É bem provável que se não fosse pelos 7 prêmios do Oscar, incluindo o de Melhor Diretor, além do seu trabalho no terceiro filme da franquia de Harry Potter, o nome de Alfonso Cuarón certamente passaria batido pela mídia. Afinal, mesmo que ele tenha outros bons trabalhos como A Princesinha (que particularmente gosto muito) e Filhos da Esperança, ainda assim, não se encaixa exatamente no perfil “comercial” dos demais diretores de Hollywood, logo, não possuía até então nenhum trabalho que pudesse ser considerado marcante. Gravidade o jogou direto para os holofotes da imprensa e é também responsável por criar questionamentos acerca dos formatos dos filmes nos dias de hoje.
Assim como outros grandes diretores latinos, Cuarón gosta de inovar, ser diferente, expandir; e seguindo essa linha, ele resolveu sair um pouco da sua zona de conforto e apostar num projeto para a televisão, onde tem como parceiro ninguém menos que J.J. Abrams. O projeto em questão, Believe, tem uma premissa não tão diferente dos costumeiros sci-fi que envolvem superpoderes e pessoas más que buscam usá-los em benefício próprio, mas que acaba por cativar de outra forma.
Bo (Johnny) começou a desenvolver seus poderes aos dois anos de idade. Desde então, eles tem evoluído para telecinese, controle do clima, previsão do futuro e outros ainda a serem revelados. Graças a uma organização chamada de True Believers, eles têm conseguido manter Bo segura e em segredo por bastante tempo, mas um embate se aproxima. Martin (Delroy), o líder da organização, delega essa função a Tate (Jake), um condenado ao corredor da morte a quem ele ajudou a escapar com essa única condição: cuidar e proteger da Bo. Tate tem um histórico de violência, mas Martin acredita que ele é inocente ou não o teria escolhido para a missão. Ao longo do episódio, vemos que Bo é bastante esperta e decidida e sua ligação com Tate precisará ser construída a base de confiança, o que vai levar certo tempo.
Logo de cara somos mergulhados em uma cena de um acidente de automóvel, totalmente provocado, onde presenciamos todo o ocorrido de dentro do carro, para deixar bem claro que não tem ninguém brincando nessa história. Os pais adotivos de Bo morrem e ela quase é levada pela outra organização, ainda não identificada. No decorrer do episódio, que foi escrito e dirigido pelo próprio Cuarón (e que depois, talvez, fique a encargo de J.J. Abrams), temos outras cenas de ação, um tanto fracas, o que indica que talvez esse não seja o foco futuro do seriado.
Um ponto interessante, é que diferentemente de muitos episódios pilotos por aí (como o de Marvel Agents of SHIELD, por exemplo), o espectador não é sobrecarregado por uma infinidade de mistérios e segredos a serem descobertos. Não. Eles existem sim, são apresentados e deixados sem conclusão, mas, ainda assim, não ficamos desesperados por respostas, pois a dinâmica é tão envolvente que naquele momento, só queremos saber o que irá acontecer com Tate e Bo.
Tecnicamente é um episódio muito bem feito. Os planos de câmera, cortes, fotografia, edição de som, são planejados em detalhes e executados de forma coesa e objetiva, sem muita invencionice. É possível também notar o estilo do diretor em cada take, o que só acrescenta, pois, ele sabe e muito bem como contar uma história usando recursos simples, limpos, mas que impressionam.
A proposta real da série é se você acredita (trocadilho infame) ou não que existam ligações especiais entre algumas pessoas; aquela intuição de mãe que nunca falha; a sensação de que talvez você deva ficar em casa e algo ruim acontece onde você deveria estar, entre outras situações. Cuarón e Mark Friedman, também criador da série, querem que tenhamos fé no que estão propondo, e quer saber? Acredito em vocês.
Believe vai ao ar toda quarta-feira na Warner Channel às 20h.
Believe – 1×01 Pilot
Showrunner: Alfonso Cuarón, Michael Friedman e J.J. Abrams
Roteiro: Alfonso Cuarón
Direção: Alfonso Cuarón
Elenco: Johnny Sequoya, Jake McLaughlin, Delroy Lindo, Jamie Chung, Kyle MacLachlan, Sienna Guillory, Rami Malek
Duração: 45 min.