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Crítica | Blade Runner: Black Lotus – 1X12: Almas Artificiais

Expectativa versus realidade.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Expectativa é um negócio complicado. Não que, depois de 11 episódios de Black Lotus, eu tivesse grandes expectativas por uma série que é no máximo “legal” e que acompanho muito mais por estar inserida no universo de Blade Runner do que por seus próprios méritos, mas, mesmo assim, e mesmo considerando que eu normalmente tento simplesmente não ter expectativas, eu estava esperando que Almas Artificiais fosse um episódio contendo 22 minutos ininterruptos de pancadaria entre Elle e Water Lily, sua versão albina. Sem história mesmo. Só pancadaria do começo ao fim.

E os primeiros segundos me enganaram direitinho. Estava com a pipoca pronta para ver exatamente o que eu queria ver, somente para tudo ser interrompido bruscamente pela chegada da polícia e as duas fugirem, cada uma para seu lado. Que decepção… Foi o equivalente audiovisual ao coito interrompido, aquela quebra de expectativa que não é boa por subverter conceitos, mas sim somente por ser uma quebra de expectativa ou, talvez melhor dizendo, um adiamento da pancadaria para o último episódio, algo que poderia ser interessante se  sua substituição, aqui, não fosse outra decepção, ainda que não exatamente gigantesca ou daquelas que nos fazem perder a esperança por uma série.

Afinal, se não temos Elle e Water Lily se pegando, temos Joseph e Marlowe em um combate mortal por grande parte do episódio. Uma coisa – e apenas uma coisa – me surpreendeu nessa troca: descobrimos que o prédio que Joseph mora é o mesmo em que J. F. Sebastian, do filme original, morava, o famoso, lindo (e real) Bradbury Building, no centro de Los Angeles. Ou, pelo menos, é um prédio exatamente igual ao de Sebastian. Tirando isso, a pancadaria entre os dois Blade Runners me pareceu pouco inspirada, ainda que a movimentação em computação gráfica seja novamente muito boa, tudo o que as aparências dos personagens humanos não são.

Não só isso, mas esse combate final entre dois inimigos mortais desfaz o grande destaque de Clair de Lune, que mostrou que foi Joseph que acabou matando sua amada replicante, em um momento trágico e pesado. Tendo sido Marlowe o assassino, o evento traumático torna-se narrativamente banal e bem mais fácil de lidar em termos psicológicos, já que Joseph continua sendo pintado como “bonzinho” e, agora, Marlowe torna-se ainda mais frio e malvado. É como se a história precisasse de mais justificativas para desembocar na luta feroz e destrutiva entre os dois e na morte de Marlowe ao final.

Aliás, falando em mortes, chega a ser engraçado o quanto outras mortes foram fáceis ao longo da temporada se comparadas com as que (não)acontecem aqui. Joseph leva dois tiros, um deles de escopeta na barriga, e consegue sair andando com Elle e Marlowe precisa de três tiros de escopeta e mais uma queda de sei lá quantos andares para realmente morrer (sem essa queda, eu duvido que ele teria morrido…). E, pior ainda, Alani, personagem que até agora não disse a que veio, depois de deixar Elle fugir, é atravessada pela espada medieval empunhada por Water Lily e consegue arrastar-se em silêncio para a segurança em uma demonstração do que só podem ser poderes místicos…

Certamente minha percepção da qualidade do episódio foi afetada por minhas expectativas do que eu esperava que ele fosse, mas a troca, ou seja, o que ele realmente acabou sendo foi uma decepção também. Não é o fim do mundo nem de longe, mas Almas Artificiais me pareceu muito mais um filler do que qualquer outra coisa, pois teve como única função efetiva atrasar o embate final, ou seja, a chegada de Elle no quartel-general de seu verdadeiro algoz. Agora fica a torcida para que o encerramento da temporada (ou seria da série?) compense o que acabou não acontecendo aqui.

Blade Runner: Black Lotus – 1X12: Almas Artificiais (EUA/Japão, 30 de janeiro de 2022)
Direção: Kenji Kamiyama, Shinji Aramaki
Roteiro: Brandon Auman
Elenco (em japonês): Arisa Shida, Takayuki Kinba, Shinshu Fuji, Takaya Hashi, Takehito Koyasu, Masane Tsukayama, Takako Honda, Yurie Kozakai, Hoshu Otsuka, Taiten Kusunoki, Yoshiko Sakakibara, Akio Nojima, Yuuya Uchida, Yoko Honna
Elenco (em inglês): Jessica Henwick, Barkhad Abdi, Will Yun Lee, Brian Cox, Wes Bentley, Gregg Henry, Samira Wiley, Charlet Chung, Stephen Root, Josh Duhamel, Peyton List, Henry Czerny, Greg Chun, Alessia Cara
Duração: 22 min.

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