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Crítica | Cavaleiro da Lua: Primeiras Aparições – Parte 2 de 2

A forma final do super-herói.

por Ritter Fan
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Antes de aparecer em seu título solo no final de 1980, o Cavaleiro da Lua – que, no Brasil, foi originalmente batizado de Lunar, o Cavaleiro de Prata – figurou primeiro como antagonista e, depois, como anti-herói em quadrinhos de outros personagens e em histórias solo que foram objeto de meus comentários aqui, na primeira parte de minha dupla de artigos sobre as primeiras aparições do personagem. Nesta segunda parte, o super-herói foi de certa forma “relegado” a histórias secundárias na revista em formato grande The Hulk!, criada para a editora se aproveitar do sucesso da série de TV setentista do Golias Esmeralda.

Ironicamente, porém, foram nessas histórias secundárias da revistona do Hulk que o Cavaleiro da Lua acabou ganhando sua versão artística mais duradoura, além da pegada mais detetivesca que fez com que ele acabasse sendo conhecido como o “Batman da Marvel“. E, para encerrar todas as aparições do personagem antes de sua HQ mensal cujo primeiro número foi publicado em novembro de 1980, temos, também, a crítica da história solo do personagem publicada na HQ Marvel Preview #21.

Vamos lá?

The Hulk! #11 a 14

O elemento mais importante dessas primeiras aparições do Cavaleiro da Lua em uma história secundária em quatro edições na revista em formato grande do Hulk é o artístico. As edições #11 e 12 tiveram arte, respectivamente, pelas equipes formadas por Gene Colan e Tony Dezuniga e por Keith Pollard, Frank Giacoia e Mike Esposito, que, no agregado, trouxeram uma modificação pequena, mas importante no uniforme do personagem, “descolando” as pontas de sua capa de seus punhos (mantido por Jim Craig na arte de Marvel Two-In-One #52) e aumentando-a. No entanto, foi apenas na edição #13 que Bill Sienkiewicz famosamente começou a desenhar o Cavaleiro da Lua e, ainda que ele não tenha introduzido alterações no uniforme do herói, passou a trabalhar a capa em formato de lua crescente que se tornaria uma das mais marcantes assinaturas visuais do personagem. Além disso, ele de certa forma estabeleceu o que por muito tempo seria o “jogo de sombras” que quebraria o branco do uniforme, além de trabalhar o corpo de Marc Spector de maneira mais esguia e atlética do que antes.

É inegável, tanto com Colan e Pollard, quanto com Sienkiewicz, a inspiração no Batman no estilo clássico setentista de Neal Adams, porém, o que criou a conexão do herói da Marvel com o da DC Comics na cabeça de muitos fãs, algo que seria aos poucos desfeito com o trabalho de desenvolvimento do transtorno dissociativo de identidade de Spector e da origem do Cavaleiro da Lua conectado à mitologia egípcia. No entanto, no final da década de 70, isso ainda não estava claro, com a tripla identidade secreta do Cavaleiro da Lua não sendo mais do que “disfarces” usados de acordo com a necessidade, mesmo que Marlene mencione “esquizofrenia” em um ou dois momentos nessas histórias, mas sem maiores consequências.

Outro elemento importante para a conexão do Cavaleiro da Lua com o Batman nessas histórias secundárias tão importantes para o herói que ele ganhou na revista do Hulk é que a abordagem de Doug Moench, no roteiro deste primeiro arco de quatro edições, ter sido eminentemente detetivesco, com o super-herói começando com a investigação do roubo de uma estatueta egípcia do deus Horus (uma fortuita coincidência do que um dia seria desenvolvido para ele) e chegando até a uma trama terrorista quase apocalíptica com Nova York ameaçada por uma bomba nuclear, cortesia do vilão Lupinar, criado para a história e que, como o nome indica, tem conexão espiritual com o Lobisomem, personagem cuja HQ mensal o Cavaleiro da Lua primeiro apareceu. No entanto, essa história de detetive é rocambolesca demais, cansativa demais, o que esvazia sua potência, com um vilão que é mantido nas sombras quase até o final, somente para não oferecer ameaça relevante alguma para o Cavaleiro da Lua.

The Hulk! #11 a 14 (EUA, 1978/79)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Gene Colan (#11), Keith Pollard (#12), Bill Sienkiewicz (#13 e 14)
Arte-final: Tony Dezuniga (#11), Frank Giacoia (#12), Mike Esposito #12)
Editoria: Rick Marschall, Ralph Macchio, Jim Shooter
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: outubro de 1978 a abril de 1979
Páginas: 80 aprox. (total)

The Hulk! #15

Além da magnífica arte de Bill Sienkiewicz, a essa altura já perfeitamente adaptado ao Cavaleiro da Lua, o que espanta nesta história do super-herói é sua simplicidade. Nada de Nova York, nada de grandes vilões. Marc Spector vai, apenas, visitar um amigo que mora em uma enorme casa no interior do estado para observar, com ele, um eclipse da lua e, secretamente, aproveitar para ver o quanto isso afeta seus poderes que, nesse ponto do desenvolvimento do personagem, ainda vinham de seu encontro original com o Lobisomem.

O que acontece é que, quando o eclipse está a poucos minutos de começar, Spector vê três suspeitos se aproximarem da casa, fazendo-o desaparecer para vestir seu uniforme e descobrir suas intenções. Claro que o instinto de Spector estava certo e eram três bandidos com a intenção de assaltar seu amigo e ele, ao longo dos poucos minutos de eclipse, vai ao encalço deles, encontrando dois desacordados e livrando-se de um, somente para, ao final, sofrer um esbarrão particularmente forte de uma criatura grande nas sombras, o que faz cair no chão.

Esse final misterioso logo ganha esclarecimento na história seguinte. Sim, trata-se de uma história dupla com estrutura rashomônica, já que a segunda é vista sob o ponto de vista de Bruce Banner que, não demora, se transforma no Hulk para enfrentar os mesmo três bandidos que Spector vira espreitando a casa de seu amigo, com o eclipse confundido o Golias Esmeralda, que acha que a lua foi “roubada”. Descobrimos como o Cavaleiro da Lua encontra dois bandidos desacordados e, claro, quem, no breu total, acaba derrubando-o no chão, em uma abordagem original e singular.

The Hulk! #15 (EUA, 1978/79)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Bill Sienkiewicz
Arte-final: Bob McLeod
Cores: Steve Oliff
Editoria: Rick Marschall, Ralph Macchio, Jim Shooter
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: junho de 1979
Páginas: 20 aprox. (total)

The Hulk! #17, 18 e 20

A terceira e última história do Cavaleiro da Lua publicada na revista de grande formato do Hulk foi um arco de duas edições que introduziu Randall “Rand” Spector, irmão de Marc Spector, na mitologia do personagem, seguido de uma espécie de epílogo melancólico que, estranhamente, só saiu duas edições depois. Também com roteiro de Doug Moench, a história retorna ao ambiente urbano sujo e perigoso de Nova York para nos apresentar a um serial killer mascarado, sem camisa e que usa uma machadinha para matar enfermeiras uniformizadas, com nove vítimas já em sua macabra coleção.

Claro que o assassino é justamente Rand Spector, algo que o Cavaleiro da Lua descobre convenientemente demais por intermédio de sua persona taxista Jake Lockley e sua rede de informantes, conectando o vilão a um passado traumático de Marc como mercenário. Não gosto da facilidade com que Spector descobre quem é o assassino, mas a caçada que segue é sem dúvida muito interessante, especialmente quando Marlene faz questão de se disfarçar de enfermeira para servir de isca, com resultado quase trágico.

Nas duas primeiras edições, a arte de Bill Sienkiewicz ganha finalização de ninguém menos do que Klaus Janson e essa combinação quase mitológica de artistas faz com que elas sejam as melhores dessa fase inicial do Cavaleiro da Lua. O lápis de Sienkiewicz ganha ainda mais força e vida com as tintas de Janson e a natureza ameaçadora do vilão é amplificada, assim como a violência que ele inflige nas mulheres e em seu irmão.

A terceira edição, sem Janson na finalização da arte, é um raro epílogo quase sem ação em que o Cavaleiro da Lua, ferido, mas bem, vaga pelos telhados e ruas de Nova York durante a madrugada que segue ao seu enfrentamento do irmão, esperando para ver se Marlene sobreviverá ao ataque. Ele esbarra nas mais prosaicas situações, de um porteiro de prédio embebedando-se até uma senhor em situação de rua sendo atacada por um bandido, sempre com o roteiro de Moench emprestando uma abordagem pessimista, como se Spector entrasse em um beco sem saída e desesperançoso até o raiar do dia que traz a boa notícia em relação à sua amada. Uma bela maneira de encerrar a participação secundária do Cavaleiro da Lua na revista do Gigante Esmeralda.

The Hulk! #15 (EUA, 1979/80)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Bill Sienkiewicz
Arte-final: Klaus Janson (#17 e 18)
Cores: Olyoptics, Steve Oliff
Editoria: Rick Marschall, Ralph Macchio, Jim Shooter
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: outubro e dezembro de 1979 e abril de 1980
Páginas: 60 aprox. (total)

Marvel Preview #21

Marvel Preview foi uma das diversas publicações da Marvel Comics que servia de vitrine rotativa de personagens, fossem eles novos para testar as águas ou já veteranos, só que sem casa própria, exatamente o caso do Cavaleiro da Lua que só iria ganhar título exclusivo mensal a partir de novembro de 1980. Contando com a mesma dupla criativa das histórias secundárias de The Hulk!, ou seja, Doug Moench e Bill Sienkiewicz, o leitor é levado para mais uma narrativa que ilumina um pouco o passado de Marc Spector, desta vez como agente da CIA.

O catalisador de tudo é a chegada de uma misteriosa caixa na mansão de Steven Grant contendo nada menos do que o corpo de um antigo colega e amigo de Spector, levando-o a viajar ao Canadá para investigar um sanatório que servia de laboratório de experimentações de lavagem cerebral e controle mental da CIA, razão principal de Spector ter largado a companhia e se tornado um mercenário independente. A investigação, então, leva o super-herói, Marlene e Francês à França, onde precisam enfrentar um cientista maluco e sua criação trágica que o próprio texto de Moench classifica como sendo algo saído das páginas de Sob o Domínio do Mal, de Robert Condon, ou seja, uma arma humana que sequer sabe que é uma arma, graças ao condicionamento mental que recebeu.

Publicada em preto e branco, a história tem uma inspiradíssima arte de Sienkiewicz que trabalha também na arte-final ao lado de Tom Palmer e Dan Green, criando uma atmosfera detetivesca noir, com toques de filmes de horror dos anos 30 e 40. Talvez mais até do que em qualquer das artes anteriores do mestre para o Cavaleiro da Lua – não sei se em razão da ausência do colorido -, os contornos de um herói perturbado ganham mais saliências, algo que o roteiro de Moench amplifica com uma narrativa de fundo psiquiátrico que parece ser a primeira grande inspiração para finalmente levar o Cavaleiro da Lua a ser diagnosticado como portador de transtorno dissociativo de identidade, inclusive com o protagonista por diversas vezes dizendo que não sabem quem é, ainda que a pegada, aqui, cambe mais para o lado metafórico da coisa.

Marvel Preview #21 (EUA, 1980)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Bill Sienkiewicz
Arte-final: Tom Palmer, Bill Sienkiewicz, Dan Green
Editoria: Lynn Graeme, Ralph Macchio, Jim Shooter
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: março de 1980
Páginas: 41

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