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Crítica | Borderlands – O Destino do Universo Está em Jogo

Cate Blanchett tirando férias.

por Ritter Fan
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Eu sabia que Borderlands era baseado em videogame, mas eu nunca o joguei e nem sequer tinha ideia de sua história, pelo que a presente crítica será naturalmente livre de quaisquer comparações com o material base. Se é isso que você procura, já fica aqui o aviso. O que eu realmente tinha curiosidade de saber era se essa adaptação seria mais um exemplar da leva atual no cinema e na televisão que mostrou que games pode resultar em ótimas séries e filmes ou se ele seria simplesmente mais um da regra ainda válida que determina que adaptações audiovisuais de games são a raspa do tacho em Hollywood, como se houvesse uma barreira invisível que tornasse mais difícil esse pulo entre mídias do que vários outros que vemos por aí com mais consistência.

Quando os créditos finais começaram a subir, minha impressão foi de ter assistindo um daqueles filmes de ficção científica trash pós-apocalípticos da primeira metade dos anos 80 com um elenco ruim completamente desconhecido e um orçamento de troco da feira. E não, não quero dizer com isso que Borderlands é tragicamente ruim, mas sim que o longa de Eli Roth não parece fazer efetivo uso de seu polpudo orçamento de algo como 120 milhões de dólares e do protagonismo de ninguém menos do que Cate Blanchett, claramente se divertindo em uma espécie de férias entre trabalhos que exigem muita preparação e concentração, mesmo que a intenção do cineasta tenha sido propositalmente imitar a qualidade geral dessas outras obras que mencionei. Afinal, vamos combinar logo de início que Roth não é e nem nunca foi um grande cineasta, alguém que realmente tenha provado que sabe o que fazer com tanto dinheiro e tanta escala que não seja desperdiçar todas as oportunidades possíveis e não fazer mais do que um dos filmes B mais caros da história.

Em outras palavras, como trasheira caótica, rasinha, bobalhona e repleta de pancadaria light, Borderlands é quase mediano, ficando longe daquelas coisas horrorosas de Uwe Boll, mas não tão longe assim de filmes como Street Fighter: A Última Batalha (outro com um grande ator em papel de destaque, só que como antagonista). Pelo menos não é a completa rasgação pretensiosa (e em câmera lenta) de dinheiro que é a recente duologia Rebel Moon que, mesmo não sendo baseada em videogame, poderia muito bem ser. Aliás, uma coisa que Borderlands não tem é pretensão. Ele é o que parece ser, sem que o roteiro que deveria originalmente ter sido coescrito por Roth e por Craig Mazin (de The Last of Us), mas que perdeu Mazin no meio do caminho, entrando um “inexistente” Joe Crombie e revelando parte dos problemas da conturbada produção, tente ser mais do que a reunião de grupo liderado pela caçadora de recompensas Lilith (Blanchett) e que conta com o mercenário Roland (Kevin Hart, que acha que é ator), o louco furioso mascarado Krieg (Florian Munteanu, que definitivamente não é ator), o insuportavelmente chato robô Claptrap (Jack Black, que fala como uma metralhadora) e a quase sem função Dra. Patricia Tannis (Jamie Lee Curtis que, com Oscar ou sem Oscar, é, com boa vontade, uma atriz mediana) na missão de localizar e proteger a jovem Tina (Ariana Greenblatt, que quebra o galho) que seria uma das chaves para uma cobiçada arca com toda a tecnologia de uma civilização perdida.

Até é possível ver como parte do orçamento foi gasto, já que o filme lida razoavelmente bem com efeitos práticos equilibrando e até podando o uso indiscriminado de computação gráfica, mas tudo é muito genérico demais, sejam os figurinos dos personagens, seus veículos ou toda a aparência desolada à la Mad Max do planeta Pandora e até mesmo as coreografias tumultuadas de luta. A direção de arte não parece se esforçar para envolver o espectador e não tem Cate Blanchett com cabelos vermelhos ou Jack Black tagarelando sem parar que compense aquela impressão de que tudo foi feito com o único material disponível para uma produção de baixíssimo orçamento, o que novamente me leva ao comentário inicial sobre minha impressão geral sobre o longa. Afinal, é plenamente justificável, em uma obra que luta para fazer valer cada centavo, que os carros usados pelos vilões pareçam carros comuns de hoje em dia só com uma demão de tinta diferente e algumas chapas de metal cobrindo as características mais óbvias de um caminhonete básica. Mas esse não é o caso aqui. Havia dinheiro, mas não havia, ao que tudo indica, alguém com uma visão artística equivalente ao orçamento, mesmo que o objetivo fosse “passar a impressão” de filme B. Invocando Rebel Moon novamente, mas desta vez positivamente, percebe-se, nesse aspecto, uma consideração de Zack Snyder que Eli Roth passa longe, bem longe de ter.

Borderlands, portanto, não é o pior filme de 2024 como estão dizendo por aí, mas também não é uma adaptação de videogame – ou um filme independente de sua base – que mereça algum destaque. Trata-se muito mais de uma curiosidade cinematográfica que faz o espectador coçar a cabeça para entender a razão pela qual Cate Blanchett aceitou o papel (os demais atores estão em linha com o estilo e qualidade do filme), ainda que, como disse, ela pareça estar gozando de férias mesmo em pleno trabalho. Bom para ela que conseguiu encontrar uma forma de ganhar dinheiro dentro de sua arte, mas sem precisar fazer o esforço costumeiro para construir um personagem com mais dimensões e profundidade do que uma folha de papel celofane vermelho.

Borderlands – O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands – EUA, 2024)
Direção: Eli Roth
Roteiro: Eli Roth, Joe Crombie (baseado em videogame criado pela Gearbox Software)
Elenco: Cate Blanchett, Kevin Hart, Jack Black, Edgar Ramírez, Ariana Greenblatt, Florian Munteanu, Gina Gershon, Jamie Lee Curtis, Haley Bennett, Bobby Lee, Olivier Richters, Janina Gavankar, Cheyenne Jackson, Charles Babalola, Benjamin Byron Davis, Steven Boyer, Ryann Redmond, Harry Ford
Duração: 102 min.

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