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Crítica | Batwoman – 1X09: Crisis on Infinite Earths, Parte Dois

por Ritter Fan
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Conversando com um leitor na seção de comentários de minha crítica da Parte Um de Crise nas Infinitas Terras, afirmei que não era lá muito difícil criar algo no mínimo razoável para esse ambicioso crossover, mesmo considerando uma combinação insalubre de relativo baixo orçamento com a quantidade calamitosa de personagens e mais a “necessidade” de se fazer um fan service a cada 15 segundos. E a confirmação do que disse não demorou a chegar, já que a Parte Dois parece algo completamente diferente do que veio antes.

O primeiro ponto relevante, aqui, é que as frases genéricas e vagas de Mar-Novu, o Monitor, ganharam, pela primeira vez desde que ele surgiu lá atrás em Elseworlds, algum grau de tangibilidade, mesmo que tenha sido tirado da cartola (ou da saga em quadrinhos original, pouco importa): é necessário localizar sete super-heróis (ele chama de paragons ou “modelos”, “símbolos”), sendo que dois deles são Kara Danvers e Sara Lance. Dois outros o Monitor sabe apenas descrições, uma levando a um Superman e outra a um Batman e os demais são completamente desconhecidos. A importância desse artifício narrativo é uma só, ou seja, criar propósito palpável para os heróis que, no episódio anterior, ficaram apenas batendo cabeças sem ter muito o que fazer objetivamente. Agora, eles precisam encontrar o Kal-El e o Bruce Wayne certos no leque de ofertas de Terras do multiverso.

Paralelamente, como era mais do que óbvio, a morte besta de Oliver Queen tinha que ser temporária e Barry (ainda sem ter o que fazer a não ser choramingar), Sara e Mia, com a conveniente ajuda de John Constantine (Matt Ryan), correm para localizar um Poço de Lázaro ativo no multiverso para trazer o herói de volta à vida. Mais um alvo bem delineado para minimizar platitudes e chororôs, algo que é amplificado pela materialização de Lex Luthor (Jon Cryer), cortesia do Monitor, em uma atitude que o espectador precisa fechar os olhos, respirar fundo e seguir em frente sem racionalizar justificativas ou procurar lógica.

O que decorre das missões específicas é puro prazer nérdico executado da maneira correta, com arrimo em um texto comparativamente muito bem escrito e que faz o máximo para evitar as bobajadas usuais das séries da CW, mostrando que sim, é perfeitamente possível fazer a proverbial limonada com os limões que foram entregues aos roteiristas. Assim, exatamente como a HQ original fora um passeio nostálgico por um sem-número de Terras paralelas e heróis que há muito haviam sido esquecidos, o roteiro de Don Whitehead e Holly Henderson faz o mesmo, visitando dois Supermen e um Batman clássicos, mas de fontes amalgamadas diferentes (filmes, televisão e HQ) e sem transformar os personagens em meros fan services. Não se enganem, porém, pois eles são fan services, mas, aqui, diferente dos acenos simplistas da primeira parte, eles ganham peso como personagens, reunindo o útil ao agradável.

Já começando com a agregação dos sempre simpáticos irmãos fugitivos de Prison Break, Mick Rory (Dominic Purcell ao vivo e a cores) e Leonard (Wentworth Miller, só a voz da I.A. da Waverider das Lendas aposentadas da Terra-74) e logo deliciando os fãs de Smallville com uma participação alongada e muito agradável de Tom Welling e Erica Durance reprisando seus icônicos papeis de Clark Kent e Lois Lane em uma espécie de coda, de alegre epílogo para a longeva série que, conforme descobrimos, se passa na Terra-167. Mas é na Terra-96 que vem o crème de la crème do episódio, com a introdução de Brandon Routh novamente como Superman, só que mais velho com o uniforme de Reino do Amanhã e, o melhor de tudo, sinalizando com a notas da inesquecível trilha de John Williams e com os ângulos e a postura do personagem tanto em pé quanto voando, que esse é o universo do filme original de Richard Donner com o eterno Superman de Christopher Reeve.

Não só somos presenteados com um embate de Superman contra Superman com Routh dizendo que não foi a primeira vez que isso aconteceu com ele (olha o Superman III aí, minha gente!) e com efeitos que não são muito bons, mas que não importam de verdade, como também temos ratificado diante de nossos olhos o quanto o Superman de Tyler Hoechlin parece um franguinho de padaria com cara de pastel. Mais ainda, somos lembrados que, realmente, o Superman criado por Reeve para o filme de 1978 ainda é o melhor de todos. Nostalgia falando mais alto? Não. É fato. Somente isso.

Mas a brincadeira das participações relevantes como devem ser não acaba aqui, já que somos brindados, também, com uma versão mega-sombria, pessimista e assassina de Bruce Wayne, desta vez vivido por Kevin Conroy, clássico dublador do personagem nas animações (ainda bem que só dublador, pois como ator na frente das câmeras ele é caricato demais) e que, em uma jogada brilhante, é introduzido só com a voz e, depois, usando o exoesqueleto do Batman de Reino do Amanhã. Na Terra-99, portanto, Kate e Kara precisam lidar com essa realidade triste em que o Superman foi morto pelo Batman (o óculos de Clark Kent ensanguentado e quebrado na vitrine de troféus de Wayne foi um toque lindamente macabro), somente para Kate Kane descobrir, depois de uma ajudinha considerável do Monitor, que é ela quem ele estava procurando desde o começo.

Mesmo a aventura paralela para ressuscitar Oliver Queen se segura bem. Sem dúvida é de longe a pior parte do episódio, mas Laura Belsey, a diretora, sabe muito bem disso e economiza nas sequências, ainda que o roteiro consiga clandestinamente inserir uma ponta de Jonah Hex (Johnathon Schaech), essa sim puro fan service, mas que não atrapalha. O suspense criado com a falha de Constantine em reunir o corpo de Oliver com sua alma cria um cliffhanger bobo que poderia ter sido evitado e que eu espero que não signifique choradeira de Mia em cima do corpo de seu pai, com direito a berreiro para fazê-lo lembrar de seu passado e blá, blá, blá no próximo episódio…

Falando em Belsey, que já dirigiu The Flash, Arrow (sim, foi Prochnost, mas podemos fingir que não sabemos), The Walking Dead e mais uma penca de séries, a moça sabe o que faz. Não só ela trabalha bem os posicionamentos de câmera, como sabe usar ângulo holandês nos momentos certos, close-ups relevantes e planos gerais que contam história e não são apenas quadros estáticos bonitinhos para enganar trouxa. Essa é uma que tem chance se conseguir encontrar uma série de real valor agregado para comandar.

Fechando com Lyla sendo abduzida pelo Anti-Monitor (também LaMonica Garrett só que com quilos de maquiagem e próteses), a Parte Dois de Crise nas Infinitas Terras é, vou dizer mesmo, televisão super-heroica básica, mas de qualidade. Como dizem muitos que defendem cegamente as porcarias da CW, é necessário calibrar expectativas quando se vê uma série dessas e isso é a mais pura verdade, mas o que não é aceitável é sempre esperar episódios tétricos tecnicamente quando esse aqui simplesmente prova que eles não precisam ser assim em momento algum. E tenho dito!

Ps.: Eu veria fácil uma série do Superman de Brandon Routh, mesmo que seja produzida pela CW.

Ps 2.: Melhor ainda: eu gostaria muito que Routh voltasse a ser o Superman nas telonas mesmo.

Ps 3.: Confesso que não seria nada mal ver uma série inteira passada na Terra-99, com o Batman mau como o Pica-Pau…

Ps 4.: Mas não com o Kevin Conroy, com todo respeito…

Batwoman – 1X09: Crisis on Infinite Earths, Parte Dois (EUA, 09 de dezembro de 2019)
Showrunners:
Caroline Dries
Direção: Laura Belsey
Roteiro: Don Whitehead, Holly Henderson
Elenco: Ruby Rose, Melissa Benoist, Stephen Amell, Grant Gustin, Brandon Routh, Caity Lotz, Katherine McNamara, Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, LaMonica Garrett, Dominic Purcell,  Jon Cryer, Matt Ryan, Tom Welling, Audrey Marie Anderson, Kevin Conroy, Johnathon Schaech, Erica Durance, Wentworth Miller
Duração: 42 min.

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