Anunciado em 2021, o novo longa de ação estrelado por Jason Statham prometia uma premissa “não convencional” para os moldes do gênero ao descrever o projeto como um thriller inspirado na mitologia da apicultura. Tendo caído no gosto do mix explosivo da ação genérica, o que o roteirista Kurt Wimmer faz está longe de reinventar a roda, mas sendo mente por trás de filmes como Ultravioleta e o remake de Vingador do Futuro, Wimmer sabe utilizar o requentado arco do agente renegado em busca de vingança numa trama com filosofia conceitual e que não exige muito dos dotes dramáticos de Statham, apenas requer que ele seja um brucutu implacável. Seja como for, a combinação de Wimmer, com o perfil para ação de Statham e a direção urgente de David Ayer, faz The Beekeeper funcionar em seu universo calculado.
É cedo para dizer que a mitologia apresentada aqui se torne uma saga, porém, é clara a inspiração de Wimmer em um dos tropos de ação mais criativos do momento: John Wick. Enquanto a franquia estrelada por Keanu Reeves sobre um submundo de assassinos profissionais segue expandindo, a trama de Beekeeper tenta disfarçar o mote do assassino implacável que sai de sua aposentadoria ao convocar um anti-herói, vivido por Statham, que opera as técnicas aprendidas numa organização clandestina por seus próprios termos; então, ao mesmo tempo que dá para visualizar a bagagem na premissa, Wimmer faz seu esforço para vender a história com um quê de “originalidade”, tal como o Baba Yaga, mas sem a mesma construção habilidosa que Chad Stahelski trazia.
O método utilizado por Wimmer e Ayer é de tratar a trama com urgência, a ponto de as coincidências e artificialidade com que os eventos vão ocorrendo não possam ser questionados, até porque, há uma sequência de ação desenfreada, impulsiva e violenta sendo orquestrada em tela, no seu melhor estilo por Statham. Também, é válido perceber como o roteiro traz um protagonista autoconsciente da trama que está inserida, o que faz o texto parecer excêntrico em alguns momentos, principalmente nas sacadas de humor com frases cafonas e reativas em meio a pancadaria bem coreografadas e com planos fechados. Mas enquanto o Baba Yaga transformava uma vingança numa luta por sobrevivência, o chamado Adam Clay – ambos com o lema de que a luta “agora é pessoal” – carrega uma natureza justiceira quando vê o sistema das leis falhar.
Essa autoconsciência do texto e filosofia defendida pelo brucutu, traz um olhar que humaniza a história, além de refletir nas inúmeras conjecturas que Clay faz entre seu código de justiça e as atividades apiculturais. O que deveria servir como uma camada dramática a um plot de ação recorrente, a mitologia sobre os “beekeepers” soa apenas didática e fantasiosa, justamente porque o filme é sufocado pelas facilidades e urgência criada pelo roteiro. Sem falar que, em das tomadas de ação, há uma cena que remete ao desafio de caça por recompensa em John Wick, mas na mesma medida que apelam para essa mecânica, é um recurso que se mostra deslocado do filme, ou talvez é só mais um exemplo de que Statham desce porrada em gente e leva o caos por onde passa em busca de vingança.
Mas é só quando o filme esquece das imitações com John Wick e tenta vender mais sua mitologia beekeeper que funciona. E mesmo que seja tudo tão calculado – 60% com fins cômicos – em que só vemos as sequências se chocando, sem Statham precisar de um terno blindado com fibras de Kevlar do Baba Yaga para sair ileso, a direção frenética de Ayer somada aos talentos de lutas do astro brucutu fazem de Beekeeper – Rede de Vingança um entretenimento intenso de ação, remetendo a uma sessão pipoca genérica que funciona em sua proposta, mas sem criar espaço para as reflexões melodramáticas, apenas imaginando uma cenário de ação e consequência ágil e brutal quando precisa.
Mesmo que não esteja nos planos de se tornar uma franquia, é interessante ver que Ayer ainda tem jeito com thrillers genéricos e positivamente caóticos depois de tanto lamentar a bagunça que foi o seu Esquadrão Suicida, emulando aqui o estilo de Stahelski e David Leitch. Retomando também a parceria com Wimmer, não deve demorar também para lançar uma “nova ideia” com Jason Statham estrelando um thriller não convencional de ação frenética, afinal, Hollywood tem um brucutu que luta contra tubarões, e como apicultor, protege as colmeias.
Beekeeper – Rede de Vingança (The Beekeeper – EUA, 2024)
Diretor: David Ayer
Roteiro: Kurt Wimmer
Elenco: Jason Statham, Emmy Raver-Lampman, Bobby Naderi, Josh Hutcherson, Jeremy Irons, David Witts, Michael Epp, Taylor James, Phylicia Rashad, Jemma Redgrave, Minnie Driver
Duração: 105 min.