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Crítica | Batman/Superman: Segunda Chance

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Há uma pequena bagunça na sequência narrativa deste arco de Batman/Superman.

A interação com outros eventos da DC (Superman: Doomed e Fim dos Tempos) não é tão interessante quanto o crossover forçado — mas divertido — que tivemos em Primeiro Contato. Isso, somado ao fato de a ação principal não ser exposta de maneira fluída, gerando mini-arcos dentro de um grande arco e, principalmente, pela colocação dos maiores eventos de uma forma intricada exatamente quando e como não deveria, tem diminuído sensivelmente a qualidade da série. E isso é ainda pior porque Greg Pak tem aqui a faca e o queijo na mão e está desperdiçando oportunidades de ouro.

No início, em Enter the Microverse (#10), Pak se junta a Jeff Lemire para nos mostrar uma ação que elenca a S.O.M.B.R.A. e seu Eixo; o Dr. Ray Palmer no início de suas experiências no mundo… heroico (o nome Eléktron surge aqui pela primeira vez nesta linha do tempo do personagem); a Pai Tempo (sim, uma garota) e uma história de microuniversos e nanotecnologia que se vista isoladamente é simplesmente sensacional. E também isoladamente, essa trama estabelece um padrão de desconfiança para as ações do Batman e do Superman, algo mais ou menos próximo da famosa frase do romano Juvenal: “quem vigia os vigilantes?“. Isoladamente, tudo faz sentido. Mas se colocarmos essa edição na série Batman/Superman ela se perde, não combina com o grosso da linha de eventos e ainda confunde a nossa compressão do que está acontecendo com os dois heróis. É claro que isso não tira os méritos da história em si (isolada), mas isso não quer dizer que ela tenha sido a melhor coisa para iniciar o arco.

A edição seguinte não melhora as coisas para o leitor e consegue ser a mais fraca de todo esse bloco. Trata-se do capítulo 3 de Infectado e coloca o Superman no lado oposto ao que ele estava em Surge o Microverso. Antes, era o Batman quem estava com problemas, agora, o Homem de Aço. Convenhamos que o roteiro de Greg Pak aí é inteligente e a arte a seis mãos assinada por Karl Kerschl, Tom Derenick e Daniel Sampere, com finalização de mais 5 artistas, não chama a atenção, não tem uma diagramação interessante e não acrescenta muito ao texto pouco chamativo para o que acontece na Fortaleza da Solidão do Superman, sua infecção pelo vírus de Apocalypse e a Zona Fantasma. Para mim, uma colossal perda de tempo e que não acrescenta nada o fio principal de eventos da revista.

É só a partir da edição #12 que o tema do arco realmente aparece no volume e temos recorrências temáticas que nos remetem aos tomos anteriores. A ação nos introduz ao tema “segunda chance” de uma forma um tanto cruel por parte da diaba Kaiyo (nada de novo aí), que agora resolve colocar o Morcego e o Alien desta Terra à prova, apresentando-lhes situações extremas e tentando manipular o que acontece com eles logo a seguir.

A personalidade de Kaiyo se assemelha muito com a de Loki (Marvel) e suas ações para prender os heróis em uma armadilha moral tem menos impacto no estudo da personalidade deles do que se esperava. A trama funciona mais pela relativa engenhosidade da viagem forçada entre as Terras e de uma situação-limite para os heróis (lembra um pouco a série O que aconteceria se…) do que por ser excelente, até porque não tem muita história a ser narrada. Todavia, aberta esta porta, finalmente chegamos às edições #13 e 15, que são as melhores do bloco e trazem também a melhor combinação arte-texto de Segunda Chance.

Com o excelente trabalho visual de Jae LeePascal Alixe e do brasileiro Diogenes Neves, a reta final desta história mescla hipóteses do que teria acontecido aos heróis se… […] e faz um inteligente estudo psicológico de suas personalidades, já intimamente confusas e onde não é mais possível distinguir entre indivíduo e herói. O que faz de cada um deles o que são? Eles são pessoas boas ou más? Em outras ocasiões, se estivessem exatamente na mesma situação de conflito contra bandidos ou entidades, como agiriam? Essas perguntas são colocadas ao longo das três últimas revistas e servem ao mesmo tempo para explorar quem é Kaiyo (aqui sob domínio de Satanus, um plot que vai dividir opiniões entre os leitores sobre sua necessidade ou não para o enredo), para problematizar ainda mais os dois medalhões da DC e para colocar meandros ético-morais na amizade sempre problemática dos dois. Apesar de alguns tropeços, Greg Pak está fazendo um bom trabalho psicológico com os heróis nesta série, além de contar com inimigos de caráter cósmico e até místico (ou mítico). A leitura tem ficado mais e mais intrigante a cada conjunto de edições.

Batman/Superman #10 a 15: Segunda Chance (Batman/Superman: Second Chance – New 52) — EUA, maio – dezembro de 2014 
Roteiro: Greg Pak / Jeff Lemire (apenas edição #10)
Arte: Karl Kerschl, Scott Hepburn (#10) / Karl Kerschl, Tom Derenick, Daniel Sampere (#11) / Tom Raney (#12) / Jae Lee (#13) / Diogenes Neves (#14 e 15) / Pascal Alixe (#15)
Arte-final: Karl Kerschl, Scott Hepburn (#10) / Karl Kerschl, Vicente Cifuentes, Daniel Sampere, Marc Deering, Wayne Faucher (#11) / Jaime Mendoza, Tom Raney, Ken Lashley (#12) / Jae Lee (#13) / Marc Deering (#14) / Marc Deering, Cliff Richards (#15)
Cores: Gabe Eltaeb, Hi-Fi, Jason Wright, June Chung, Ulises Arreola
Letras: Rob Leigh
Capas: Cameron Stewart, Jae Lee, June Chung
24 páginas (cada edição)

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