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Crítica | Cebolinha #45: A Fita Assombrada da Jumenta Voadora (2019)

por Luiz Santiago
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Aqui estão reunidas as críticas para a edição 45 da revista Cebolinha, publicada pela Editora Panini em janeiro de 2019. Cada história está acompanhada de sua própria ficha técnica e, em casos de histórias de única página ou das tiras verticais, eu comento brevemente sobre elas na aventura maior que vem logo a seguir. Boa leitura a todos e não deixem de comentar ao final da crítica!

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A Fita Assombrada da Jumenta Voadora

Tendo como inspiração a lenda urbana em torno da franquia O Chamado, A Fita Assombrada da Jumenta Voadora é uma divertida história com a hilária fantasma quadrúpede criada por Emerson B. Abreu. A trama se passa na casa do Cebolinha, que convidou o Cascão para uma noite do pijama e está assistindo a um filme de terror sobre a Jumenta Voadora, algo que apavora o menino que tem medo de água e diverte o troca-letras, que aparentemente não tem nenhum medo de assombrações. Ou será que tem?

Uma coisa que nos chama a atenção aqui, além da história ser muito engraçada desde o início, é a arte com os traços menos “mauricianos” possíveis de Altino O. Lobo, com finalização de Reginaldo S. Almeida. Uma das muitas críticas feitas ao Universo de Mauricio de Sousa ao longo dos anos é justamente o engessamento dos traços dos personagens, não dando a liberdade para os artistas desenharem conforme o seu próprio estilo (a exceção hoje em andamento é o projeto Graphic MSP). Em histórias como essa, apesar de estarmos, como disse anteriormente, em um território “mauriciano” na concepção geral da arte, fica fácil perceber certas características de angulação do rosto dos personagens e de finalização (com traços bem mais grossos) que fogem ao mesmo modelo de sempre e que é maravilhoso ver.

Outro destaque é a grande quantidade de expressões de todo mundo aqui. Tanto o roteiro (que brinca com a assombração da Jumenta e com a lenda da “fita VHS amaldiçoada“) quanto a arte, nos fazem rir pelas trabalhadas iniciais do Cebolinha com o Cascão, baseadas na provocação de um ao outro e evoluindo para algo bem mais encorpado, bem mais “sério”, contando até com a presença da Mônica, dos pais e da irmã do Cebolinha, todos sendo influenciados pela Jumenta. Mais uma vez, a dúvida sobre a existência ou não da fantasma é levada em consideração, mas ao fim, é impossível negar que a protetora dos tapauéres realmente está em toda a parte.

Roteiro: Emerson B. Abreu
Arte: Altino O. Lobo
Arte-final: Reginaldo S. Almeida
Letras: Danilo Batista
29 páginas

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Dona Morte Gamer

Quem nunca ficou muito tempo preso a um jogo e deixou uma porção de coisas importantes se acumularem, não é mesmo? Agora imaginam isso acontecendo com a Dona Morte! Pois é, eis o problema que toma conta dessa história de Gerson L. B. Teixeira, uma espécie de Ensaio Sobre a Cegueira versão kids! Começamos com o Anjo Gabriel, Zé Vampir e Penadinho indo até à casa da Dona Morte, que está há três dias sem encaminhar nenhuma alma. O problema, claro, é grande, mas a tríade não consegue tirar a gamer do sofá.

Quando primeiro ciclo de obstáculos da história se fechou, eu fiquei pensando qual seria a virada de jogo que o roteiro faria, e foi com satisfação que vi a chegada da Dona Cegonha em vez de mais uma rodada com obstáculos isolados para tirar a Dona Morte de frente do jogo. A brincadeira aqui é justamente com o vício que o game traz (no bom sentido, mas ao mesmo tempo, num sentido crítico) e também nas possibilidades de ação ou mesmo imaginativas que o game pode trazer para um jogador. Não como influência comportamental imperativa, claro, mas de estado de espírito.

Isso é algo que vemos na resolução da Dona Morte em cuidar intensamente de seu serviço depois de dias vidrada no jogo. E aqui, procurei tomar o maior cuidado para não passar a impressão errada em relação ao ato de jogar. Não compartilho daquela visão maluca de que um jogo é capaz de influenciar imperativa e mortalmente as pessoas, causando a este ou aquele ato [violento] após muito tempo nessa atividade lúdica. Notem o contexto da história e a brincadeira que o roteiro faz com tudo isso.

Roteiro: Gerson L. B. Teixeira
Arte: Enrique Valdez
Arte-final: Cleber Salles
Letras: Danilo Batista
8 páginas

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Luca e Cebolinha: Devolve Minha Cadeira

Ótima história de Jairo Marques, Devolve Minha Cadeira segue uma tradição que vejo nas histórias do Universo Mauricio de Sousa quando falamos de personagens com necessidades especiais. Uma trama de tema relacionado que já critiquei aqui no site foi Imagina…, da Mônica com a Dorinha, que é cega. Tanto ali quanto no presente texto, temos não só uma forma bonita de mostrar amizade entre crianças com diferentes habilidades ou inabilidades físicas, mas também a forma como lidam com isso.

Na referida história da Mônica com a Dorinha, ambas conversavam sobre imaginar as coisas em comparação ao que a outra conseguia ver. Aqui, a abordagem é mais divertida e tem mesmo a cara de um evento que acontece com qualquer criança. O Luca está jogando videogame com o Cebolinha e precisa ir ao banheiro fazer xixi (aliás, muito legal ver o Cebolinha chamando o Luca de “lodinha” depois de ser chamado de um apelido pelo amigo. Segue naquela linha de abordagem verdadeiramente infantil para o comportamento de todas as crianças aqui), mas a Mariazinha sobe na cadeira de rodas do menino e não quer mais sair.

O texto toma esse evento para fazer o pobre do Luca ficar cada vez mais apertado e ver as coisas basicamente atrasarem a sua ida ao banheiro. É engraçado ver o Floquinho em cena, o choro da Mariazinha, o Cebolinha tentando ajuda e a maneira como as coisas verdadeiramente terminam, justamente no “ponto molhado” que o Luca evitou o tempo todo. É… tem coisas que realmente são inevitáveis. Se não acontece um modo, acontecerá de outro.

Argumento: Jairo Marques
Roteiro: João Xavier
Arte: Diego S. A.
Arte-final: Cleber Salles
7 páginas

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Turma da Mônica: O Plano Infalível e

Floquinho: Pega!

Aqui nós temos três historias bem curtas, uma de três páginas; uma de duas páginas e outra de uma página — esta, escrita por Paulo R. Back e que mostra uma cena onde o Xaveco fala de um filme que viu na TV, onde um tornado sugava tubarões do mar, avançava para a cidade, parava de girar e os tubarões começavam a cair em cima das pessoas. Que tipo de Sharknado é esse?

Na historinha de três páginas (O Plano Infalível), escrita por Marcelo Verde, vemos o Cebolinha “pagar” por colocar todos os seus amigos em apuros, ao longo de todos esse anos. Com um papel na mão, ele sai encontrando os meninos do bairro e chamando para conversar, para mostrar “alguma coisa”, mas todos fogem dele. O trauma das coelhadas da Mônica certamente ficou marcado na mente de cada um. Acontece que, dessa vez, não se tratava de um plano infalível, embora a conclusão da história (que é hilária), mantenha esse “mito” em torno do Cebolinha, e isso é verdadeiramente engraçado porque ele está ao lado da Mônica, a grande vítima dos planos infalíveis.

Já a historinha de duas páginas (Pega!), assinada por André Simas, brinca com o fato de o Floquinho ter tanto pelo, que tudo o que ele pega se perde lá dentro. Essas histórias com os pets da turma, seja individualmente ou com algum humano junto deles, são sempre fofinhas e quase sempre muito bem escritas, por mais simples que sejam. Este é mais um caso.

Roteiro: Marcelo Verde (Turma), André Simas (Floquinho)
Arte: Carlos Quaresma (Turma), Sidnei L. Salustre (Floquinho)
Arte-final: Cristiane Colheado (Turma), Thiago Martins (Floquinho)
6 páginas

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Humberto: Quando o Talento Fala Mais Alto

Como vocês sabem, o Humberto é um personagem que não fala. Até hoje eu não sei, de fonte segura, se ele não fala porque ele é mudo ou porque ele não quer falar mesmo. Aqui, dá a entender que ele é mudo, pois o diretor de teatro onde ele vai fazer a peça pergunta algo sobre a fala do Humberto e as diretoras de elenco insistem em contratar o menino, reafirmando essa questão da fala e do talento. Se vocês souberem mais informações a respeito da habilidade de fala do Humberto, me digam, por favor.

O trabalho que Rogério Mascarenhas faz no enredo aqui é muito interessante, e devo chamar a atenção para o glorioso trabalho de letras realizado por Eliza T.K. Lacerda. Como o Humberto só murmura “Huuum Huuum“, uma das formas de ressaltar a qualidade dramatúrgica do personagem é utilizar os balões de fala e a estilização das fontes utilizadas em cada momento da peça. A gente acompanha com encanto as muitas emoções representadas e a forma como dispensam qualquer tipo de texto. Um trabalho muito bom que pode ser visto tanto pelo lado da necessidade especial (se o personagem não for mudo ele certamente representa um aqui) quanto pelo lado da construção narrativa de uma história, que não necessariamente precisa de falas… algo que a gente já viu em diversos exemplos disso nas próprias historinhas da MSP.

Roteiro: Rogério Mascarenhas
Arte: Altino O. Lobo
Arte-final: Thiago Martins
4 páginas

 

Cebolinha: Um Dia Chato

Finalizando a edição temos a história Um Dia Chato, de Roberto Munhoz. Ela parte de algo que pessoas de todas as idades já experimentaram: um dia chato. Crianças, principalmente, pela quantidade de energia que possuem, acabam se entediando bastante facilmente e é mais ou menos por esse caminho que vemos o roteiro dar partida no drama de ficção científica com algo de fantasia, referenciando abertamente O Pequeno Príncipe e, até onde eu consegui identificar, também apresentando algo de O Restaurante no Fim do Universo.

Aliás, fui só eu ou vocês também acharam que essa mulher segurando a caixa e perseguido pelos Trevosos seria chamada de Pandora? Talvez até tenha uma piscadela aqui, mas a mensagem central novamente ganha ares de fantasia e há um belo conceito lírico em torno da missão que o Cebolinha ajuda a concluir, levando a Luz para o lugar certo no Universo, a fim de impedir que uma “noite eterna” dominasse tudo. E melhor ainda: o final brinca com a dubiedade de tudo o que aconteceu com ele (foi mesmo um sonho?) para, alguns quadros adiante, confrontar o personagem com mais uma “coisa impossível” em seu dia. Nada mal para quem estava reclamando que o dia estava chato.

Roteiro: Roberto Munhoz
Arte: Fernando L. Campos
Arte-final: Thiago Martins
13 páginas

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