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Crítica | Bloodborne

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Antes de entrar na típica análise de Bloodborne, permitam-me dar um toque pessoal a esta crítica. O anúncio do mais novo game da From Software basicamente colocou a sensação de urgência em minha mente, a necessidade de simplesmente jogar o jogo dos mesmos criadores de Demon’s SoulsDark Soulsambos, nos quais passei incontáveis horas de minha vida. Minha única opção, porém, ainda sem um PS4, seria me distanciar o máximo de qualquer imagem, vídeo, trailer ou afins. Porém, após um contato inusitado em uma loja de eletrônicos com o dito cujo, toda a ansiedade retornou e foi essencial na escolha entre um Xbox One e o aparelho da Sony.

Originado, assim como seus predecessores “espirituais”, da mente de Hidetaka Miyazaki, Bloodborne nos leva para um experiência passada em uma era que mimetiza a vitoriana. Saímos do clássico medieval e caminhamos para um período marcado pelas fumaças da revolução industrial, percorremos as ruas escuras de Yharnam, evidentemente inspiradas nas de Londres e participamos da chamada Noite da Caçada, quando as criaturas da noite percorrem as várias alamedas que atravessamos e a loucura parece tomar conta de todos. Nesse universo sombrio, onde mesmo o dia parece a mais escura noite, nosso personagem entra. Um caçador, como muitos outros, que deve procurar e destruir tais seres, enquanto luta para sobreviver diante de hordas de cidadãos fora de si e mistérios do além.

Trata-se de uma experiência que não perdoa a nenhum jogador, assim como nos velhos videogames de plataforma, Mario ou Donkey Kong, somos jogados com poucas explicações nesse mundo que se esforça para tornar cada minuto de jogo um verdadeiro inferno. E aqui está o grande triunfo do game, já presenciado nos seus antecessores. Não temos aqui uma didática exacerbada, facilitada para atingir um maior público, como temos visto nas últimas gerações, a habilidade vem da experiência, o sucesso é dependente dela, então prepare-se para morrer. Dessa morte vem a vontade de continuar e se aprimorar, a cada inimigo enfrentado aprendemos a melhor maneira de se movimentar pelo campo de batalha, que táticas utilizar a cada momento, fazendo disso algo extremamente recompensador. Da mesma forma que o personagem cresce em níveis o jogador se supera na jogabilidade, facilitando consideravelmente o caminho a percorrer.

Morte certa?

Morte certa?

Mas, como dito, Bloodborne não sabe o significado de perdão e um excesso de confiança pode significar, facilmente, a morte. Por mais que cresçamos, qualquer criatura, esteja ela no início ou no final do game, pode nos matar, forçando uma sensação de constante tensão que atinge diretamente nossos estômagos. Nunca estamos seguros e mesmo a relativa segurança por trás dos escudos da série Souls é retirada aqui no exclusivo para PS4. Ao invés do objeto de metal, temos armas de fogo, utilizadas tanto para causar um dano extra, quanto para interromper ataques de inimigos, ação que pode ser aproveitada para um ataque especial. Tal fator altera consideravelmente a dinâmica do jogo, garantindo a ele seu caráter único.

Essa escolha ainda afeta diretamente as diferentes armas brancas que portamos no game, cada uma delas conta com um modo secundário, que substitui a utilização com duas mãos de seus predecessores. Temos aqui uma quantidade menor de equipamentos, mas esses podem ser considerados duplos, em virtude do diferente caráter que assumem. Um exemplo é o kirkhammer, uma mistura de espada longa e martelo gigante, cada modo a ser utilizado em diferentes situações.

Naturalmente, impossibilitados de bloquear os ataques seja de humanos, seja das horrendas criaturas que encontramos, o jogo deve investir em outro aspecto. Refiro-me, naturalmente, à esquiva. Apoiando-se totalmente nas capacidades da nova geração, a obra apresenta uma fluidez gigantesca, um movimentar orgânico que garante uma inédita velocidade para a experiência, alterando completamente a maneira como devemos jogá-la. Essa velocidade, obviamente, afeta também os oponentes, que devem ser encarados com uma mistura de cautela e audacidade – é preciso coragem para superar os diferentes locais do game, não é algo para qualquer um, mas certamente será apreciada pelos desbravadores.

Esse apoio na fluidez afeta diretamente as lutas contra os chefes e criaturas “especiais”. Aqui vemos inúmeros combates contra humanoides, outros caçadores que emulam de maneira fidedigna a experiência pvp. Essas sim, mais imprevisíveis sob diversos aspectos, podem significar os momentos mais desafiadores de Bloodborne, mas, como já dito, a audácia e a estratégia se provarão essenciais, especialmente diante na nova mecânica de recuperação de vida. Além dos blood vials, frascos que devem ser adquiridos nos diferentes ambientes do jogo, ao contrário do Estus de Dark Souls, o jogador pode recuperar a vida atingindo seus inimigos. Essa opção, porém, tem um limite de tempo. A partir do momento que sofremos um dano temos um tempo até que nossa barra de vida decresça, nesse curto período podemos nos banhar no sangue dos adversários e recuperar nossa vitalidade. Trata-se de uma mecânica bastante interessante e funcional, que incentiva a ousadia do jogador, mesmo diante dos maiores monstros.

 Essa cura pelo sangue é um dos pontos cruciais dentro da mitologia desse universo vitoriano e esse conhecimento, o lore, assim como a jogabilidade em si, não vem de maneira didática. Aprendemos cada ponto da trama e do mundo que nos rodeia através de uma soma de diálogos, descrições de itens, notas deixadas em locais oportunos e até mesmo a aparência de certas criaturas. Como em suas outras criações, Miyazaki estimula a criatividade do jogador, forçando-o não só a unir os distantes pontos, como a criar teorias e mais teorias, que apenas o imergem ainda mais nessa arrebatadora experiência. A história somos nós que fazemos e podemos moldá-la conforme nossa própria vontade ou discutir incessantemente em fóruns com outros jogadores, aumentando o caráter social do game.

Do bonfire para a lâmpada

Do bonfire para a lâmpada

E por falar nisso, o clássico sistema de cooperação/ pvp da série Souls não é deixada de lado aqui. Podemos chamar outros indivíduos para nos ajudarem em nossas aventuras temporariamente, ajudar os outros em seus próprios mundos ou até mesmo invadi-los, a fim de dificultar ainda mais seu jogo. Diferentemente dos antecessores, contudo, as mecânicas foram nitidamente aprimoradas, basta tocar um sino para se abrir para o multiplayer e agora podemos definir passwords para afunilar a busca, facilitando o jogo com amigos. Além disso, diversos dungeons opcionais foram acrescentados, áreas que testam nossas capacidades ao máximo e aumentam consideravelmente a duração do game. Aqui entramos em um aspecto bastante interessante da obra, que a diferencia ainda mais dos outros trabalhos de Hidetaka. Grande parte do jogo é inteiramente opcional e pode ou não ser trilhada. Naturalmente, percorrer cada um dos caminhos disponíveis apenas traz vantagens, aumentando nossa percepção desse universo, como melhorando nosso personagem através da obtenção de diferentes itens e o avanço em níveis em si.

O game, portanto, se diferencia, se torna único através da ênfase em diferentes detalhes e isso podemos observar mesmo na questão gráfica. Tanto Demon’s Souls quanto Dark Souls já contavam com uma impressionante profundidade de campo, mas aqui isso assume um diferente nível, fazendo jus à sua presença na nova geração. Desde o luar até os paralelepípedos nas ruas podemos observar um detalhismo enorme, garantindo o perturbador realismo que a obra assume. Tal fator ainda influencia as vestimentas que portamos, muitas delas extremamente semelhantes, mas com detalhes pontuais que as tornam diferentes umas das outras. Essa escolha estética, pode parecer preguiçosa por não conter a variação vista na série anterior, mas se encaixa perfeitamente com o conceito vitoriano apresentado, em uma era de padrões seria estranho ver diferentes armaduras por aí.

Com isso em mente é fácil constatar que Bloodborne é, de fato, um jogo digno de ser chamado exclusivo do Playstation 4, fazendo total uso das capacidades do console. Certamente minha escolha em adquiri-lo não foi desperdiçada. Trata-se de uma obra que precisa ser experimentada tanto para novatos quanto para os velhos apreciadores da série Souls. Afinal, em uma época de crescente facilidade, precisamos de algo que, efetivamente, teste nossas capacidades como jogadores. Dito isso, apreciem agora a fantástica cutscene inicial do game.

Bloodborne
Desenvolvedor:
From Software
Lançamento: 24 de Março de 2015
Gênero: Ação/ RPG
Disponível para: PS4

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