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Crítica | Better Call Saul – 6X06: Axe and Grind

Não há como voltar atrás.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e, aqui, de todo o Universo Breaking Bad.

Rhea Seehorn teve a vez dela em Hit and Run e, agora, temos Giancarlo Esposito estreando como diretor na TV, mas já com dois longas nesta cadeira no currículo, Gospel Hill, de 2008 e Esta é a Sua Morte, de 2017. O problema é que Axe and Grind é o menos interessante, menos engajante episódio da temporada até agora, ainda que tenha uma breve sequência de ação com Lalo lá na Alemanha e o provável momento definidor da vida de Kim Wexler, em que ela, ao retornar no meio de sua viagem até Santa Fé, abre mão de sua chance de ir fundo em um projeto legítimo para embrenhar-se de vez em seu golpe contra Howard, provavelmente com consequências desastrosas.

Começando com um excelente flashback para quando Kim era Kimmy, em que a vemos depois de tentar furtar um par de brincos e um colar de uma loja, somente para sua mãe fazer um escândalo não para lhe dar uma lição, mas sim para fazê-la escapar de qualquer consequência, algo que funciona bem para ilustrar de onde vem sua conexão com Jimmy para além de um relacionamento amoroso, o que vem a seguir amorna substancialmente o passo e, mais do que isso, empurra todas as grande revelações sobre seu plano para o episódio seguinte, que marcará o hiato de um mês e meio até o retorno da série para sua estirada final (chuiff, chuiff…). É, sem dúvida alguma, um capítulo preparatório, mas diria que essa preparação já vinha acontecendo a algum tempo e é frustrante que ainda saibamos tão pouco do que a dupla quer afinal fazer.

Tudo bem que as peças nos são apresentadas, ou seja, Jimmy usando aquela medicação para dilatar suas pupilas (e, no processo, esbarrando no cartão da mítica loja de aspiradores de pó!), depois sendo visto com sua equipe de filmagem criando fotos de um dublê de corpo e rosto de alguém chamado Casimiro, provavelmente o juiz mediador do caso Sandpiper, e, finalmente, fazendo com que Francesca ligue para o HMM para descobrir o número de conexão da reunião de mediação do caso em questão, mas essas peças não nos dizem muita coisa, pois seus encaixes são, na melhor das hipóteses, difusos. Eu sou o primeiro a defender a capacidade impressionante de Vince Gilligan e Peter Gould em surpreender seus espectadores – estou até agora aturdido com Lalo aparecendo na Alemanha no episódio passado – , mas, aqui, a natureza críptica de tudo o que vemos detrai do quando consegui entrar na tensão do que significa que o Casimiro verdadeiro quebrou seu braço e o quanto isso tem a tendência de fazer ruir o cuidadoso plano de Kim. O roteiro de Ariel Levine, em seu primeiro trabalho solo para a série, depois de entregar dois episódios incríveis em parceria com Gould e Thomas Schnauz, nos diz que isso é grave, mas em uma obra do naipe de Better Call Saul, dizer não é suficiente.

Com isso, o coração do episódio não bate com a força que nos acostumamos a esperar na série em geral e na temporada em particular e parece mais um tamborilar de dedos no descanso da cadeira na espera de algo grande em uma semana. No entanto, isso não quer dizer que Axe and Grind não funcione, pois, muito pelo contrário, ele funciona bem, apenas não conseguindo, no geral, subir às alturas do material que veio antes. Aliás, é interessante notar que os três melhores momentos do episódio não se conectam diretamente com o golpe de Kim ou mesmo sua decisão ao final, mas sim a aspectos domésticos, por assim dizer, de três personagens.

O primeiro ocorre no casarão vazio e frio de Howard, em que o vemos se vestir cuidadosamente e a preparar o café para sua esposa com ainda mais esmero, somente para ela derramar o conteúdo da bela xícara de cappuccino, com direito a um sugestivo símbolo da paz, em um copo de plástico porcaria para beber na direção do trabalho, em uma bela demonstração visual do quanto o casamento deles está próximo do fim. Ou está no fim, se pararmos para pensar no quanto ela faz questão de manter-se distante do marido na enorme cozinha e no quanto ela tem sua vida completamente separada da dele. A abordagem melancólica do momento, com Howard reagindo com uma positividade que esconde sua tristeza ou desapontamento, é um primor de direção por parte de Esposito.

O segundo momento doméstico é uma breve cena dupla em que primeiro vemos Francesca orgulhosa do que ela fez no escritório de Saul e, depois, os clientes de seu chefe destoando completamente do ambiente, com um deles inclusive apagando o cigarro no sofá (isso sem contar com o outro se aliviando bem na sala de Saul…). Há comicidade ali, claro, mas também uma definição ainda mais clara do futuro do protagonista, futuro esse que conhecemos, mas que só com a série prelúdio entendemos realmente o quanto já custou e o quanto provavelmente ainda custará.

E, finalmente, temos a mais bonita sequência do episódio, que revela o quanto a paranoia e o medo pelo retorno de Lalo cobra não só de Gus, mas também de Mike. A cena em que ele tem um momento telefônico com sua neta, tendo que mentir sobre onde ele está, é muito bem preparada por sua conversa com Tyrus, em que o capanga de Gus sugere ao ex-policial que desloque pessoal da “casa de Alameda”, já que esse seria o alvo menos provável, algo que Mike, claro, se recusa a fazer em razão do quão sua neta é preciosa para ele. Um tecnicamente simples, mas visual e dramaticamente esplendoroso momento de demonstração de amor.

Axe and Grind é o episódio que representa a calma antes da tempestade que, porém, é potencialmente tranquilo demais, mesmo que a preocupação dos showrunners sempre tenha sido com os personagens e não com a ação e mesmo que conte com um pé violentamente decepado. É um pouco decepcionante, verdade, mas decepção em Better Call Saul tem outro significado e não é um problema no cômputo geral. Agora é só nos preparamos psicologicamente para um meio de temporada que promete ser bombástico e, mais ainda, para o intervalo que virá em seguida.

P.s.: O título Axe and Grind significa, na literalidade, “Machado e Moagem“, com a primeira palavra conectando-se com a cena na Alemanha de Lalo e, a segunda, com a cena de Howard fazendo café para a esposa. No entanto, o título é uma subversão da expressão “Axe to Grind” de forma a manter a estrutura de títulos da temporada, com “Axe to Grind” significando “fazer algo por razões egoístas” e, claro, estabelecendo a verdadeira conexão pretendida, ou seja, com Kim Wexler e sua decisão de retornar para Albuquerque pois ela tem um “axe to grind with Howard“.

Better Call Saul – 6X06: Axe and Grind (EUA, 16 de maio de 2022)
Criação e showrunners: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Giancarlo Esposito
Roteiro: Ariel Levine
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Tony Dalton, Giancarlo Esposito, Mark Margolis, Daniel Moncada, Luis Moncada, Ed Begley Jr., Jeremiah Bitsui, Ray Campbell, Rex Linn, Javier Grajeda, Lavell Crawford, Julie Pearl, Julia Minesci, Andrea Sooch
Duração: 44 min.

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