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Crítica | Brumas (1942)

por Iann Jeliel
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Brumas

Brumas foi o segundo filme consecutivo da carreira de Fritz Lang em que ele abandonou o projeto para ser substituído pelo cineasta Archie Mayo – o primeiro havia sido Correspondente Especial. Apesar de não ser creditado, a história permeia as características em comum de Lang na sua fase americana, especialmente o romance impossível entre uma figura injustamente fora da lei e a boneca que acredita em sua inocência. No caso, em específico, há diferenças na premissa. Adentrando no gênero noir, a condição de culpado do protagonista é posta mais em dúvida, enquanto a donzela, meio que aparece como um peão para o balanço dessa dúvida ir para o lado positivo. Que tipo de fugitivo, ligaria para alguém aleatório se matando no mar? Certamente, não é alguém de mal coração, no entanto, por que querer continuar fugindo se não é o culpado do crime? Essa e outras dúvidas, elaboram a teia de tramas do longa.

A atmosfera consegue capturar essa linearidade ambígua com muita eficácia. É como uma neblina mesmo, tudo na história é muito turvo, incerto e a construção cênica evidência isso mais do que os próprios diálogos, que seguem focados em estabelecer uma relação intimista próxima aos personagens. Há o viés classico do romance, onde duas figuras que nunca se conheciam e passam a se apaixonar perdidamente um pelo outro. Primeiro a mulher, lógico, mas depois o homem também, mesmo em sua ambiguidade sentimental, que se torna uma das valiosas informações que o filme segura para sustentar a história de maneira entretida. Aliás, é um tipo de filme que instiga mais do que satisfaz com entrega de direcionamentos. Ao mesmo tempo que os caminhos levam a um lugar muito claro, são progressões que se abrem a um leque de possibilidades de o acaso intervir. O que dá margem, para as respostas seguradas, quando respondidas, na sua simplicidade, não serem exatamente estimulantes, mas apenas uma informação mesmo.

É uma marca, de um início de década de quarenta que buscavam cada vez mais narrativas realistas que não parecessem tão elaboradas. Embora a atmosfera de dúvida sustentava o exercício de gênero puro e simples, ele era pensado para permite essas inserções do destino modificarem à narrativa com naturalidade. Dessa forma, dá para definir Brumas, como um thriller noir passivo. Isso fica bem evidente no clímax, em que se é exigido do longa uma intensidade que ele não consegue entregar. É um final decepcionante, apesar de não fugir do teor econômico e principalmente ambíguo, da proposta do filme. Sua grande marca no final das contas, está mesmo no efeito das dúvidas implementadas, circulando a construção da química do casal, devidamente bem interpretados por Jean Gabin – lenda do realismo poético francês, em seu primeiro longa metragem nos EUA, pais o qual ele se abrigava durante o regime nazista – e Ida Lupino.

Apesar de no grosso, a personagem feminina ser um mero acessório para a construção dramática do masculino – nunca sabemos o que estava levando-a a se matar e isso é basicamente ignorado mesmo – funciona porque fornece uma identificação sugerida entre os dois e essa personalidade retraída, uma boa base conflituosa para que o caminho deles juntos não se torne tão fácil, logo, tenha sustância para enquanto telespectador torcemos por a separação dos desafios. Nada mais justo, só sabemos alguma coisa do lado masculino, justamente pelo aleatório, o que faz a ponte perfeita para a junção desses personagens misteriosos. Os dois que fazem Brumas ser interessante, apesar de não deixar de ser um filme artesonado por um outro professor. Archie foi esse cara naquela Hollywood, substituiu até filmes do John Ford. Não tinha tanta identidade como cineasta – Brumas é carente de uma –, mas sabia executar a de terceiros com competência.

Brumas (Moontide | EUA, 1942)
Direção: Archie Mayo, Fritz Lang (não creditado)
Roteiro: John O’Hara, Nunnally Johnson (não creditado) – Baseado em livro homônimo de Willard Robertson
Elenco: Jean Gabin, Ida Lupin, Thomas Mitchell, Claude Rains, Jerome Cowan, Helene Reynolds, Ralph Byrd, William Halligan, Victor Sen Yung
Duração: 100 minutos

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