek pode ser apenas mais um bom disco para a discografia de Tony Bennet, mas acrescenta bastante ao currículo de Lady Gaga. A artista pop que vinha construindo uma péssima discografia, mostra aqui seu outro lado – sem holofotes ou tendências de mercado necessárias a atender – deixando nítido seu talento e a verdadeira face por trás da máscara de estranha cantora. Torcemos para que se esse talento ainda possa ser mostrado mais vezes…
Cheek To Cheek
Artista: Tony Bennett, Lady Gaga
País: Estados Unidos
Lançamento: 19 de setembro de 2014
Gravadora: Streamline, Columbia
Estilo: Jazz