Em seu segundo volume, Birthright se mostra como seu típico quadrinho de fast-food: rápido, simples e genérico. Em suas primeiras edições, já havia pontuado que o texto de Joshua Williamson segue muitos clichês narrativos de tramas de fantasia clássica, mas com alguns subterfúgios no cenário de dramas familiares de Mikey, seja sua família biológica, seja sua família em Terrenos.
Neste segundo volume, porém, o tom subversivo é mais brando. O foco do enredo está no quest de Mikey e Brennan procurando por outros magos, enquanto o protagonista lida com seu diabo no ombro. São edições voltadas para o relacionamento entre irmãos, seus compartilhamentos de histórias, e alguns momentos de ensinamentos e peripécias divertidas com intuito de fazer o leitor se importar com os personagens. A empatia funciona até certa medida, mas Williamson não consegue extrair muita substância dramática e nem desenvolver os temas que pontuei na crítica anterior, como remorso, depressão e alcoolismo – culpa parcial da pouca participação dos pais na história, de longe os personagens mais interessantes para mim.
No entanto, a leitura é gostosa. A aventura urbana é ágil, a diagramação é dinâmica e as cores explodem a cada painel. Como havia dito no primeiro volume, a mistura entre high fantasy e realismo mágico trazem um resultado visualmente e narrativamente atraente e de fácil envolvimento. As páginas fluem com muita naturalidade e a história de Mikey progride com muita desenvoltura na simplicidade de conversas com Brennan e no curioso mistério circulando seu estranho pacto com o inimigo. Os blocos de Rya ajudam nessa progressão, sendo que a mulher-alada grávida é tão fascinante esteticamente quanto dramaticamente, com sua participação levando a história para o rumo onde melhor funciona: os dramalhões familiares.
Birthright só não fica mais divertido por causa da construção de mundo de Williamson. Tudo aqui é muito pobre e preguiçoso, passando pelos antagonistas maniqueístas, a falta de criatividade para a composição dos obstáculos da jornada do Herói (todo aquele bloco com os monstros genéricos é totalmente descartável) e também um certo descaso para desenvolver conceitos de mitologia, sendo tudo mastigado demais ou entregado de maneira súbita (como a situação com as lâminas que matam os diviners).
Considerando que Williamson não parece interessado em complexidade ou inovações do que conhecemos de fantasia, está faltando mais engenhosidade para a aventura em si, talvez um MacGuffin seria bacana ou alguns empecilhos e vilões que sejam minimamente notáveis. Elogio, porém, as ideias em torno da natureza dúbia de Mikey, os questionamentos levantados em torno de suas intenções e os pequenos indícios de desconstrução do que normalmente esperamos de um protagonista predestinado.
Chamada para a Aventura diverte em sua, bem, aventura, mas também decepciona pelo rumo genérico da trama e a construção de mundo. Não há nada substancialmente especial na história, só que a simplicidade narrativa e a fluidez rápida das ações proporcionam uma leitura razoavelmente bacana. Sinto que Birthright tem mais potencial explorando seu campo realista e o cenário de dramas familiares, pois o meio mágico e mitológico não é lá muito encantador. Veremos o rumo que Williamson dita à série.
Birthright – Vol. 2: Chamada para a Aventura (Birthright – Vol. 2: Call to Adventure, EUA – 2015)
Contendo: Birthright #06 a 10
Roteiro: Joshua Williamson
Arte: Andrei Bressan
Cores: Adriano Lucas
Letras: Pat Brosseau
Editora original: Image Comics
Páginas: 128