Há SPOILERS! Clique aqui para ler críticas de todos os episódios. E clique aqui para ler as críticas das HQs.
Operar em um nível diferente daquele apresentado no início de uma série, pode ser um risco. Para Black Lightning, porém, isso tem sido uma forma inteligente de abrir possibilidades de uma maneira convincente e que encante o espectador. Começando em Lawanda: The Book of Burial e se estruturando de verdade em Black Jesus essa fase da série procura tornar o Raio Negro um personagem mais cheio de camadas e também procura dar a oportunidade de outros personagens crescerem. Isso, sem que dependam exatamente de uma ação do protagonista, como no caso de Anissa, investigando sua fonte de poderes e encontrando coisas sobre passado da família.
É uma boa surpresa para uma série urbana como Black Lightning ter em sua base um pouco de teoria da conspiração e de “planos maiores do que as próprias pessoas”. Quando falo isso, penso no desenvolvimento do próprio Jennifer Pierce, que no futuro precisará ter coisas maiores para se envolver, à medida que suas garotas forem despertando poderes, assumindo personas vigilantes ou que outro herói apareça na cidade. A forma mais segura de colocar algo desse porte em uma trama já em andamento é jogar com cartas que estejam na mesa, então, a inserção do avô de Anissa como um repórter misteriosamente assassinato enquanto estava no meio de uma investigação igualmente misteriosa, cai como uma luva ao novo propósito.
Mas aí temos o personagem de Marvin ‘Krondon’ Jones III que parece perder fôlego diante da ameaça constante de Raio Negro “atrapalhando seus negócios” e da presença opressiva e ameaçadora de Lady Eve. Em vez de criar um ambiente em que ele pelo menos pudesse se estabelecer melhor como alguém acossado, temos um bloco de ação que tecnicamente é aplaudível (fotografia e atuações em destaque), mas que na malha do episódio fica solto. Qual era a grande ameaça que o pai de Tobias apresentava? Todo esse sacrifício para uma “morte simbólica”, apenas para curar uma mancha psicológica, um trauma de infância, parece exagero demais, não? E pior: sendo Tobias um dos chefões do crime na cidade, como é possível que ele não tenha conseguido rastrear o pai, sendo necessário a irmã para que isto acontecesse? Não é provável e não caiu bem ao capítulo. A sorte é que outra ameaça volta em um flashback para uma fala de Lady E. e o personagem realmente encontra algo para temer. Sua posição está ameaçada.
Mas Tobias também protagoniza uma ótima cena nesse episódio. A visita a Gambi foi bastante reveladora e mostrou a habilidade do roteirista Adam Giaudrone em abordar uma “causa secreta” de maneira indireta, soltando informações que sabemos significar muita coisa, mas das quais ainda não temos detalhes. E isso é bom, porque não nos deixa no escuro por muito tempo, mas também não adere ao caminho didático de ter que explicar tudo de uma vez, o que certamente atrapalharia o episódio e seria completamente desnecessário.
É possível aceitar o Raio Negro em seu drama familiar e o desvio cotidiano das cenas escola, o que parece ter incomodado alguns espectadores (não entendo por quê). Nem sempre um personagem precisa ser mostrado em seu local de trabalho! E outro bom ponto aqui é a mostra de uma fraqueza e um ataque misterioso que o personagem enfrenta. Ao torná-lo vulnerável, o enredo ganha ainda mais pontos do lado humano e se distancia da faixa de apelação, status que poderia, já bastante cedo, manchar a concepção do personagem, do qual conhecemos aqui o lado teimoso e inconsequente. Outro ponto positivo para o roteiro.
A tendência será, até o meio da temporada, vermos essa ampliação do Universo dos personagens e seu entorno, contando com revelações e aparição de pessoas para o elenco regular; isso até que o ciclo comece a se fechar e algumas outras janelas se abram. Mesmo em capítulos com uma direção mais calma do que deveria, como este, tal marca narrativa funciona bem, a despeito de seus tropeços. Vamos torcer para que continue funcionando. E que não deixe bons personagens à deriva.
Black Lightning – 1X05: And Then the Devil Brought the Plague: The Book of Green Light (EUA, 2018)
Direção: Rose Troche
Roteiro: Adam Giaudrone
Elenco: Cress Williams, China Anne McClain, Nafessa Williams, Christine Adams, Marvin ‘Krondon’ Jones III, Damon Gupton, James Remar, Edwina Findley Dickerson, Charlbi Dean Kriek, Antonio Fargas, Whitney Anderson, Eric Mendenhall, Kyanna Simone Simpson, Terrence ‘T.C.’ Carson, Jessica Fontaine
Duração: 43 min.