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Crítica | Boris Karloff: Um Monstro Amável

Uma análise panorâmica da jornada de Karloff, ator versátil encapsulado eternamente na imagem do monstro clássico de Frankenstein.

por Leonardo Campos
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Antes de Frankenstein, Boris Karloff já tinha participado de outros filmes, em especial, O Código Penal e Scarface: A Vergonha de Uma Nação, ambos de Howard Hawks, um cineasta de peso nos primórdios da história do cinema. Há, no entanto, uma “verdade” quase absoluta na biografia do ator que buscou se dissociar exclusivamente da imagem conectada ao monstro criado por Mary Shelley na literatura, algo que ele não teve como se desvencilhar: esse foi, de fato, o papel da sua vida, a representação que mais marcou toda a sua carreira. Guiado por James Whale e maquiado pelo eficiente Jack Pierce, a sua poderosa imagem ganhou a cultura popular na era da reprodutibilidade técnica e ainda hoje, é uma referência em capas de livros ficcionais e acadêmicos sobre o monstro clássico. Não há escapatória. Mas isso, para longe de ser algo ruim, demonstra o poder de um mito dentro de outro. Com fotos de bastidores, trechos de filmes e depoimentos de realizadores, maquiadores, atores e outras figuras que compõem a história do cinema ao longo do século XX, o documentário com pouco mais de 30 minutos nos expõe a biografia do ator, o seu potencial enquanto artista, as curiosidades acerca de seu relacionamento interpessoal com os profissionais que atuou pelos caminhos pavimentados em sua extensa carreira, produção que nos apresenta o ator como uma marca após o advento de Frankenstein.

Numa época de nomes como Garbo e Chaplin, tínhamos Karloff. Bastava a menção ao seu sobrenome que os filmes posteriores, mesmo questionáveis dramaticamente, aguçavam a curiosidade dos espectadores. Quando assumiu o posto do monstro no filme de 1931, o ator se aproximava dos 40 anos. Em Hollywood, com essa idade, você não está mais iniciando uma carreira, na verdade, é uma fase como uma moeda de duas faces: ou se está estabelecido, ou então, entrou em decadência. Relutante, ele batalhou por outras oportunidades e conseguiu seguir adiante, mas esteve rotineiramente conectado com o personagem que o transformou em um mito, tal como a história do cinema hollywoodiano costuma estabelecer em seu processo de fabricação de imagens duradouras e imperialistas. Boris Karloff: Um Monstro Amável, traz notas sobre os bastidores do filme dirigido por James Whale, mas também comenta os seus desdobramentos nas continuações e na cultura pop, além de radiografar a participação do ator em outras narrativas após o declínio do Primeiro Ciclo de Ouro do Horror da Universal.

Sendo um documentário do estúdio, produzido para analisar retrospectivamente o clássico em questão, somos informados com didatismo, que a figura do monstro de Frankenstein é inegavelmente uma das mais icônicas do cinema de terror. E, grande parte de sua imortalização, deve-se à atuação de Boris Karloff na tradução de 1931. Antes do filme, o monstro já havia entrado na cultura popular, com a versão de Charles Ogle para o personagem em 1910, mas foi a interpretação de Karloff que definiu a imagem e a essência da criatura de forma indelével. Boris Karloff nasceu William Henry Pratt, em 23 de novembro de 1887, na Inglaterra. Sua carreira no teatro e no cinema começou de forma modesta, mas foi sua habilidade de imergir na psicologia de personagens complexos que chamou a atenção de Hollywood. Ao ser escolhido para interpretar o monstro de Frankenstein, Karloff se deparou com um papel que exigia não apenas a capacidade de emular fisicamente a criatura horrenda, mas também a habilidade de transmitir sua profundidade emocional e tragédia.

Dirigido por James Whale, como já mencionado, o filme foi revolucionário na sua época. O design do monstro, que incluía o famoso visual com a pele verde, parafusos no pescoço e olhar perdido, fez parte da mise-en-scène que impactou o público e cristalizou uma espécie de imagem definitiva do monstro. Mas, o processo não foi apenas fruto da maquiagem. Uma das mais significativas contribuições de Karloff foi a infusão de sensibilidade emocional em um personagem que poderia ter sido facilmente reduzido a um mero monstro. Sua interpretação do monstro, conhecido já na literatura por clamar pela aceitação e amor não apenas de seu criador, mas da sociedade, refletia a solidão e o sofrimento ressonantes do experimento de Victor Frankenstein. Karloff usou sua expressão corporal e vocalização para evocar a dor existencial da criatura, fazendo com que seu desempenho em cena fosse memorável. Os gestos exagerados e a forma como ele se movia proporcionaram uma representação quase animalista, mas ao mesmo tempo carregada de uma vulnerabilidade que fez com que muitos o vissem como uma vítima das circunstâncias.

Outro aspecto marcante da atuação de Karloff foi a sua capacidade de comunicar através do silêncio. A comunicação não verbal tem um peso significativo na representação do monstro, que mal fala e é muitas vezes mal compreendido pelos humanos. Essa ausência da palavra fala mais alto do que qualquer diálogo poderia e mostra a alienação e o desespero do personagem. Conforme os depoimentos, Karloff redefiniu o conceito de monstro no cinema e influenciou gerações de atores que lidam com personagens sombrios. Após Frankenstein, Karloff continuou a assumir papéis semelhantes em outros filmes de terror, solidificando sua reputação como o “pai dos monstros” de Hollywood. Em linhas gerais, caro leitor, Boris Karloff não apenas interpretou uma figura monstruosa, mas imortalizou a imagem e a essência da criatura, transformando-a em um símbolo da luta pela aceitação e da complexidade da condição humana. Boris Karloff: Um Monstro Amável, é um documentário que destaca como a imagem do monstro, eternamente ligada a Karloff, permanecerá imortal na história do cinema.

Boris Karloff: Um Monstro Amável (Karloff, The Gentle Monster/EUA, 2006)
Direção: Constantine Nasr
Roteiro: Constantine Nasr
Elenco: Boris Karloff, Joe Dante, Richard Gordon, Gregory W. Mank, Steve Haberman, Christopher Wicking, Peter Aktins
Duração: 38 min.

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