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Crítica | Black Mirror – 6X05: Demon 79

Surge o "espelho vermelho".

por Luiz Santiago
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Apresentado como um produto “Red Mirror“, Demon 79 se sagra como o melhor episódio da 6ª Temporada de Black Mirror e mescla “horror setentista, sobrenatural e ingredientes que transitam entre o psicológico e o sociopolítico“. Em entrevista, Charlie Brooker disse que a ideia dessa nova marca, com abordagem bem peculiar (vejam logo acima, onde cito as definições) era fazer algo diferente, mas que fosse adjacente a Black Mirror, uma série cujo foco está nas distopias tecnológicas e sátiras midiáticas. Pois bem, Demon 79 é um experimento. Mas um daqueles incrivelmente bem feitos. Confesso que não gosto do fato de o episódio ter aparecido no fechamento de uma temporada de Black Mirror, porque quebra a unidade geral deste ano do show, mas também convenhamos que Charlie Brooker não esteve tão interessado em “unidade dramática” nesse sexto ano, não é verdade?

Com abordagem visual introdutória e trilha sonora inspiradas em O Iluminado, o episódio começa dizendo exatamente a que veio. A exposição do medo é imediatamente intensa e a direção de Toby Haynes centraliza sua atenção no isolamento de Nida Huq (Anjana Vasan), indo do trabalho para casa, vivendo uma vida ordinária, sem amigos, sem diversões e com um progressivo medo social do racismo e da xenofobia; e um ódio por algumas pessoas de seu trabalho crescendo dentro de si. Esta, aliás, é a receita motivadora para o que teremos desenvolvido no roteiro: um texto que Brooker escreveu com Bisha K. Ali, e que exibe, quase sem querer, uma excelente comédia sombria e ácida, centrada na construção de Gaap (Paapa Essiedu), o demônio que Nida acaba convidando para se manifestar em sua casa, após validar a simbologia de um talismã que ela encontra por acaso.

Existe uma dupla linha interpretativa possível para este episódio, mas o enredo fixa um caminho bem evidente de que Nida está imaginando tudo o que ocorre, e que o tempo que ela vai passar com o demônio no “inimaginável nada” é o período de seus anos de prisão ou hospital psiquiátrico. Lembremos que ela diz para o policial que todo mundo achava que a mãe dela era louca, e também que há indicações em um jornal do episódio Loch Henry (que é o futuro desse Universo, portanto, o mundo não acabou coisa nenhuma) que o fascista Michael Smart (David Shields) conseguiu fundar o partido Britannia. A diferença é que as coisas parecem ter demorado vinte anos para acontecer.

Mas a graça da coisa toda é justamente a possibilidade — que sim, existe, e é cultivada pelo próprio episódio, em seu âmbito menos investigativo e mais literal — de tudo o que Nida vê ser perfeitamente real; de ela estar matando a serviço de um demônio que é uma hilária corruptela da missão do anjo em A Felicidade Não se Compra, para evitar o apocalipse.

A dupla Anjana Vasan e Paapa Essiedu está incrível em seus papéis aqui, fazendo valer a escolha da direção em destacar o par e tornando todas as suas cenas magnéticas. Entre a comédia, o horror dos anos 70 e o assassinato na pegada dos filmes slasher, Demon 79 é uma fantástica brincadeira com as teorias da conspiração, com a escatologia de algumas religiões e com a interação entre mundos, explorada pelas mais diversas linhas do esoterismo. Tudo isso acompanhado por uma multiplicidade bem equilibrada de gêneros. Fechou a temporada com chave de ouro, embora fosse ainda melhor se estivesse em um show exclusivamente com essa pegada.

Black Mirror – 6X05: Demon 79 (EUA, Reino Unido, 15 de junho de 2023)
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Charlie Brooker, Bisha K. Ali
Elenco: Anjana Vasan, Paapa Essiedu, Katherine Rose Morley, David Shields, Nicholas Burns, Shaun Dooley, Emily Fairn, Nick Holder, Joe Evans, Hayley Considine, Joshua James, Steve Garti, Vicky Binns, Jonny Cordingley, Joe Hughes, Bethan Nash, Janie Booth, Joseph Aumeer, Lillie Mae Law
Duração: 74 min.

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