Então, o primeiro filme Carros comparativamente em uma revisão diante de Carros 2 se torna uma paródia controlada, bem dramatizada a partir da verossimilhança do universo de Carros da Pixar. Todas as referências adaptativas do mundo real que se torna uma homenagem, tornando a geografia falar e a jornada do herói complementar, é o que fez o projeto inicial em 2006 fazer tanto sucesso, mas sem muita efetividade em sua sequência, pois Carros 2 é o completo oposto.
Nessa nova aventura de Mcqueen e Tom Mate a referência cinematográfica é a base, não mais da realidade, tornando a paródia da paródia, que no descontrole do diretor John Lasseter e seu co-diretor Brad Lewis acabam por deixar de homenagear com impulsionamento para inconsequentemente virar um pastiche. Quando o efeito da narrativa é exclusivo no tratar com estereótipos é natural tal fonte se esgotar por já ser limitada. Logo, quando se mistura vários estereótipos, com pelo menos três discursos dramáticos entre temáticas primárias e secundárias dentro da história, o ciclone de resolução esfarela e sobra o de fato sempre foi: uma comédia em potencial, colocando todo o trabalho visual elaborado como proposta de drama se fragilizar até a linha de chegada.
Felizmente, pelo caráter da linguagem de Carros ter sua interface de verossimilhança arraigada, o filme consegue sustentar sua conclusão como sequência apostando nessa raiz referencial ao cinema de espionagem, por exemplo, se assimilando a uma homenagem mais direta aos filmes estadunidenses que retratavam agentes secretos da MI6, CIA ou FBI. Desse jeito o longa animado se traduz no início de maneira empolgante e apreço artístico de criar cenas criativas de ação com articulações automobilísticas, acompanhadas pela trilha sonora alá James Bond composta por Michael Giacchino. Pois o trunfo maior do diretor Lasseter para o sucesso de Carros sempre foi tornar o entretenimento lúdico em formatação de maquete digital realista para exercitar sua homenagem as estradas e ao valor de se aventurar. Logo, a paródia internacional, com Japão, Itália e Inglaterra redimensionadas em 3D, e com espiões é a construída representação que reflete de outra maneira dessa brincadeira de criança que John também trazia em Toy Story, realmente com brinquedos sem suspensão de descrença.
No entanto, o tom dramático do tema da amizade reflete uma humanização que os filmes de Buzz e Woody tinham por ser assumidamente brinquedos de criança, não carros num mundo verossimilhante que vira imitação adaptada da realidade, sempre no limiar de uma paródia. No mundo de apenas automóveis o espaço de Radiator Springs, o romance do herói Relâmpago Mcqueen com moderna Sally e a experiência histórica completa de um militar rivalizando com um hippie são pontos humanizantes, mas eles se refletem nas interações práticas de cada carro, não num drama emocional com base essencialmente no visual que cada automóvel é criado, como um brinquedo que precisa de assumir brinquedo para uma criança. Logo, soa incoerente e ousadamente distante da realidade tentar criar um discurso de aceitação dentro de Carros 2 para o personagem Mate, caipira forjado como um guincho desde do início da franquia. E junto a essa narrativa instigar algo mais complexo quanto os combustíveis e a natureza de carros de corrida. Tudo isso parece mais uma desculpa para justificar uma homenagem ao cinema de espiões dentro de uma trama mais elaborada, o que fica amplamente estranho um filme de referências buscar justificar sua paródia inerte, como linguagem, que é reativada para se manter inerte.
Por isso, Carros 2 é uma obra que vai se matando, vai explodindo o motor quanto mais coloca-se o famoso Allinol, combustível alternativo ficcional criado para o filme. Quanto mais o filme finge ser alternativo mais na verdade se mostra petróleo antigo de sua referência ao cinema da década de 50 e 60. O álcool para limpar o motor cinematográfico poderia ser a complacência de se assumir uma aventura de espionagem, quando na verdade todo o malabarismo visual e de montagem almeja um drama de Tom Mate, uma desconstrução do caipira que nunca de fato acontece, ao ponto do filme tornar cômico seu discurso de aceitação quando serve também para os vilões que tem um estilo de carro ultrapassado. Em geral, nem se quer modernizar como não se pode dentro de um mundo Pixar centrado em motores à base de gasolina.
Amargamente a diversão lúdica pode até ser inocente para se exigir discursos coerentes pelo espectador, mas o julgamento do entretenimento se vale em como a própria brincadeira fica fatigada com uma narrativa que não se centraliza em sua descentralização de temas. Nenhum público ou criança se diverte numa bagunça proposital que tenta se consertar na base do drama. Até para levar a sério os carrinhos precisa-se de coerência na criatividade do espaço da maquete que não se contenta com estereótipos esgotáveis na brincadeira.
Carros 2 (Cars 2) – EUA, 2011
Direção: John Lasseter, Brad Lewis
Roteiro: Ben Queen
Elenco: Larry the Cable Guy, Owen Wilson, Michael Caine, Emily Mortimer, Eddie Izzard, John Turturro, Vanessa Redgrave, Bonnie Hunt, Tony Shalhoub, Franco Nero
Duração: 106 min.