Número de temporadas: 14
Número de episódios: 432
Período de exibição: 12 de setembro de 1959 a 16 de janeiro de 1973
Há continuação ou reboot?: Anos depois de seu cancelamento, Bonanza ganhou três telefilmes: Bonanza: The Next Generation (1988), Bonanza: The Return (1993) e Bonanza: Under Attack (1995). Em 09 de setembro de 2001, começou a ir ao ar a série Ponderosa, um prelúdio de Bonanza que, porém, durou apenas por uma temporada (20 episódios), até 12 de maio de 2002.
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Gunsmoke, Rawhide e Bonanza. Três longevas séries de faroeste iniciadas nos anos 50 que marcaram época, com a primeira e a segunda sendo, respectivamente, a 1ª e a 2ª mais longas do gênero da TV americana, ambas tendo sido exportadas para o Brasil e sido exaustivamente reprisadas por aqui, com a inesquecível música tema de Bonanza, composta por Jay Livingston e Ray Evans, orquestrada por David Rose e arranjada por Billy May, sendo até hoje sinônimo de faroeste.
Criação de David Dortort, prolífico roteirista e produtor de Hollywood, Bonanza cai naquela categoria de faroeste que eu costumo classificar como “limpa”, ou seja, um faroeste mágico, ideal, de conto de fadas, em que os mocinhos são sempre mocinhos, os vilões sempre vilões, todos os figurinos são impecáveis e não há sequer uma poeira em qualquer cenário, mesmo que seja um saloon em uma cidade de rua de terra batida (veja bem, batida, não imunda e enlameada, claro). E isso sem contar que suor e sujeira no rosto dos personagens só aparecem depois de uma luta particularmente longa, com os cabelos de todos os envolvidos permanecendo perfeitamente engomado e brilhante o tempo todo. Em outras palavras, uma diversão completa, especialmente se observarmos a série com os olhos de hoje, depois de passarmos por obras cínicas e suja (metafórica e literalmente) como Os Imperdoáveis ou, na TV, Deadwood.
Mas uma coisa não desmerece a outra, que fique bem claro. Bonanza é um retrato de seu tempo e do estilo de uma época em que o faroeste ganhava sim um verniz romântico e idealizado, especialmente na televisão aberta, em que as produções eram – e, de certa forma, continuam sendo – pudicas ao máximo para alcançar o maior público possível com a menor quantidade de escândalos. Por outro lado, por incrível que pareça – e isso não fica evidente com a análise apenas do piloto, que é o foco da presente crítica, claro – Bonanza foi uma série marcada por um volume considerável de críticas sociais e de lições de moral, especialmente no que se refere ao preconceito racial. Não é nada radical ou de outro mundo, não tenham dúvida, mas a série foi além de fazer apenas um faroeste completamente higienizado, que era de se esperar na época.
Mergulhando especificamente em A Rose for Lotta, episódio inaugural da série que viria a durar nada menos do que 14 temporadas, com impressionantes 432 episódios (Gunsmoke teve inacreditáveis 635 e isso sem contar com a série radiofônica, que foi a origem de tudo), Dortort não poderia ter escolhido uma história melhor para introduzir seus quatro protagonistas (você sabia que os nomes do quatro atores tinham sua ordem revezada nos créditos de abertura?), o pai e três filhos da próspera família Cartwright e sua vida isolada no belo e idílico Rancho Ponderosa, em Nevada, então ainda território, não estado. Lorne Greene (que viria a encarnar o Comandante Adama em 1978, em Battlestar Galactica) vive Ben Cartwright, o patriarca, viúvo três vezes, que teve um filho com cada esposa: Adam (Pernell Roberts), o mais velho e mais ponderado, formado em engenharia em uma faculdade do “norte”, responsável pela construção da sede do rancho; Hoss (Dan Blocker), o filho do meio, de proporções avantajadas, extremamente forte, mas com um imenso coração e Joseph, conhecido como Little Joe (Michael Landon), o mais jovem e, claro, mais impetuoso.
A forma como cada personagem é introduzido segue estritamente o manual de roteiro para esse fim, com Little Joe treinando esgrima no rancho, irritando o irmão mais velho por aparentemente não fazer o que tem que fazer, com os dois em seguida saindo no tapa e sendo separados por Hoss, somente para fazerem as pazes em seguida por ordem (mas com afeto) do pai, sempre sério, mas também sempre justo. Em meio a tudo isso, ainda vemos um importante coadjuvante que permaneceria na série até seu fim, o cozinheiro chinês Hop Sing (vivido pelo sino-americano Victor Sen Yung), sempre elétrico e prestativo, com diversas lições a serem dadas aos jovens caubóis. A trama que segue gira ao redor de Lotta Crabtree (Yvonne De Carlo), atriz contratada pelos inescrupulosos donos de minas de prata de Virginia City que querem forçar Ben a vender a vasta floresta de sua propriedade de forma que eles possam cortar a madeira necessária para construir a estrutura dos túneis, algo que, claro, o patriarca não quer nem saber de fazer, já que ele adora seu rancho e a natureza virginal que o cerca (sim, há um viés de preocupação ecológica logo nesse primeiro episódio).
O papel de Lotta é atrair um dos filho para a cidade, de forma que ele possa ser usado como moeda de troca e, claro, é Little Joe que é pego nessa ratoeira, com o pai e os irmãos vindo logo atrás preparados para a guerra. O roteiro, porém, assim como a direção de Edward Ludwig, não consegue sequer por um segundo passar qualquer semblante de tensão ou perigo para Little Joe. Muito ao contrário, há até uma pegada levemente humorística, mesmo nas sequências em tese mais violentas como quando Ben e seus filhos mantém os vilões sob a mira de suas armas no saloon local. No entanto, esse é o espírito de Bonanza, criar uma história completamente benigna e leve sobre uma família unida, exatamente o que era o padrão televisivo da época e que, convenhamos, é uma jogada segura que acerta no alvo quase sempre.
A Rose for Lotta, portanto, é um ótimo começo para uma ótima série que marcaria gerações e faz exatamente o que seu título sugere: torna-se um porto seguro repleto de nada mais do que alguns minutos de calma e tranquilidade depois de um dia agitado de trabalho. Talvez vivamos, hoje, em dias cínicos demais para ainda apreciar essa abordagem, mas que ela faz falta, ah, ela faz…
Bonanza – 1X01: A Rose for Lotta (EUA, 12 de setembro de 1959)
Criação: David Dortort
Direção: Edward Ludwig
Roteiro: David Dortort
Elenco: Lorne Greene, Pernell Roberts, Dan Blocker, Michael Landon, Victor Sen Yung, Yvonne De Carlo, George Macready
Duração: 47 min.