Os oceanos nos fornecem a maior parte do oxigênio que dispomos. É um ecossistema que cobre ¾ da superfície terrestre. É lá que espécies diversas habitam e nos fornecem fonte de alimentação, matéria-prima para produtos farmacológicos, dentre outros benefícios. Cientes de sua importância biológica e representação fascinante das belezas naturais de nosso planeta, os realizadores tomaram esse ponto de partida para a construção deste filme que nos leva ao seguinte ato indagatório: em Beneath The Sea, estamos diante de documentário ou material audiovisual para instalações artísticas? Esse é um curioso questionamento realizado após os primeiros minutos desta formidável produção dirigida e fotografada por Howard Hall, um entusiasta focado em questões ambientais, traduzidos por meio de imagens espetaculares, em alta-definição. Antes de começar a minha sessão, geralmente passeio um pouco pelo conteúdo do filme a ser assistido, tendo em vista registrar, antecipadamente, possíveis nomes já conhecidos em minha jornada diária de textos sobre a análise crítica do cinema e seus correlatos.
No IMDB, minha fonte segura para fichas técnicas, encontrei um peculiar comentário, publicado por um espectador deste filme de apenas 50 minutos, pouquíssimo comentado na mídia e com críticas quase inexistentes, tanto em português quanto em inglês, língua de origem de seus realizadores. A pessoa dizia, em sua postagem, que apesar da beleza das imagens, não podia considerar Beneath The Sea um documentário, pois durante e depois da sessão, não tinha aprendido nenhum “conteúdo”. Diante desta situação, já comecei o filme com indagações. Será que um documentário precisa, necessariamente, ensinar algo? O uso de narração e entrevistas é algo obrigatório? Quais as fronteiras que delimitam o que é ou não uma produção documental? Mesmo sem o depoimento de nenhum biólogo ou ativista, podemos considerar a narrativa em questão um documentário sobre o meio ambiente? Sai com as mesmas questões que entrei ao passo o material chegou ao seu desfecho e exibiu os breves créditos, oriundos de uma equipe técnica bastante enxuta.
Primeiro, aos questionamentos: Beneath The Sea pode, sim, ser considerado um documentário. No filme, temos a demonstração de belas imagens subaquáticas sobre a vida selvagem marinha, compreendidas mesmo sem uma linha sequer de narração. Não é preciso. As imagens falam por si. E, por sinal, falam com uma expressividade hedionda. O que temos em seus 50 minutos é um desfile de diversas espécies que habitam as profundezas dos oceanos, também transeuntes da superfície. Observamos como corais, moreias, atuns, tubarões, baleias, golfinhos, camarões, crustáceos, dentre tantas outras criaturas enigmáticas, circundam pelo ambiente em questão, a exercer, cada uma, as suas funções biológicas de um sistema riquíssimo que sobrevive num ciclo de beleza e funcionalidade para a manutenção da vida não apenas na água, mas em todo o ecossistema do planeta, haja vista a condição dos oceanos como produtores de mais da metade do oxigênio consumido em nossa atmosfera.
Neste processo de celebração da vida marinha, Howard Hall e sua produtora, gerenciada pela esposa, Michelle Hall, também ativista, ilustram para o espectador as cores e fascínios de um território ainda muito belos, mesmo que a ação humana tenha o tornado cada vez mais ameaçado. Tudo isso, contemplado em 8K, resolução conhecida pelo termo ultra-full-hd, recurso de produção de imagens onde cada pixel torna-se indistinguível para quem assiste tais imagens, captadas por aparatos tecnológicos que permitem o registro de cenas com qualidade mais ampla, sem danificações no ato de edição, ao passo que são ampliadas, etc. Na condução musical, o premiado Allan Williams entrega uma espetacular textura percussiva criada por meio de música sinfônica e mescla de elementos eletrônicos, o que permite ao público uma sensação agradável para os ouvidos, em consonância com a ternura do que é exibido na tela. Aqueles menos impacientes podem achar Beneath The Sea tedioso, haja vista a ausência de entrevistas, condução por meio de narração e didatismo para explicar cada passo da produção. Para quem gosta de experimentalismo e quebra de padrões facilitadores, a sessão talvez funcione bem. É uma grata oportunidade para refletirmos sobre o tema meio ambiente por um viés diferenciado. Numa cultura cheia de ruídos e cacofonia, eis uma opção alternativa de entretenimento.
Beneath the Sea — Estados Unidos, 2018.
Direção: Howard Hall
Roteiro: Howard Hall
Elenco: Howard Hall
Duração: 104 min.