SPOILERS!
No auge da fama de Toy Story, a animação Buzz Lightyear do Comando Estelar, lançada direto para home video, surge como uma estratégia da Pixar para entrar no mercado de VHS, e consequentemente no futuro, na TV, quando o sucesso da fita influenciaria logo posteriormente a criação de uma série própria do personagem em outras aventuras. A série transformaria esse filme numa espécie de piloto não oficial – por isso o subtítulo “A Aventura Começa” – que foi reexibido sobre a divisão de três capítulos, mas em essência, essa aventura isolada está muito mais relacionada ao misticismo entorno do seu personagem e a histórias que contava sobre o comando estelar enquanto era brinquedo na duologia principal.
Até por questões orçamentárias e temporais, não seria possível contar essas aventuras no mesmo 3D utilizado nos filmes lançados para o cinema, mesmo assim, existiu uma preocupação inicial dos criadores em correlacionar os diferentes universos através de uma criativa metalinguagem. Trata-se de Woody com os demais brinquedos da franquia, colocando a fita da animação que teríamos acabado de ver para eles mesmos, ou seja, um desenho dentro do desenho, assim a tridimensionalidade original não era quebrada. Uma pena que a preocupação é somente inicial, dando a impressão protocolar por estar apenas na primeira cena do filme. Poderiam muito bem ter feito outra ao final com os personagens reagindo ao filme no desenho, fica uma lacuna dessa correlação.
Enfim, falando da animação em si, não há muitas especiarias. A trama é bastante simples e eficiente em sua proposta, lidando com os elementos clássicos da narrativa do herói escoteiro espelhada em Buzz Lightyear. O astronauta intergaláctico em sua constante batalha contra Zurg – que infelizmente não é seu pai, pelo menos nesse filme – perde seu parceiro em combate e reluta a envolver algum novo membro do Comando Estelar na ajuda para o confronto. Obviamente, surgem outros personagens à disposição desse título de “parceiro” do Buzz que irão quebrar essa redoma de egoísmo e altruísmo dele na construção de um time. É legal essa construção dramática durante o filme, especialmente quando se considera a revelação ao final de traição de seu parceiro para o lado escuro da “força”, que é o divisor de águas da jornada do personagem.
Levando em conta o tom leve para crianças, é uma sacada interessante para conglomerar os arcos narrativos propostos. Meu problema com o desenho está mais voltado na preguiçosa criação de universo, que inclui a apresentação das funcionalidades do Comando Estelar e o reino do grande vilão. Tudo soa muito jogado ou conveniente ao momento de trama. Se o Buzz desse filme fosse tão boboca como quanto em Toy Story tudo bem, poderia fazer parte da lógica funcional do personagem, mas como foi estabelecido de que se trata de um outro universo, ele poderia e conseguiria ser melhor apresentado e desenvolvido do que foi.
Especialmente porque ele é bem convincente, visualmente falando. Gosto muito do estilo de desenho adotado nessa leva do final dos anos 90 para início dos 2000, um cartunesco mais sujo, com traços mais robustos e uma criação de design que não tinha medo de ser impactante em suas imagens. Lembra muito Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis, considerando o grotesco, por exemplo, dos parceiros de Zurg, ou do próprio Zurg. Eles poderiam – e como são – nem ser tão ameaçadores pelo que a história demostrava, mas para a criança, quando se deparar naquela imagética, essa sensação já era passada inconscientemente. Isso vale para os heróis também, a turminha do Buzz é bastante icônica mesmo não sendo lá tão carismática quanto seu protagonista.
No fim, o carisma e simpatia do longa passa muito por ele e pela possibilidade de ver as histórias que ele contava lá no primeiro filme, em carne e osso. É um filme divertido para quem é fã de Toy Story – o que não é meu caso –, até mesmo um deleite e marco para a infância.
Buzz Lightyear do Comando Estelar: A Aventura Começa (Buzz Lightyear of Star Command: The Adventure Begins | EUA, 2000)
Direção: Tad Stones
Roteiro: Mark McCorkle, Robert Schooley, Bill Motz, Bob Roth
Elenco (Dublagem Original): Tim Allen, Larry Miller, Stephen Furst, Nicole Sullivan, Wayne Knight, Adam Carolla, Diedrich Bader, Patrick Warburton
Elenco (Dublagem Brasileira): Guilherme Briggs, Fernanda Baronne, Christiano Torreão, Alexandre Moreno, Renato Rabelo, Orlando Drummond, Pedro Eugênio, Anderson Coutinho
Duração: 70 minutos