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Crítica | Casa dos Corvos (House of Crows), de Lisa Unger

Quando o passado retorna para assombrar.

por Ritter Fan
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Como é o caso de O Menino da Caixa de Ferro, o romance Casa dos Corvos, de Lisa Unger, é um thriller originalmente publicado pela Amazon Original Stories, braço de obras inéditas e exclusivas do conglomerado de Jeff Bezos para fortalecer o serviço de assinatura Kindle Unlimited, em quatro grandes partes, todas lançadas no mesmo dia (All My Darkest Impulses, Fog Descending, Circling the Drain e Love the Way You Lie). Nela, Unger conta a história de quatro amigos que há muitos anos se afastaram e que guardam um segredo de quando eram crianças tendo que se reunir novamente quando a ameaça do passado ressurge no presente, com eles todos adultos, uma premissa que é consideravelmente comum, especialmente em obras de horror, com It – A Coisa logo vindo à mente, especialmente no que se refere à forma como o presente e passado dos personagens convergem.

No entanto, diferente da magnus opus do prolífico Stephen King, a obra de Unger é, naturalmente, bem menos ambiciosa, ainda que faça excelente uso dos clichês básicos que a premissa normalmente atrai. O grande trunfo na manga da autora é trabalhar, em primeiro lugar, com cada um dos quatro personagens centrais construindo narrativas que parecem completamente separadas. Temos o professor Matthew Merle que teve sua vida destruída por um escândalo e precisou se mudar com esposa e filha para a mansão ancestral abandonada de seu avô que está caindo aos pedaços; a psiquiatra Claire, que é violentamente atacada por um de seus pacientes durante uma consulta; o espiritualista viúvo Ian Randall que, durante um trabalho de “limpeza espiritual” de uma casa, depara-se com uma visão de seu passado e, finalmente, Mason Brandt, que fora acusado de envolvimento no desaparecimento de uma jovem há anos e que se vê envolvido na morte de uma jovem que ajuda no centro em que trabalha.

É natural, para o leitor, esperar que cada uma das narrativas converse intimamente com a outra, mas o que Unger faz é um cuidadoso e eficiente trabalho que impede a mistura imediata das histórias, usando cada uma das três primeiras partes de seu romance para, ao mesmo tempo, lidar com os referidos personagens no presente e no passado e fazer a narrativa macro, no presente, caminhar como consequência do que o leitor vai aos poucos aprendendo sobre os amigos separados por um passado incrementalmente mais macabro e assustador. Inevitavelmente, porém, a “Casa dos Corvos” do título, ou seja, a decrépita Mansão Merle para onde Matthew e sua família se mudam, funciona como o foco de todas as atenções, como a materialização de um passado que todos tentam esquecer e um lembrete de que ele está ali, a espreita, só esperando para mais uma vez subir á superfície da mente dos adultos que tiveram que crescer talvez rapidamente demais.

E, com isso, Lisa Unger vai, com maestria, usando os subgêneros do horror – casa mal assombrada, espírito do mal, horror psicológico e outros – para contar uma história que é, mesmo com sua bem-sucedida tentativa de começar com narrativas consideravelmente distantes uma das outras, surpreendentemente coesa e lógica, que leva a um final à la Agatha Christie em termos de encenação que, pode não ser o mais original ou surpreendente do mundo, mas que decorre de tudo o que foi estabelecido antes, sem invencionices de último segundo. Casa dos Corvos é, quando viramos a última página, uma daquelas histórias que sem dúvida já lemos ou vimos antes, mas que a autora reconta imprimindo sua verve e sua voz e retrabalhando tropos do gênero de maneira inteligente e cativante, mais do que podemos dizer de muitos autores atuais que enveredam por esse caminho.

Casa dos Corvos (House of Crows – EUA, 2021)
Autoria: Lisa Unger
Editora original: Amazon Original Stories
Data original de publicação: 27 de maio de 2021
Páginas: 294

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