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Fica progressivamente mais difícil para o The 100 controlar as ruas após a onda de inspiração gerada pelo Raio Negro, em seu retorno da aposentadoria. Neste terceiro episódio da série vemos um leve passo atrás no que diz respeito ao avanço geral da grande trama, mas em compensação, temos um começo de desenvolvimento para Anissa (Nafessa Williams), que após ter entendido que seu corpo estava passando por mudanças ligadas à manifestação de super-poderes, resolve fazer um teste e algumas pesquisas sobre mutação genética. Com cuidado, o texto vai mostrando como o pai sai das sombras para começar salvar a cidade e como a filha descobre e lida com a chegada de seu novo dom.
O roteio de Jan Nash peca por fazer da morte da Lawanda, ocorrida em The Book of Hope, o motor central de uma iniciativa por parte do reverendo do bairro, resultando na organização de uma marcha pacífica com um trágico final. Existem alguns diálogos que tentam dar peso e contexto à essa decisão, mas a ação não deixa de parecer abrupta e, por isso mesmo, deslocada do todo. Como se trata da principal linha do texto (vide o título do episódio), é fácil concluir o por quê diversos outros pontos são afetados, já que estão diretamente amarrados à pregação de descontentamento civil e suas consequências. A porta aberta aqui também fazer surgir a necessidade de contexto para a tecnologia usada por Gambi e, claro, para origem dos poderes do Raio Negro. É mais do que óbvio que ambas as coisas iriam aparecer no futuro, mas como tudo está indo para um caminho mais maduro que o esperado, essas informações começam a fazer alguma falta.
A ação diminui neste episódio, e isso é bom. Há muito mais tensão e expectativa, agora dividindo-se em dois blocos: um protagonizado pelo Raio Negro, que tenta aprimorar a sua patrulha e tem ajuda de Gambi (James Remar) na construção de armamentos e cobertura de ação na cidade; e outro protagonizado por Anissa, que nos coloca em grande suspense porque não sabemos que obstáculos podem acontecer ao seu redor e como ela pode reagir diante de ameaças desconhecidas, ainda mais neste momento em que não domina ou de fato entende os seus poderes. Beneficiando-se da opção pelas cenas noturnas, um charme dramático da série que é perfeitamente aproveitado pela direção de fotografia — percebam as nuances de azul quando o destaque visual é para os heróis e as variações de luzes incandescentes, sépia ou de cores quentes quando se trata de outros personagens — o diretor Mark Tonderai joga o tempo inteiro com a possibilidade de algo ruim estar escondido em algum lugar, de algo que só aparece na calada da noite vir à tona e atingir pessoas inocentes.
Mas há um interessantíssimo clima de origens no ar. E eu já não consigo mais esperar para falar disso (pretendia esquematizar o assunto apenas no meio da temporada, mas como disse acima, a série está amadurecendo rápido, então já é tempo de trazer o assunto à tona). Para quem não conhece muito bem as histórias em quadrinhos, Anissa irá se tornar a heroína Tormenta (Thunder, personagem criada em 2003), que tem a habilidade de aumentar a massa de seu corpo, mas preservar o volume, o que aumenta de maneira considerável a sua densidade, tornando-a praticamente imutável e invulnerável enquanto usa seus poderes. Será muito interessante ver como isso aparecerá em matéria de efeitos especiais e visuais na série e, principalmente, como esse elemento heroico será entrelaçado ao vigilantismo do já atuante Raio Negro.
Essa semana (31 de janeiro de 2018) apareceram notícias de que os produtores querem trazer Super-Choque para a série. E já que estamos falando isso, não vamos ignorar duas coisas que obviamente vão aparecer provavelmente ainda nesta temporada: Grace Choi (Chantal Thuy), que Anissa conhece neste episódio, na cena da Biblioteca, também é uma super-heroína com super-força e fator de cura e regeneração, além de ser uma Amazona de uma tribo diferente da de Hipólita. E claro, Jennifer, a caçula de Pierce, que também desenvolverá poderes e será a fantástica heroína Rajada (eu simplesmente amo essa personagem nas histórias da Sociedade da Justiça!), ou seja, ainda tem muita coisa legal para aparecer na série se os produtores derem de fato atenção aos quadrinhos nos quais ela é baseada. E até agora, tudo indica que darão sim.
Com ótima referência aos Renegados e sequência do drama e crítica social correntes na série — mesmo que parcialmente prejudicadas pelo motor narrativo do episódio — Black Lightning segue em passos firmes pelo mar de incertezas da CW. Este episódio é mais fraco que os anteriores, mas os motivos não indicam um descuido por parte do roteiro, é apenas um ponto de partida não muito favorável ao que a trama quis mostrar. Não dá para evitar ficar animado e esperar muitas coisas boas do show. A proposta e a execução seguem excitantes.
Black Lightning – 1X03: Lawanda: The Book of Burial (EUA, 30 de janeiro de 2018)
Direção: Mark Tonderai
Roteiro: Jan Nash
Elenco: Cress Williams, China Anne McClain, Nafessa WilliamsChristine Adams, Marvin ‘Krondon’ Jones III, Damon Gupton, James Remar, Donny Carrington, William Catlett, David Dunston, Eric Mendenhall, Shein Mompremier, Chantal Thuy
Duração: 42 min.