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Crítica | Capitão Feio – Tormenta

Camadas vilanescas.

por Luiz Santiago
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Dando sequência aos eventos de Identidade (2017), Capitão Feio – Tormenta, de 2019, explora a vida do personagem-título a partir de sua nova relação com os poderes (ou a perda deles) e de sua relação com a sociedade, com o poder público… e consigo mesmo. Se na primeira Graphic MSP tivemos um foco muito forte no estabelecimento das qualidades e defeitos desse indivíduo, fazendo-nos repensar sobre o seu alinhamento moral, impulsos e desejos como pessoa, aqui em Tormenta vemos o Capitão Feio acuado, vivendo em um cenário de tormenta literal e metafórica, o que caracteriza um dos pontos mais interessantes dessa aventura concebida por Magno Costa (roteiro) e Marcelo Costa (arte).

Eu tinha levantado, na crítica anterior, o fato de Identidade ser uma MSP muitíssimo diferente dentre as que tivéramos até aquele momento. Pois bem, mesmo que a história da presente edição não tenha me atraído tanto quanto a anterior, devo dizer que o mesmo excelente trato dos autores para as citações e piscadelas referenciais na história ainda se fazem presentes, e de maneira orgânica e inteligente. Isso é importante destacar porque não é segredo para ninguém o quão problemática tem sido a moda de muitos artistas, nas mais diferentes áreas, procurarem enfiar referências em todos os lugares muitas vezes de forma vazia ou que atrapalha bastante a narrativa. Para nossa alegria, isso não acontece aqui.

De uma fantástica presença (com diversos significados dentro da história) do filme Três Homens em Conflito, vamos até ligações com elementos do Universo novo e clássico dos personagens de Mauricio de Sousa, desde localização de um bom momento em Astronauta – Assimetria, até a presença muito bem utilizada de personagens ligados ao Capitão Feio nos quadrinhos da turma, como o vilão da edição, Cumulus (que estreou em Mas é o Cúmulo Mesmo!, Cascão #38, Panini, 2010), extremamente assustador aqui; o Doutor Olimpo (que estreou em O Inimigo Nº1, Cebolinha #42, Abril, 1976); as gêmeas Cremilda e Clotilde (que estrearam em Mania de Limpar Cascão, Cascão #1, Abril, 1982), e foram muitíssimo bem retrabalhadas; e, por fim, uma das melhores entradas e modificações já feitas nessas novas edições das Graphic MSP, as criaturas de lixo, que estrearam em O Capitão Feio no Reino do Bueiro (Cebolinha #41, Abril, 1976).

O jeito que Magno Costa colocou as criaturas de lixo falando, e a relação dessas criaturas com o Capitão Feio foi algo que me pegou de surpresa. Eu realmente não imaginava que veria algo encaminhado para o lado emotivo, mas foi justamente o que aconteceu aqui, e da forma mais fofa possível. Primeiro que o desenho de Marcelo Costa para as criaturas de lixo são ótimos. Eles são bizarros, feios e têm a cara de sujeira que deveriam ter, mas são estranhamente aprazíveis. Como o Capitão Feio é esse personagem cheio de tons cinzas em relação ao alinhamento moral, o mesmo se dá com a nossa percepção para as criaturas, que ainda ganham um adicional de proximidade do leitor por serem viciadas em televisão e por falarem de um jeito bastante peculiar, utilizando palavras-chave que tornam sua comunicação rudimentar, mas perfeitamente compreensível.

Como disse no começo, gostei bem mais de Identidade do que de Tormenta, e tenho a impressão de que isso se deu por não ter recebido assim tão bem a inserção do flashback sobre a vida passada do personagem — não que não seja interessante, nada disso. Mas por ser um rápido e isolado momento da história… me pareceu uma quebra desnecessária — e talvez pela divisão de importância entre o bloco de Cumulus vs. Capitão Feio e… Capitão Feio vs. Doutor Olimpio. Imagino que seja uma situação-armadilha para os autores, mas enfim, acabou afetando negativamente a história, para mim. Por outro lado, gostei dos blocos com a presença do Cascão, no tempo presente, vendo as notícias sobre o Capitão Feio. O cameo da Turminha e, depois, no final, a cara do Cascão ao ouvir a confirmação sobre a identidade do “vilão” me quebrou o coração. Isso deixou o encerramento reticente, é verdade, mas com pinta de “vem mais coisa por aí“. E eu não vejo a hora disso acontecer.

Capitão Feio – Tormenta – Brasil, dezembro de 2019
Graphic MSP #25

Roteiro: Magno Costa
Arte: Marcelo Costa
Cores: Marcelo Costa
Cor-base: Mariana Calil
Assistente de cor: Rod Fernandes
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98

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