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Crítica | Black Hammer: O Evento

As muitas possibilidades inevitáveis.

por Luiz Santiago
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O ritmo narrativo de O Evento, segundo arco de Black Hammer, é muitíssimo mais lento que o de Origens Secretas, a história de abertura da série. Aqui, o texto de Jeff Lemire segue mostrando cenas do passado dos personagens centrais, mas de maneira compassada, dando muita atenção para os ingredientes comportamentais, sentimentais e motivacionais de cada um. Maiores detalhes sobre traços de personalidade desses indivíduos são descortinados neste volume, e o autor procura ligar os acontecimentos do presente com marcantes eventos passados, nunca se esquecendo de deixar um elemento de dúvida ou uma semente de surpresa para ser explorada no futuro.

A novidade que temos logo na introdução de O Evento é a origem do segundo Black Hammer, seguida de sua morte, numa situação completamente diferente da que eu tinha pensado, após pescar as dicas do outro volume. A origem é uma mistura de histórias, mitologias e situações que referenciam Thor e Luke Cage na composição do personagem; além do Lanterna Verde, na forma como é realizada a passagem do martelo para o seu próximo portador. Essa apresentação está repleta de simbolismos, abrindo as portas para situações éticas, morais e emocionais que vão se expandir ao longo da narrativa, com destaque para as cenas entre Coronel Weird e Talky-Walky. O autor segue jogando com semelhanças estéticas entre personagens do Universo Marvel e DC, e a arte de Dean Ormston representa isso de forma aplaudível, com sua finalização meio suja e traços errantes.

O inimigo inicialmente enfrentado pelo grupo que é uma referência aos Inumanos chama-se Anti-Deus. É a derrota dele, numa batalha direta contra Black Hammer, que faz com que um grupo de super-heróis tão atormentado e tão diferente seja transportado “misteriosamente” para uma cidade que funciona como uma espécie de realidade controlada, à la Show de Truman ou até mesmo Wandavision. Com a chegada de Lucy, a filha de Black Hammer (que vimos no final do quadrinho anterior), as coisas começam a mudar. Ela é uma mulher curiosa e, mesmo tendo sua mente apagada por Madame Libélula, suspeita de que algo muito errado está acontecendo naquela cidade. Como todos os livros de história do local estão em branco e os heróis que vivem na fazenda parecem ter desistido de sair dali, o processo de investigação e procura por uma nova possibilidade de libertação encontra ainda mais obstáculos.

Eu gostei muitíssimo da edição #9, desenhada por David Rubín. É, aliás, uma edição de partir o coração, porque mostra o primeiro encontro entre o Coronel Weird e Talky-Walky, o início de uma bela amizade (sim, há uma referência à famosa conversa de Casablanca) que termina de forma trágica nesta edição. Como Weird tem visões do futuro e, além dele, apenas Madame Libélula sabe realmente o que está acontecendo, esperamos que as revelações apareçam e que as respostas venham em definitivo. Ficamos com um baita gancho de continuidade. No desfecho, Lucy sofre uma notável transformação e, segundo diz, agora lembra-se de tudo. Ao que parece, as primeiras respostas começarão a aparecer no próximo arco da série.

Em O Evento, Lemire realizou uma demonstração maior da personalidade de cada um dos principais personagens e do estágio depressivo e claustrofóbico de suas vidas atualmente, tudo embrulhado em uma preparação para algo que, segundo o próprio Weird, trará grandes mudanças. Este é o grande momento que deixa tudo em suspenso. Algo que, em última instância, também pode ser visto como uma metáfora para o amadurecimento de cada um ali, já indicando que haverá reações bem diferentes quando a verdade subir à tona.

Black Hammer: O Evento (Black Hammer: The Event) – EUA, março a setembro de 2017
Contendo:
Black Hammer #7 a 11 e 13
Editora original: 
Dark Horse Comics
No Brasil: Intrínseca, 2018
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Dean Ormston (#7–8, #10–11, #13), David Rubín (#9)
Cores: Dave Stewart (#7–8, #10–11, #13), David Rubín (#9)
Letras: Todd Klein (#7–8, #10–11, #13) David Rubín (#9)
Capas: Dean Ormston, Dave Stewart
Editoria: Daniel Chabon, Brendan Wright
176 páginas

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