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Crítica | Caçada no Canal da Morte

Depois do Papai Noel, dos policiais e palhaços... o mergulhador assassino?

por Leonardo Campos
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Quando criança, nos diversos passeios realizados pelas locadoras de filmes que existiam em pontos variados da rua em que morava, sempre observei a disponibilidade da fita VHS de Caçada no Canal da Morte, mas jamais tinha pensado na produção como uma possibilidade dentro do segmento slasher, o meu preferido na época, responsável por transformar o que era apenas entretenimento em profissão, como nos dias de hoje, seja no exercício da crítica ou nas dinâmicas em sala de aula como docente de diversas linguagens. Em minha concepção de cinema ainda incipiente, vi a narrativa como um policial que interessaria, talvez, aos meus pais, mas jamais pensei no filme como uma opção de entretenimento dentro daquilo que era meu passatempo predileto: as histórias de terror. Lançado recentemente no Brasil em DVD, integrado numa coleção com outros filmes do subgênero slasher, a trama que mescla elementos policiais investigativos com o sequenciamento de mortes perpetradas por uma figura misteriosa trajada de mergulhador foi, então, redescoberta. Se pensado em seu ano de lançamento, podemos acoplar o filme no segmento do Slasher Tardio, conjunto de narrativas produzidas e exibidas numa fase de desgaste do segmento, mergulhada nas constantes continuações de A Hora do Pesadelo, Halloween e Sexta-Feira 13, os mais bem-sucedidos da época.

No filme, um misterioso assassino começa a deixar uma extensa trilha de corpos ao acaso, espalhando corpos em diversos pontos dos canais de Amsterdã. O caso atrai o investigador Eric (Huub Stapel), um detetive que vai a fundo na questão para descobrir quem está por detrás destas mortes terríveis, expostas pelo trabalho de maquiagem e supervisão de efeitos de Sjoerd Didden, profissional que não poupa sangue e demonstração sanguinária da ação do antagonista assustador que utiliza uma roupa de mergulhador. Aqui, um traço peculiar do “monstro” é a sua fuga. Após cometer os seus crimes, a figura se bifurca pelas caudalosas águas escurecidas destes canais, desaparecendo e tornando a sua captura complicada. Os realizadores trocam os arbustos e árvores frondosas de alguns slashers tradicionais por este desafiador espaço e o resultado é uma missão ainda mais cheia de obstáculos para as forças policiais.

A primeira vítima, uma prostituta, torna-se a experiência do que será exposto aos personagens mais adiante. Exibido, o assassino aqui investe não apenas na aniquilação dos corpos, mas também trabalha a sua exposição pública para deixar a população paranoica, com a sensação de medo e pânico circundado pelas ruas do local. Como já é de se esperar, o detetive possui problemas em sua vida pessoal e esta subtrama preencherá os espaços entre um assassinato e outro em Caçada no Canal da Morte, deslocamento de foco que não chega a atrapalhar, mas também não é desenvolvido de maneira suficientemente atrativa, tornando a história do protagonista um elemento adicional que não nos envolve tanto. Ademais, evitado pela sociedade após um acidente que o deixa deformado, o assassino tem a sua motivação revelada conforme os padrões do subgênero, após digladiar com o personagem principal. A vingança move a história e justifica os seus crimes ocasionados por um grande transtorno do passado. E só.

Situada na chamada Veneza do Norte, espaço narrativo tão desafiador para os personagens quanto os distantes acampamentos e casas situadas em zonas distantes dos grandes centros urbanos, Caçada no Canal da Morte é angustiante pelo obstáculo proposto pelo antagonista ao longo de suas ações durante os 105 minutos de narrativa que poderiam, sem prejuízo dramático, ser um pouco mais reduzido, haja vista a necessidade de enxugar mais algumas passagens que considerei desnecessárias para o ritmo do filme. Uma figura misteriosa que emerge dos mais diversos pontos deste lugar que é conhecido pela média de 1500 pontes, 90 ilhas e 100 quilômetros de extensão é algo tão desafiador quanto lidar com uma fera assassina ao estilo Tubarão, clássico horror ecológico dirigido por Steve Spielberg, salvaguardadas as devidas proporções comparativas por aqui, combinado, caro leitor? Estes canais cavados desde o século XII são imponentes, contemplados pela direção de fotografia de Mark Felperlaan, assertiva em seus movimentos e enquadramentos, em especial, no uso do ponto de vista que nos deixa diante dos obstáculos enfrentados pelos personagens. Benedict Schillemans, com sua concepção visual no design de produção, também faz o bom trabalho. Uma equipe reunida pelo bom desenvolvimento de uma história que é boa, mas poderia ter sido melhor. Em linhas gerais, acima da média para o que era produzido na época.

Caçada no Canal da Morte (Amsterdamned/Estados Unidos– 1988)
Direção: Dick Maas
Roteiro: Dick Maas
Elenco: Hidde Maas, Huub Stapel, Monique van de Ven, Serge-Henri Valcke, Tanneke Hartzuiker, Barbara Martijn
Duração: 114 min.

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