Número de temporadas: 1
Número de episódios: 14
Período de exibição: 1980
Há continuação ou reboot?: Não.
Ao longo de sua chamada “Fase Histórica”, iniciada com o filme Bolwieser – A Mulher do Chefe de Estação (1977), o grande cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder redirecionou o seu olhar para as forças que moveram e, por consequência sociopolítica, ainda moviam a sociedade alemã: temáticas ideológicas e históricas que até a sua adaptação de Berlin Alexanderplatz para a TV, haviam sido exploradas em Alemanha no Outono (1978), O Casamento de Maria Braun e A Terceira Geração, ambos de 1979. Para Fassbinder, interessava tratar problemas sociais a partir de uma visão humana, focada no exercício do poder no dia a dia das pessoas; problemas não necessariamente imersos desde o início em causas políticas ou vontade de mudar o mundo. Neste primeiro episódio de Berlin Alexanderplatz é exatamente o contrário dessa vontade que vemos. E é a mudança dessa vontade que o diretor construiria na série a partir da jornada de Franz Biberkopf, personagem vivido por Günter Lamprecht.
O anunciado castigo que aqui começa é uma adaptação do famoso livro de Alfred Döblin, lançado em 1929. O que Fassbinder faz é pegar essa história de um homem que sai da prisão após quatro anos, por ter assassinado a namorada, e relacioná-la com a ascensão do nazismo na Alemanha, fazendo a promessa de “ser honesto” na vida, proferida por Franz Biberkopf, encontrar uma ironia social. Ao mesmo tempo em que lida com a dificuldade de sobreviver nesse mundo, o odiável protagonista será pouco a pouco colocado em uma posição que alterará definitivamente as suas relações sociais, assim como mudaria as relações na Alemanha a partir de 1933.
O roteiro desse piloto dedica-se principalmente a apresentar e desenvolver a personalidade de Biberkopf. Embora eu não goste da sequência de encontro dele com o judeu logo após a saída da prisão — é praticamente um momento metafórico, alegórico, num enredo inteiramente realista –, vejo essa cena como um interessante elo entre este momento pré-nazismo em oposição à completa transformação que contatos assim teriam após o partido tomar o poder. Aliás, falando em alegoria nesse momento, a história praticamente descreve a vida de milhares de alemães nesse período da República de Weimar, e a queda das aparências, a revelação da parte trágica da coisa, fica ainda mais evidente se pensarmos no período histórico posterior. É o tipo de narrativa atemporal, mas cujo sentido é ressaltado em tempos de violência.
A versão de Berlin Alexanderplatz por Fassbinder começa com uma torrente de emoções, mostrando como alguém com inúmeros problemas pessoais, psicológicos e sociais tenta se encaixar no mundo, procurando tornar-se alguém melhor, mas muitas vezes sendo tomado pela corrente, ao mesmo tempo liberando muito mais do que tem te ruim em si, e sofrendo os horrores causados pelos outros. Uma cadeia de dor que só pode mesmo ser visto como um castigo. E aqui presenciamos como tudo começa, com um filtro difuso utilizado pela fotografia, com atuações fantásticas, trilha sonora que ora ameaça e ora dança com o ambiente, mais uma direção que integra a abordagem teatral das cenas internas ao principal assunto discutido: uma sociedade doente que estava prestes a piorar.
Berlin Alexanderplatz – 1X01: O Castigo Começa (Die Strafe Beginnt) — Alemanha Ocidental, 12 de outubro de 1980
Criador: Rainer Werner Fassbinder
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Roteiro: Rainer Werner Fassbinder (baseado na obra de Alfred Döblin)
Elenco: Günter Lamprecht, Elisabeth Trissenaar, Karin Baal, Franz Buchrieser, Peter Kollek, Brigitte Mira, Mechthild Großmann, Barbara Valentin, Hans Zander, Yaak Karsunke, Claus Holm, Roger Fritz, Hanna Schygulla, Juliane Lorenz
Duração: 81 min.