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Crítica | Cascavel (2019)

por Leonardo Campos
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As cascavéis figuram em nosso imaginário como um dos répteis que causam mais temores nas pessoas que um dia tiveram o desprazer de cruzar com tais criaturas tão assustadoras e agressivas. Nome genérico dado para um determinado grupo de cobras peçonhentas, a tal representante do mundo das rastejantes é famosa por seu chocalho que mite o assustador som que para a linguagem cinematográfica, é uma fonte de alegorias para a morte, um aviso bem peculiar com a finalidade de advertir sobre a sua presença. Espalhada por toda extensão territorial do continente americano, as cascavéis também são conhecidas pela peculiar cabeça triangular e revestimento cheio de losangos e hexágonos. Com olfato aguçado e capacidade de sentir vibrações na superfície, esses seres causam repulsa e pavor em muita gente, além de ter uma carga simbólica considerável para incentivar criação de enredos com pitadas de suspense e horror, físicos ou sobrenaturais. Cascavel, produção do Netflix lançada em 2019, constrói a sua aposta em torno deste imaginário, mas alcança resultados abaixo do esperado.

Guiado pelo próprio roteiro, em Cascavel, o cineasta Zak Hildtch nos apresenta uma premissa com poucas chances de se deslanchar numa história além de um curta-metragem. Numa atmosfera sombra que me remeteu constantemente aos filmes inspirados na obra de Stephen King, acompanhamos a trajetória angustiante de Katrina (Carmen Ejogo), mulher confrontada por uma situação peculiar e pouco convencional. Ela e a filha viajam por uma estrada desértica e a menina pede que a mãe pare o carro por um instante para que ela possa cumprir as necessidades fisiológicas que seu corpo demanda. O inesperado é que em determinado momento, a garota grita e conta para a mãe que foi picada por uma cobra. Ainda perto do local do bote, a cascavel serpenteia pelo solo e demonstra-se arredia com o seu chocalho.

Desesperada, Katrina precisa encontrar a força necessária para não perder a filha. Como medida, encontra um trailer relativamente próximo e recebe a ajuda de uma misteriosa mulher que “salva” a menina, mas exige algo em troca. Katrina precisará, em um espaço relativamente curto de tempo, ceifar a vida de alguém. É o que a entidade sinistra intermediária exigiu para que a mãe obtivesse a salvação da menina. E agora? Como proceder? Para quais caminhos a narrativa trilhará? É o que acompanharemos ao longo dos breves 82 minutos de Cascavel, uma produção com primeiro ato carregado de muita tensão, algo que se desvanece do meio para o final, quando percebemos que a história continua a se desenvolver sem ter, de fato, conteúdo relevante para continuar. Cada etapa da jornada de Katrina para tomar coragem e agir em nome da filha é observada com apreensão, mas depois de certo tempo, começamos a perder interesse pela história que fornece indícios de encerramento sem problematizar bem os debates que propôs.

Em seus requisitos técnicos, o filme capta bem os espaços amplos da estrada que nos remete aos traços geográficos tipicamente texanos. Robert Schaefer, na direção de fotografia, cumpre bem o seu trabalho ao se deslocar pelos espaços e transformar a saga de Katrina numa história visualmente eficiente, setor complementado pelo design de produção de Geoff Wallace, em consonância com os tons empregados pela iluminação, em alguns momentos esverdeados (um clichê universal para a indicação de esperança?) e sépia, tonalidade que emula o tom do espaço geográfico em que subsidia a narrativa. Acompanhadas pela condução sonora de Ian Hultquist, os personagens de Cascavel trafegam por uma trama que flerta com a serpente, constantemente onipresente, em seu status de entidade, tendo em vista tratar da própria dualidade representada pelo réptil em nossa cultura. Com encerramento simplório, o filme promove um debate sobre até que pontos somos capazes de não racionalizar nossa postura para salvar quem nos é muito caro. Intrigante, mas Zak Hildtch não sai disso, numa demonstração da sua falta de habilidade com o enredo que talvez pudesse ir além do que o apresentado em seu desfecho…comum demais.

Cascavel (Rasttlesnake) — Estados Unidos, 2019
Direção: Zak Hildtch
Roteiro: Zak Hildtch
Elenco: Carmen Ejogo, Theo Rossi, Emma Greenwell, Apollonia Pratt, Debrianna Mansini, Bruce Davis, Rio Alexander, Spencer Mabrey, Josh Kemble, Alexandra Nell
Duração: 85 min.

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