Um documentário apresentado por Britney Spears como uma produção para acompanhar os seus próximos passos depois do surto midiático envolvendo aparições nos tabloides bastante comprometedoras, situação que todos conhecemos, mesmo para aqueles que não são fieis acompanhadores da trajetória da Princesa do Pop. Em Britney: For The Record, o estilo documental se estabelece estruturado por uma narrativa plana, sem grandes momentos de emoção. É uma espécie de narrativa criada para dizer ao público o seguinte: “fiquem tranquilos, as coisas estão bem, em breve estou de volta”. Produzido alguns meses após a desastrosa apresentação da cantora no VMA, num momento nada favorável para a sua exposição diante de uma mídia interessada cada vez mais em lucrar com a sua derrocada, o documentário traz a artista em seus momentos de intimidade, como ensaios para videoclipe, compras para desanuviar, passagens por sessões fotográficas sempre perseguidas pelos abutres da fotografia, dentre outros instantes do cotidiano de uma celebridade.
Aparentemente sincera em seus depoimentos, Britney Spears toca em diversos pontos importantes que demarcaram a sua trajetória até então, preponderantes para os acontecimentos que a transformaram num produto rentável para as capas dos veículos de comunicação sensacionalistas: o término do relacionamento com Justin Timberlake, o casamento fracassado com Kevin Federline, o nascimento de seus dois filhos e a influência destas crianças em sua nova vida, o surto que culminou no cabelo raspado após um momento de fúria, dentre outras coisas que aconteceram em sua existência exageradamente noticiada. Intercalando momentos de tranquilidade com passagens lacrimejantes, o documentário toca em diversas questões, inclusive em sua relação com o pai Jamie Spears, supostamente equilibrada, algo que pode ser visto nos dias atuais como a mais pura encenação, haja vista os desdobramentos da curatela que durou 13 anos e culminou no movimento Free Britney.
Empresários, dançarinos, agentes, o pai e algumas outras pessoas próximos ao cotidiano da cantora aparecem em depoimentos ou apenas ao seu lado, num documentário que preza por uma abordagem aparentemente discreta, sem narrar ao espectador uma presença abusiva ou intrusiva demais. A câmera, a todo instante, parece captar as imagens com respeito, sob a autorização daquilo que pode ou não ser registrado. Leia-se: aquilo que é interessante para a produção se portar como um filme que responde ao público que a famosa Britney Spears estava controle de sua jornada, preparando-se para um retorno triunfal. Dentre todas as participações, devo dizer que a breve, mas eficiente inserção de Madonna é um dos principais momentos da narrativa. Experiente e ciente dos perrengues vivenciados pela jovem, Madonna revela os seus aconselhamentos e critica a forma como a mídia usou os momentos de fraqueza de Britney Spears para o processo de mercantilização da notícia. É uma escolha dos realizadores bastante assertiva, pois o seu depoimento estabelece uma aura de autoridade, como se a experiência da artista reforçasse que “tudo iria ficar bem logo depois da tempestade”, afinal, salvaguardadas as devidas proporções, ela havia passado por processos semelhantes, mas encarado diferente.
Dito isso, o que mais podemos refletir sobre esta produção?
No quesito técnico, Britney: For The Record é um documentário fraco. Como mencionado anteriormente, a intenção da produção é a amenidade, pois sua proposta era desenvolver uma visão da artista numa fase de tranquilidade, o extremo oposto daquilo que a mídia em polvorosa tinha apresentado sobre a cantora em sua era turbulenta. Mas falta, em linhas gerais, uma estética mais atrativa. Na direção de fotografia, Pedro Castro registra Britney Spears em seus depoimentos por meio do clássico primeiro plano, captando momentos de desabafo, acompanhado por risos nervosos ou genuínos, quando a mesma se atém as coisas que lhe traziam boas recordações. É um enquadramento para captar, também, os momentos de lágrimas e revelações sobre o rígido controle em torno de sua existência, a falta de possibilidade de fazer escolhas por conta própria, haja vista a aura de desconfiança em torno de suas ações após a descida ao fundo do poço, demonstrada pela mídia com bastante sagacidade no período.
Interessante que nas produções documentais atuais sobre a curatela e as transgressões da artista cansada de ser manipulada pelo pai e por toda a sua família supostamente aproveitadora, este documentário é destacado como uma narrativa que já delineava que alguma coisa muito errada acontecia na vida da cantora. Funciona para fãs da Britney, ou para pesquisadores sobre os desdobramentos da mídia em estudos de caso sobre celebridades. Mas, para outros espectadores, talvez seja uma empreitada um pouco tediosa, mesmo com os seus breves 67 minutos de duração. Sob a direção de Phil Griffin, Britney: For The Record traz os bastidores de gravação do videoclipe Womanizer, as sessões de fotos e toda a publicidade e preparação para a jornada do álbum Circus, bem como a participação da cantora em um dos espetáculos da turnê Stick and Sweet, de Madonna, uma apresentação comportada do clássico Human Nature, canção que dialogava bastante com a fase da jovem artista lá em 2008.
Britney: For The Record (EUA – 2008)
Direção: Phil Griffin
Roteiro: Phil Griffin
Com: Britney Spears, Jamie Spears, Adam Leber, Larry Rudolph, Brett Miller, Edan Yemini, Patrick DeMarchelier, BarryWeiss, Lin-Manuel Miranda
Duração: 67 min.