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Crítica | Blade Runner, O Caçador de Androides (Trilha Sonora Original)

por Guilherme Coral
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Ao longo da história do cinema testemunhamos algumas obras com imagens tão intrinsecamente ligadas à música, que se desvincularmos tais músicas do filme, teríamos um produto completamente diferente. Longas como Star WarsIndiana JonesJornada nas Estrelas: O FilmeTubarão, dentre muitos outros perderiam grande parte do brilho sem suas respectivas trilhas sonoras. Blade Runner, O Caçador de Androides é um desses filmes, cuja atmosfera é construída tanto pela imagem quanto pelo som, contando com as composições de Vangelis, não somente emblemáticas, como importantíssimas para a história da música eletrônica.

O que Vangelis fez aqui foi misturar sintetizadores com composições mais clássicas, fazendo bom uso do jazz para, nessa mistura, garantir à obra o seu tom noir futurista. A utilização de sintetizadores, como o icônico Yamaha CS-80, utilizado, também, no tema de abertura de Doctor Who, durante  a década de 1980, faz desse um álbum bastante único, a tal passo que, somente de escutar suas músicas, somos transportados para esse universo do filme de Ridley Scott. É importante, também, notar como essas faixas são, também, facilmente reconhecíveis, não se configurando apenas como melodias atmosféricas “esquecíveis” – assim como o longa, elas permanecem em nossas mentes bastante tempos termos as escutado.

O álbum abre com duas faixas, Main Titles – From “Blade RunnerBlush Response, que utilizam trechos de diálogos do filme, bem evocando as memórias do filme no ouvinte. Esse artifício garante um ar cíclico ao álbum, que é finalizado com Tears in Rain, que utiliza o icônico discurso final de Roy Batty (Rutger Hauer). Essa utilização de falas do filme já nos prepara para a mistura de sons diegéticos e não diegéticos da trilha, que, em determinados pontos, nos faz nos questionar se estamos ouvindo um trecho do filme ou não.

Pode-se dizer que Blade Runner – End Titles, penúltima faixa do álbum, é a que melhor resume o trabalho do compositor, contando com leve participação de vocais, uma batida acelerada, marcada ocasionalmente por tambores, fundindo o velho e o novo de tal forma que entendemos qual a proposta do álbum de imediato. Por outro lado, não devemos esquecer de músicas no estilo mais clássico, como Love Theme, um lento jazz, que, sim, conta com a presença de sintetizadores, mas em segundo plano, permitindo que o saxofone tome conta de quase todo o espaço sonoro.

O estilo clássico aparece claramente, também, na marcante Rachel’s Song, que conta com traços eletrônicos um pouco mais evidentes, mas que é dominada pelo vocal feminino, remetendo-nos imediatamente à personagem do título da composição (ainda que, no filme, seu nome seja soletrado como Rachael). Já em Blade Runner Blues, Vangelis brinca, criando melodias sintéticas emulando o jazz, quase como se experimentasse com seus instrumentos.

Vangelis, então, nos surpreende, já próximo ao fim do álbum, com melodias que adotam tons de música árabe, tanto em Tales of the Future, quanto em Damask Rose. Surpreendentemente, essa completa mudança significativa ainda combina com o restante da obra, de tal forma que nossa imersão é mantida sem qualquer abalo, visto que a tal ponto já estamos acostumados com a constante alternância entre o eletrônico, o clássico e o jazz.

A trilha sonora original de Blade Runner, portanto, é uma peça essencial do longa-metragem, que não apenas ajuda a construir sua atmosfera, como nos envolve de tal maneira que somos sugados para dentro dessa narrativa noir futurista. Mesclando o clássico com o eletrônico, Vangelis cria uma obra que merece ser escutada e apreciada – são composições que claramente passaram por um processo criativo cuidadoso, no qual o compositor foi atento com cada detalhe, criando, pois, um álbum memorável e imprescindível ao filme.

Blade Runner (Trilha Sonora Original)
Compositor:
Vangelis
País: Reino Unido, Estados Unidos
Lançamento: abril de 1994
Gravadora: Warner Music, Atlantic Records
Estilo: Trilha Sonora

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