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Crítica | Cabana do Inferno 2

Ti West e o infame regresso ao trash.

por Felipe Oliveira
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Quando lançado em 2003, Cabana do Inferno, filme escrito e dirigido por Eli Roth, surfava na onda de remakes dos slashers, ainda assim, bebia das características que marcaram a era de ouro para o subgênero. Neste caso, o longa iniciava com uma introdução semelhante a O Massacre da Serra Elétrica (1974) — vide a estrutura do grupo de amigos na estrada enquanto seguem para um destino específico —, depois, incrementava elementos de Sexta-Feira 13 (com claras alusões a cena final do primeiro filme, além da sequência em que um casal é empalhado numa cama no segundo capítulo). Ter esse desenvolvimento empolgava para onde Roth conduziria seu longa de estreia, já que, inserir aspectos do revolucionário filme de Tobe Hooper remetia a organização precursora presente do slasher, e já com a saga de Jason, a tentação que deu popularidade.

Contudo, Roth ia aos poucos desconstruindo essa impressão inicial, mas sempre mantendo por perto o mote que polemizou a safra de Friday 13th: o assassino com máscara de hóquei que ceifava os jovens inconsequentes, desligados em sua vaidade e luxúria. Com uma abordagem que não tinha vergonha em ser caricata, de brincar com humor ácido e se desprender de toda lógica a fim de explorar ridiculamente as possibilidades da trama, Roth trouxe um filme de terror onde a presença de uma infecção altamente contagiosa revelava o “vilanismo” da sociedade frente a insegurança e medo. Apesar de parecer uma paródia, como a infecção atingia o grupo de amigos que só queria aproveitar a ida a um chalé, se fez uma das melhores dinâmicas da premissa.

Em sua formação diretorial que buscava remontar características marcantes do cinema em seus filmes, da fase setentista vista em A Casa do Diabo (2009), Ti West escolheu o terror trash da década de oitenta para vestir Cabana do Inferno 2, sequência sem o envolvimento de Roth e que é um forte exemplo de como Hollywood consegue estragar ideias originais através da exploração em forma de franquia. Ainda que fosse um filme que não funcionasse para todos, Roth recebeu com o tempo o reconhecimento, sendo seu filme visto como um clássico dentre às várias categorias que se debruçava. Mesmo tendo o trash para inspiração, Cabin Fever: Spring Fever mais parecia um coming of age de comédia teen com ares de besteirol americano e que beirava similaridades com Madrugada dos Mortos — até mesmo na fotografia de cores estouradas.

Dito isso, é algo simplesmente grosseiro como West retomava a trama de contaminação generalizada e aplicava sobre um contexto banal da juventude leviana e promíscua, não pela ideia, mas por sua execução. De certo modo, havia um potencial no roteiro de Joshua Malkin que se tivesse sido dirigido pelo mesmo West que se fez notório pela criação de uma narrativa lenta, poderia ter mais aceitação em vez de aversão para um filme de nível tosco e descontrolado. As referências para Exército de Extermínio (1973) foram mais notórias do que no primeiro filme, e além das nuances com Dawn of the Dead, West concentrou o ápice do longa no baile de formatura do colégio local.

As referências a Carrie, a Estranha (1973), com o cenário do baile, George A. Romero (os agentes de controle de contaminação) e a releitura ambiciosa de Zack Snyder de O Despertar dos Mortos, fizeram uma boa combinação que explodiu literalmente a um surto apocalíptico e sanguinolento movido por um contágio visceral. Nesse sentido, a direção acertava por apresentar um clímax eufórico e coletivo, com direito a melodramas e toques de survive movie, porém, fracassava na diferente abordagem sem censuras em comparação ao gore divertido e irônico de Roth.

Se no longa original viamos os personagens sofrerem com a paranoia de se contaminarem, principalmente com doenças venéreas (a cena do protagonista se esterilizando com antissétipico bucal pontuava o desespero), em seu filme, West dava a audiência demonstrações gráficas da infecção se expandindo, numa crítica a imprudência sexual e falta de senso para objetos compartilhados, contudo, essas escolhas serviram para desfocar qualquer discussão pretendida e enfraquecer o desenvolvimento. O ponto é que Roth conseguia jogar com várias influências e ainda prender a atenção para como terminaria, enquanto West pensou em uma sequência explícita, sem saber como fazer jus a um clássico ácido e desmedido.

Sem entender o impacto, em seu quarto filme como diretor West, West metia os pés pelas mãos ao querer dar continuidade a um marcante e corajoso filme de terror, ao passo que ainda tentava definir seu estilo. Desespero? Oferta irrecusável? Seja qual foi o motivo, Cabana do Inferno 2 é lembrado como aquela sequência que nunca nem deveria ter sido escrita.

Cabana do Inferno 2 (Cabin Fever: Spring Fever – EUA, 2009)
Direção: Ti West
Roteiro: Joshua Malkin (numa história de Ti West e Randy Pearlstein)
Elenco: Noah Segan, Alexi Wasser, Rider Strong, Rusty Kelley, Marc Senter, Giuseppe Andrews, Michael Bowen
Duração: 86 min.

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