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Crítica | Better Call Saul – 6X04: Hit and Run

Cenoura & Bronze.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e, aqui, de todo o Universo Breaking Bad.

Como costuma acontecer em séries de TV dos mais variados níveis, um episódio que, por qualquer razão, se torna um clássico instantâneo como Rock and Hard Place é seguido por outro que é quase que inevitavelmente percebido como mais lento, que permite que o espectador volte a respirar normalmente e pare de roer as unhas. E isso não é, necessariamente, um demérito para o episódio seguinte. Muito ao contrário até, pois uma boa série precisa ter um ritmo e ele não pode nem ser constantemente lento, nem veloz, precisando encontrar seu equilíbrio e Hit and Run é, definitivamente, um episódio equilibrado que é, também, a estreia de Rhea Seehorn na direção.

Se o roteiro de Ann Cherkis cai na categoria de texto de qualidade, mas eminentemente funcional, ele não é vazio de momentos memoráveis que Seehorn materializa com talento na cadeira de comando. Afinal, como esquecer daquele preâmbulo do casal de ciclistas pedalando pelo idílico bairro onde moram, veementemente reclamando do “vermelho Corpo de Bombeiros” de uma casa e, como se fosse a coisa mais comum do mundo, retornando para sua própria casa repleta de gente armada até os dentes e com aparelhos de vigilância de última geração que gera um gigantesco ponto de interrogação flutuando por sobre a cabeça de qualquer espectador? E como não ficar maravilhado com o encaixe dessa sequência inicial com o ritual de Gus, o  dono da franquia Los Pollos Hermanos, retornando para sua casa, trocando de roupa, abrindo uma passagem secreta que daria inveja em Bruce Wayne e emergindo do outro lado, na casa do casal de ciclistas, como Gus, o traficante de metanfetamina?

Só esse balé em dois tempos, por assim dizer, que Seehorn coloca em movimento como se fosse uma diretora veterana, já torna Hit and Run um episódio diferenciado que segue uma obra-prima. Mas, convenhamos, em se tratando de uma obra sob a supervisão geral de Vince Gilligan e Peter Gould, isso não é exatamente uma surpresa, pois eles, mesmo quando estão fazendo algo que resvala no comum, sabem como ninguém surpreender e, tenho para mim, a dupla acertou em cheio ao entregar algo mais simples – e simples no Universo Breaking Bad está longe de ser realmente simples, temos que lembrar – como o batismo de fogo da atriz que, aqui, mostra que tem talento também atrás das câmeras.

Hit and Run é um episódio que, sem medo de ser feliz, preza mais pela forma do que pela substância. Afinal, há tempo até para um lado cômico como parte do complicado plano de Kim para desacreditar Howard que coloca Saul disfarçado do advogado almofadinha com direito a um bronzeado “Cenoura & Bronze” e cabelo descolorado em uma cena longa e lenta, mas que é ao mesmo tempo relaxante e hilária. Entre o uso da inesquecível Wendy (Julia Minesci), a “prostituta de Jesse” que debutou lá atrás na primeira temporada de Breaking Bad, o furto momentâneo do Jaguar de Howard (a cara que Saul faz com o jazz tocando quando ele gira a chave é sensacional) e o retorno que exige improvisação e uma reação incrédula para alguém que ignora um cone de sinalização, o que vemos é ouro puro de comédia, com direito até mesmo a um vislumbre da vida caseira não tão feliz assim de um Howard exteriormente sempre altivo.

Mas nem tudo que vemos é leveza narrativa, pois se de um lado a fofoca sobre Saul ter representado Lalo Salamanca parece ter valido uma boa quantidade de clientes novos, de outro sua reputação no tribunal em que transita foi para a sarjeta completamente. Ele, que era visto como o espertalhão e malandro de uma forma benigna, agora é recebido com distanciamento por todos, do guarda no detector de metais até a mulher que costumava fazer favores para ele em troca de bichos de pelúcia. No entanto, para todos os efeitos, esse parece ser o caminho sem volta para ele que, por seu turno, não se importa em nada em trabalhar para clientes menos do que respeitáveis mas que, falando friamente, também precisam de advogado como qualquer outro tipo de cliente.

Da mesma forma, no lado de Kim, temos seu contato surpresa com Mike depois que ela confronta os dois capangas que a seguem, contato esse que revela para ela que Lalo está vivo e que confirma, para nós, que Kim é mesmo o osso duro de roer que imaginávamos na relação com Saul, algo certificado com todas as letras pelo ex-policial mal encarado. Mas mesmo a força da advogada não resiste à paranoia e preocupação que a informação nova gera para ela e que ela decide manter em segredo. Vagarosamente, portanto, mas ainda sem definição, continuamos a ver o que parece ser a conexão do misterioso destino de Kim com o de Lalo, o verdadeiro grande mistério de Better Call Saul.

Hit and Run não é, obviamente, um clássico instantâneo. Mas o episódio que marca a estreia de Seehorn na direção contém diversos momentos marcantes que vêm para dar ainda mais sabor a uma série incrivelmente saborosa. Entre os pratos principais – a batcaverna de Gus e Saul como Howard -, somos brindados com desenvolvimento narrativo compassado que continua levando a série na direção que esperamos que ela caminhe, ainda que ainda seja muito difícil prever com exatidão o que acontecerá para chegarmos ao ponto de Breaking Bad e, então, o ultrapassarmos para sabermos de Gene Takavic e tudo o que isso pode significar para Kim e Lalo.

Better Call Saul – 6X04: Hit and Run (EUA, 02 de maio de 2022)
Criação e showrunners: Vince Gilligan, Peter Gould
Direção: Rhea Seehorn
Roteiro: Ann Cherkis
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Tony Dalton, Giancarlo Esposito, Mark Margolis, Daniel Moncada, Luis Moncada, Ed Begley Jr., Jeremiah Bitsui, Ray Campbell, Rex Linn, Javier Grajeda, Lavell Crawford, Julie Pearl, Julia Minesci
Duração: 44 min.

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