Com o sucesso – e a merecida premiação – de Los Pollos Hermanos Employee Training, websérie estrelada por Giancarlo Esposito que foi ao ar online durante a terceira temporada de Better Call Saul, não havia dúvidas que Vince Gilligan e Peter Gould bolariam alguma outra coisa para o ano seguinte. E o resultado foi uma websérie com premissa, formato e execução muito parecidas à obra anterior, só que desta vez estrelado por Jonathan Banks como o inesquecível Mike Ehrmantraut, chefe de segurança da Madrigal.
No entanto, a similaridade de Madrigal Electromotive Security Training com o que veio antes não retira a qualidade do que foi feito neste segundo esforço e por duas razões principais. A primeira é o próprio Banks, personagem sempre sério, sisudo e, quando necessário, violento do Universo Breaking Bad, pois ver o ato fazendo comédia com aquele rosto sério, de poucos amigos, cujas únicas emoções que podemos chamar de mais leves são o deboche e a completa falta de paciência é absolutamente impagável, superando, inclusive, o Gus Fring de Esposito nos vídeos de treinamento dos funcionários da Los Pollos Hermanos.
Banks, sobreposto a “fundos falsos” de Zoom das instalações da Madrigal falando sobre “responsabilidade dos empregados”, “práticas de contratação”, “segurança de perímetro”, “inteligência social” e “confidencialidade”, dentre outros assuntos sensíveis a um ambiente de trabalho que é fachada para um império criminoso é um completo deleite, especialmente considerando que o ator faz seu Banks como alguém que está basicamente forçado a estar ali explicando o “be-a-bá” a gente que ele reputa incompetente. O humor de Banks é fino, daqueles que causa risadas só de vê-lo em tela com aquele olhar assustador de peixe morto e proferindo as palavras com um misto de automatismo, sarcasmo, ironia e também seriedade que só ele conseguiria.
E o melhor é que – e aí chegamos à segunda razão pela qual a similitude desta websérie com a anterior não reduz sua qualidade -, diferente do que se vê em Los Pollos Hermanos Employee Training, Mike interage de leve com uma Lydia Rodarte-Quayle off camera, que reclama do jeito que ele fala as coisas. São pequenas intervenções, normalmente só citando o nome de Mike em frustração ou com Mike simplesmente olhando para algum ponto “dos bastidores” que nós sabemos que é Lydia. E essas altercações levam à Mike ter que ler declarações escritas da Madrigal que tentam eximir a responsabilidade da empresa sobre o que ele diz fora de roteiro, o que cria uma bem-vinda e hilária continuidade entre os episódios, com Mike rolando os olhos para as besteiradas que precisa ler e, por vezes, simplesmente ignorando tudo e seguindo em frente com o treinamento.
Assim como na websérie anterior, muita coisa que Mike diz é ilustrada com animações jocosas e cheias de referências às séries – inclusive com participação silenciosa de Walter White e Jesse Pinkman – que ajudam a preencher os menos de dois minutos de cada episódio com conteúdo interessante que vai além de alguém olhando para a câmera. Diria, até, que há mais variedade e detalhismo aqui, do que na obra anterior, mas isso pode ser resultado de minhas incessantes risadas com Banks fazendo seu Mike da maneira mais monocórdia possível, amplificando o sobretom ameaçador de suas “lições”.
Madrigal Electromotive Security Training é mais um breve deleite audiovisual derivado de Better Call Saul que tem o grande defeito de, no total, durar menos do que 30 minutos. Mas, como dizem por aí, os melhores perfumes vêm nos menores frascos, não é mesmo?
Better Call Saul: Madrigal Electromotive Security Training (Idem – EUA, 20 de agosto a 10 de outubro de 2018)
Direção: não informado
Roteiro: não informado
Elenco: Jonathan Banks
Duração: 25 min. aprox. (10 episódios no total)
