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Crítica | Brahms: Boneco do Mal 2

por Leonardo Campos
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Há algumas continuações de filmes que não deveriam existir. Ou então, ganhar um verniz de disfarce talvez, mesmo que isso não seja ético e o público sinta que foi enganado. No terreno das ilusões que é o cinema, às vezes é bom fazer parte dos atos de fingir que apenas a indústria da representação pode nos ofertar. Brahms: Boneco do Mal 2 está dentro do esquema “sequência de um filme que não tinha espaço para continuar”. O primeiro filme já não era bom o suficiente, no entanto, por qual motivo a existência da parte 2? Além das óbvias questões de ordem financeira, os envolvidos provavelmente acreditavam que ainda existia a possibilidade de continuar.

Diante do exposto, mesmo que seja uma produção de terror que vem de uma linha narrativa prévia que se tornou estéril no desfecho de seu antecessor, o filme não é uma narrativa descartável. É apenas genérico, sabe? Você tem consciência da falta de um roteiro que vá além de tudo que já foi mostrado antes sobre o assunto, mas no final do processo, a narrativa funciona como entretenimento e apresenta algumas questões angustiantes sobre trauma que confesso, me envolveram. O terceiro ato, mais apressado, encerra tudo dentro do padrão dos filmes de terror medianos ou menores que isso, mas ainda assim, Brahms: Boneco do Mal 2 tem os seus momentos, dirigidos com unidade por William Brent Bell, guiado pelo roteiro de Stacey Menear.

Logo em sua abertura, o filme traz alguns truques que brincam com as nossas expectativas. Liza (Katie Holmes) é a mãe jovial e cheia de intensidade que chega em casa e é logo enganada por seu filho, o pequeno Jude (Christopher Convery), numa brincadeira ideal para a inserção de um dos tantos jumpscares do design de som de Craig Mann, um setor evidente e necessário para as demandas do filme deste segmento no contemporâneo. Sustos, gritos, braços, risos. Tudo não passava de um trote da criança e eles recebem uma ligação do pai, o bonitão Sean (Owain Yeoman), o pai da família que ficará numa reunião até depois do horário convencional e que precisa da “benção” de sua amada esposa e filho. Após o consentimento, chega o sono.

Enquanto todos dormem, Liza percebe um barulho em casa. Levanta e a direção de fotografia assinada por Karl Walter, responsável pelos closes eficientes no “boneco do mal” nas cenas posteriores entrega uma sequência muito parecida com a cena de abertura. Há uma escada, uma silhueta no fundo, iluminação cheio de contrapontos de sombras e espaços concebidos pelo também eficiente design de produção de John Willett, realista, urbano, atual e luxuoso. O que ocorre é que as brincadeiras ficaram para outro momento. Agora a casa foi invadida por criminosos e Liza é atacada, machuca a cabeça e seu filho se torna uma criança também traumatizada. Ao apresentar mutismo, o pequeno Christopher passa por dificuldades diversas.

Assim, o casal também expõe que há uma profunda crise num casamento que mesmo tendo a compreensão do marido, apresenta o desgaste, a falta de sexo e afeto, etc. A solução arrumada por Sean é seguir para uma nova morada, ao menos temporária. É daí que a família parte para a casa de hóspedes relativamente ao lado da mansão onde os horrores do filme anterior se desdobraram, quando Greta (Lauren Cohan) teve de lidar com a inesperada situação macabra por detrás das paredes e em torno de Brahms, boneco praticamente amaldiçoado que traz infortúnio para quem atravessa o seu caminho. Ou seria adequado dizer, para a casa de quem ele é levado. É o que ocorre logo que a família chega lá e o garoto encontra o boneco.

Há, no entanto, uma razão de ser para o boneco estar naquele local, para ser encontrado. Saberemos tudo isso ao longo convencional desfecho, com as explicações, resoluções, reviravoltas e outros ingredientes comuns aos filmes do gênero, com monstros assustadores que tiram a paz de famílias já mergulhadas em questões traumáticas suficientes. A mansão Heelshire continua misteriosa, apresentada em brevíssimas passagens, aparentemente fragmentos do filme anterior, tamanha a ausência de mais planos em torno de sua cenografia fascinante e assombrosa, visual que ganha alguns momentos de impacto graças ao atmosférico trabalho de Brett Deter na trilha sonora, setor que também funciona de maneira eficiente ao longo dos 86 minutos de Brahms: Boneco do Mal 2, um filme que não impacta apenas por ser genérico demais e não ousar a ir além do anterior, aparentemente reciclado aqui na troca de elenco.

Brahms: Boneco do Mal 2 (Brahms: The Boy 2) – EUA, 2020.
Direção: William Brent Bell.
Roteiro: Stacey Menear
Elenco:  Anjali Jay, Charles Jarman, Christopher Convery, Joanne Kimm, Joely Collins, Katie Holmes, Natalie Moon, Oliver Rice, Owain Yeoman, Ralph Ineson
Duração: 86 min.

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