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Crítica | Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo

por Luiz Santiago
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A História é uma disciplina que lida com a memória, o impacto e as implicações contextualizadas (antes e depois dos fatos) das realizações humanas. É através dela que diversos recortes e interpretações da realidade são possíveis, dependendo de quem e com qual intenção ou a partir de quais fontes a registra. Com isso em mente, fica fácil entender o por quê indivíduos que estudaram e pesquisaram para registrar momentos históricos podem excluir ou modificar — dependendo de sua base de informações e contexto na produção do documento — o protagonismo de uma grande realização. Exatamente como os primeiros historiadores do cinema fizeram com a pioneira Alice Guy Blaché, considerada a primeira mulher cineasta do mundo, diretora de centenas de filmes (447, segundo o IMDB) dos quais, por muitos anos, ela não recebeu os devidos créditos.

Em Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (2018), a diretora Pamela B. Green e sua co-roteirista Joan Simon fazem um belíssimo exercício de retomada histórica, indo diretamente nas fontes originais (fontes orais, escritas, filmadas ou gravadas) para contar a trajetória cinematográfica de Guy Blaché, indo de seu trabalho inicial como secretária de Léon Gaumont até a luta, nos anos finais de sua vida, para reaver os filmes perdidos com o tempo e conseguir a justa indicação dos créditos nos filmes que dirigiu e que constantemente foram atribuídos aos seus assistentes de direção ou cineastas que nem estavam no local das filmagens no dia em que Alice rodou a obra.

Mesmo que outras mulheres pioneiras sejam citadas com a devida importância para os primeiros passos do cinema, como Lois Weber (Mrs. Smalley) — a primeira diretora americana –, Germaine Dulac e Dorothy Arzner, o documentário não se perde e está sempre retornando ao seu tema principal, que é a diretora francesa. A narração que nos guia por diversos lugares e tempos é realizada por Jodie Foster, que igualmente assina como uma das produtoras executivas da fita.

Pamela Green adota um estilo extremamente dinâmico, rico em imagens, vídeos, áudios, fotografias, documentos e trechos de filmes da homenageada (até cenas do excelente Algie, the Miner aparecem aqui), mas não toma tempo demais com esses filmes na tela, como muitas vezes acontecem em documentários, onde até mais de 5 minutos por vez são consumidos com a exibição de cenas de um outro filme, o que é um grande absurdo. Há aqui em Be Natural um grande equilíbrio entre material de arquivo e a própria construção do filme, com registro da busca por informações sobre Alice, colocando Green em contato com diversos parentes próximos e distantes e algumas belas surpresas e descobertas no meio do caminho.

Se olharmos com atenção para o final do filme, perceberemos uma corrida maior e uma ausência de toda a elegância na demonstração de informações que tivemos ao longo de toda a sessão, o que impede que o longa alcance uma nota máxima. Esse aspecto técnico, todavia, em nada interfere na relevância e necessidade do tipo de informação que temos aqui. Aspectos da História do Primeiro Cinema na França e nos Estados Unidos são explorados, assim como a descoberta de diretores que foram marcados e até influenciados por Alice, como Eisenstein e Hitchcock; completando com mudanças e criações tecnológicas da indústria com o passar do tempo, o escanteamento das mulheres no papel criativo do cinema a partir dos anos 30 e o registro ou apagamento de seus feitos em livros, artigos, reportagens, aulas e discursos… tudo isso é discutido aqui, trazendo-nos no fim a felicidade de ver um nome como o de Alice Guy Blaché finalmente ser conhecido e reconhecido pelo que representou para a Sétima Arte.

Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (Be Natural: The Untold Story of Alice Guy-Blaché) — EUA, 2018
Direção: Pamela B. Green
Roteiro: Pamela B. Green, Joan Simon
Elenco: Richard Abel, Marc Abraham, Stephanie Allain, Gillian Armstrong, John Bailey, Cari Beauchamp, Lake Bell, Peter Billingsley, James Bobin, Serge Bromberg, Kevin Brownlow, Jon M. Chu, Diablo Cody, Bobby Cohen, Julie Corman, Geena Davis, Julie Delpy, Lorenzo di Bonaventura, Ava DuVernay, Jodie Foster, Michel Hazanavicius, Patty Jenkins, Ben Kingsley, Andy Samberg, Marjane Satrapi, Julie Taymor, Agnès Varda, Evan Rachel Wood
Duração: 103 min.

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