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Crítica | Birthright – Vol. 1: De Volta ao Lar

Família e fantasia.

por Kevin Rick
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A premissa de Birthright circula a história de Mikey, um garoto que desapareceu na floresta enquanto jogava beisebol com seu pai, evento que leva sua família a níveis de desespero e separação após meses procurando o menino. Ele retorna para casa, mas de um jeitinho diferente: adulto, barbudo, musculoso, vestido com roupas malucas e dizendo que passou anos numa terra de fadas e monstros. Seu pai havia sido acusado de assassinato, sua mãe saiu de casa e seu irmão continua à sua procura, e, agora, todos se veem numa história similar à Caverna do Dragão e sua ironia maligna de um salvador que não pode retornar a seu mundo, mas que também explora os dramas daqueles que ficaram para trás.

Após a introdução com o desaparecimento de Mikey, o roteirista Joshua Williamson conta a história de forma paralela, entre a trama da família reagindo ao retorno do protagonista ao mesmo tempo com Mikey descobrindo um mundo fantástico e suas criaturas perigosas. Para isso, a HQ de fantasia se utiliza de elementos bem clássicos do gênero, desde a mitologia que mescla high fantasy e realismo mágico com a construção de mundo repartida (também com toques de “espada e feitiçaria” com referências à Conan), até clichês narrativos como Mikey ser um herói predestinado, o coming-of-age num universo de metáforas fantásticas e as batalhas maniqueístas de bem contra o mal.

No entanto, Williamson gosta de subverter arquétipos e elementos batidos da velha história de aventura épica. Primeiro que há um retrato bem realista na narrativa intercalada entre o conto de fadas de Mikey e o lado urbano com a família implodindo. O texto empresta bastante foco e emoção para o drama de perda, tocando em conflitos que vão de culpa, depressão, alcoolismo, até divórcio sendo apresentados. A dramaturgia não é exatamente profunda e paciente para meditarmos nesses problemas, até porque o volume tem uma carga introdutória e corre bastante com as brigas familiares para mover a história até o retorno de Mikey, mas os ingredientes estão na mesa para serem desenvolvidos. Além disso, Williamson demonstra que o protagonista não é exatamente seu típico herói de cavalo branco que cumpre a profecia messiânica, diluindo pequenos níveis de violência, mentiras e ambiguidade na composição do barbudo carismático.

Gradualmente, Birthright demonstra sua proposta: utilizar a fantasia como meio de explorar dinâmicas familiares. Como dizemos quando o problema envolve parentes: “é complicado”. Do pai irresponsável, o filho meio ignorado (adoro a maneira sutil que Williamson mostra isso), até a mãe recriminadora, a história faz um ótimo trabalho humanizando e criando simpatia na interação do elenco. A estrutura complicada entre as duas “linhas do tempo” é bem montada e ajuda a enfatizar os dramas familiares, inclusive trazendo problemas do mundo fantasioso com os novos relacionamentos de Mikey. De certa forma, a obra me lembra Saga, que, mesmo não tendo a mesma qualidade, utiliza um cenário fantasioso para contextualizar temas realísticos, como gravidez, drogas e traições, proporcionando até uma certa carga de bom melodrama e humor à série (o painel final é um exemplo maravilhoso disso).

Falando da arte, o trabalho também é sólido. O artista Andrei Bressan e o colorista Adriano Lucas alternam com cuidado entre o meio urbano e suas cores frias e linhas escuras, com a explosão colorida do mundo medieval. Os painéis também são dinâmicos entre os dois universos, intercalando entre as páginas focadas em rostos cheios de dor e os layouts espaçados da grande aventura de Mikey. Sinto, porém, a falta de mais detalhe nos desenhos, começando na construção do mundo fantasioso e seus designs comuns para as criaturas e ambientes (sinto que esqueci tudo no momento que terminei a leitura), e terminando nas expressões faciais dos personagens que ficam feias e estranhas quanto mais distantes no painel.

De certa forma, minha impressão da arte é a mesma de Birthright como um todo: bonito e sólido, mas não é nenhum espetáculo visual e narrativo. Vejo isso principalmente no desenrolar genérico da história à medida que a trajetória da aventura se mostra batida com um desinteressante vilão maligno, uma série de exposição para uma mitologia trivial e a aventura que não encanta. Ainda assim, a obra mostra potencial onde importa, no seu coração que envolve as dinâmicas e relacionamentos familiares de Mikey e companhia. Uma fantasia bem humana.

Birthright – Vol. 1: De Volta ao Lar (Birthright – Vol. 1: Homecoming, EUA – 2015)
Contendo: Birthright #01 a 05
Roteiro: Joshua Williamson
Arte: Andrei Bressan
Cores: Adriano Lucas
Letras: Pat Brosseau
Editora original: Image Comics
Páginas: 128

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