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Crítica | Casamento ou Luxo

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Uma aposta para Charlie Chaplin, Casamento ou Luxo foi seu primeiro drama, já anunciado pelo seu título original A Woman in Paris: A Drama of Fate. O que nem todos sabiam na época, contudo, é que o próprio Chaplin não apareceria na obra, fazendo apenas uma pequena ponta que passa quase que totalmente despercebida pelas audiências. Esta ausência do diretor como ator, explicitada já em uma primeira cartela do longa-metragem, acabou prejudicando a receptividade da obra pelo público, chegando a abalar o autor que já era bastante popular.

Não obstante, o filme recebeu críticas positivas e passou a representar um marco histórico, não só por ter sido a primeira produção do gênero por Charlie, como pela maneira que a narrativa se desenrola. Após os curtos créditos iniciais nos deparamos com Marie St. Claire (Edna Purviance), uma jovem francesa cuja vida é completamente controlada pelo pai. Após ter sua tentativa de fugir com o amante frustrada, a moça viaja a Paris, onde passa a morar. Um ano depois nos encontramos com uma mulher vivendo uma vida de luxo, acompanhada por um bon vivant endinheirado. A protagonista, contudo, chega a uma encruzilhada quando se vê tendo de escolher entre o casamento e sua vida atual, nos remetendo imediatamente ao título traduzido.

O que primeiro chama a atenção em Casamento ou Luxo e já constitui seu valor histórico é o foco nas emoções dos personagens, que por si só conseguem levar a narrativa. Acompanhamos um curto espaço de tempo e uma trama bastante novelesca que se apoia quase que unicamente nos olhares de cada ator. Chaplin se prova como um diretor versátil, saindo do seu gênero de costume e trazendo consigo os elementos que aperfeiçoou ao longo dos anos. Embora estejamos falando de um período pequeno, muitos eventos ocorrem e a evolução de cada personagem de destaque é palpável. Automaticamente remetemos às dinâmicas histórias criadas pelo autor, encadeando diferentes situações e criando uma notável coesão narrativa, ao exemplo de Pastor de Almas.

Aliando-se ao trabalho de direção para compor a trama deste drama temos a presença da marcante trilha composta por Eric Rogers, que define a cada sequência o tom desejado, explicitando-o e possibilitando um ainda maior entendimento por parte do espectador. Muitas vezes nos pegamos prestando atenção em cada mudança na melodia, que mistura o clássico com o jazz swing, praticamente nos transportando para os anos 1920. Com esse fator em mente é de se notar, também, que as músicas, muitas vezes, se misturam com o ambiente, tornando-se praticamente diegéticos, em especial nas sequências festivas.

Sedimentando essa notável imersão temos o trabalho de fotografia, que não se intimida mesmo nas cenas noturnas, compondo cenas visualmente impactantes. A câmera parada, vez ou outra exibindo sutis movimentos, nos traz enquadramentos precisos que conseguem positivamente chamar a atenção, mesmo diante da montagem clássica. Novamente reitero a importância dos olhares na obra, elemento que é constantemente dado destaque pela fotografia que entende a sutileza da narrativa em questão.

Atípico para a época, Casamento ou Luxo, foi feito para elevar chamar a atenção para Edna Purviance, mas consegue destacar, sim, seu diretor. Chaplin não recebeu o reconhecimento do público, mas entrou mais uma vez para a história, demonstrando não só sua inovação como diretor, como roteirista. Através de uma história coesa e discretamente conduzida, acompanhamos este drama de uma mulher em Paris e somos completamente cativados por ela, chegando a nos surpreender que o filme conta apenas com setenta e oito minutos e sendo capaz de nos transmitir tanto. Definitivamente a frente de seu tempo.

Casamento ou Luxo (A Woman in Paris: A Drama of Fate – EUA, 1923)
Direção: Charles Chaplin.
Roteiro: Charles Chaplin.
Elenco: Edna Purviance, Clarence Geldart, Carl Miller, Lydia Knott, Charles K. French, Adolphe Menjou, Betty Morrissey, Malvina Polo
Duração: 78 min.

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