Boa Sorte, Leo Grande é daqueles casos que parece melhor em seu argumento do que no resultado final. O argumento é o retrato existencial de uma mulher de 55 anos cujo desejo sexual vem acompanhado de um pertinente sentimento de insegurança devido à sua idade avançada e o seu histórico de vivências. Já o resultado final exprime no espectador uma vaga sensação de incompletude dentro do filme. Principalmente nos dois primeiros atos, há a impressão de que a narrativa se conduz de forma meio mecânica, carecendo de algo a mais em seu desenvolvimento para concretizar com maior sucesso a sua premissa.
Nancy Stokes (Emma Thompson), a senhora que vive esse tal dilema entre desejo e insegurança, vai atrás do modo mais simples para se conseguir sexo, que é com um garoto de programa. Tal ato já deixa explícito aquilo que ela busca, sendo o prazer sexual rápido e descompromissado. No entanto, da mesma forma que a sua subjetividade não permite que ela ceda livremente ao ato sexual, logo percebemos que não é apenas da experiência carnal que ela necessita; Nancy grita por um certo calor humano, uma pessoa da qual ela possa se apoiar e exteriorizar os demônios interiores que possui. E aí entra a figura de Leo Grande, o garoto de programa contratado por ela.
O jovem é absolutamente tudo aquilo que ela precisava e nem se dava conta: atencioso, carinhoso e tão humano quanto ela. O sexo, portanto, abandona o seu caráter superficial e se torna quase que uma missão para ambos: Nancy deve entender que, como qualquer outra pessoa, ela também pode se entregar a esse mundo de prazeres; já Leo Grande tenta orientá-la nessa busca levantando a sua autoestima e estimando ela própria. Neste ponto, que é o cerne do filme, surge o seguinte questionamento: temos aqui uma obra sobre a satisfação carnal ou espiritual? Se a simples oferta do sexo (via prostituição) não é capaz de suprimir a demanda da protagonista, então o filme está muito além da mera questão carnal. O sexo, no caso dela, é apenas produto de sua condição espiritual (não no sentido religioso, mas existencial). Desta forma, é preciso preencher as lacunas internas que ela possui para finalmente atingir o campo da apreciação externa de seu corpo.
O sexo, por muito tempo, é simplesmente um ideal distante, e é daí que surge a intensa troca de diálogos, a descoberta de um pelo outro e a autodescoberta deles por si próprios — cabe dizer que Leo Grande também possui suas turbulências escondidas. Ambientado quase todo no apartamento de Nancy, o longa se encaixa no perfil de trabalhos em que as falas possuem um enorme peso, em que toda ação — sempre enfatizada pela concentração mínima de tempo e espaço — praticamente se resume ao que é dito entre diálogos e monólogos.
E talvez tenha sido nesse caso que esteja o fato do filme ter sido pouco estimulante em sua maior parte, pois a interpretação de Daryl McCormack (Leo Grande) é por demais fria, e seu personagem completamente passivo. Como ele está lá justamente para consolar e revitalizar Nancy, a sua presença acaba sendo reduzida quase a de um mero objeto com finalidades restritas. É verdade que, a partir de certo momento, ele deixa de ser passivo e o roteiro passa a explorar a sua persona, mas antes disso a figura de Leo era apenas a de algo robótico. Em relação à interpretação dele, a coisa não é diferente, servindo apenas para enfatizar o conceito do personagem, fazendo com que a dicção do rapaz soasse monolítica — com o mesmo tom sem vida e dizendo as mesmas coisas —, e sua postura como a de um simples amigo “gente boa”.
A direção de arte do apartamento de Nancy é coberta por uma abordagem clean, sem cores fortes, sendo o mais adequado para retratar o universo de quietude de uma senhora com a vida meio cinzenta. No final do filme, toda essa quietude se desaba, e o sexo finalmente é consumado de maneira completa e calorosa. Nancy Stokes e Leo Grande se despendem; não há mais nada para Leo fazer, o problema existencial de sua cliente já foi “resolvido”, o sexo já foi feito e, de forma adiantada, pago.
Good Luck to You, Leo Grande (Reino Unido, 2022)
Direção: Sophie Hyde
Roteiro: Katy Brand
Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland, Les Mabaleka, Carina Lopes, Lennie Beare, Charlotte Ware
Duração: 97 minutos.