Home FilmesCríticas Crítica | Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Um

Crítica | Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Um

por Ritter Fan
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Vou dizer algo aqui na largada que provavelmente irritará muita gente: a aguardada adaptação audiovisual de O Longo Dia das Bruxas é muito certinha, muito corretinha demais para ser excelente como a minissérie original de Jeph Loeb e Tim Sale, publicada entre 1996 e 1997. Adaptações precisam adaptar de verdade e não ficar acorrentadas ao material fonte, especialmente considerando a transição de mídia, e o roteiro de Tim Sheridan não faz muito mais do que transpor as linhas de diálogo da HQ para a animação, resultando em um filme que sem dúvida é bem feito e que sem dúvida agradará quem se contenta apenas com justamente isso, mas que, no fundo, fica ali entre o “cansado” e o “nada de novo”, ou seja, mais uma animação do Batman que fica aquém do que poderia ser.

O que o longa – a primeira parte de duas, como aconteceu no caso de O Cavaleiro das Trevas – tem de muito bom é o design de produção que cria uma atmosfera dos anos 30 em uma Gotham City muito característica e sombria, tomada por criminosos comuns em uma simbólica transição para os bandidos temáticos que formam o panteão vilanesco clássico do Homem Morcego (voz de Jensen Ackles, em um ótimo trabalho que empresta gravidade, mas sem exageros ao protagonista). E, mesmo com essa estética de uma era específica, há um divertido uso de anacronismos tecnológicos que, porém, de forma alguma interferem com a imersão, até porque os maiores exemplos disso ficam circunscritos ao próprio Batman e seus gadgets, incluindo um belo Batmóvel.

E o mesmo pode ser dito tanto para os personagens da máfia, aqui representados pelo chefão Carmine “The Roman” Falcone (Titus Welliver claramente se divertindo) cujo império passa a ser ameaçado por um vilão batizado de Feriado que mata seus asseclas em datas comemorativas, como também no que se refere ao próprio Batman, que ganha um uniforme simples, mas muito eficiente em sua cruzada não muito by the book ao lado do promotor público Harvey Dent (Josh Duhamel), com direito a acobertamentos do capitão de polícia James “Jim” Gordon (Billy Burke) e providenciais ajudas da Mulher-Gato (Naya Rivera em seu último trabalho, a quem o filme é dedicado). Em outras palavras, apesar de a técnica de animação ser a mesma que as animações da DC usam desde que o mundo era uma sopa quente, toda a abordagem estética dada ao longa é de primeira e inegavelmente vale o ingresso.

O problema reside mesmo na transposição dos quadrinhos para o audiovisual e o receio em se desviar do material original. E não advogo aqui invenciones fora de esquadro com aconteceu em Silêncio, por exemplo, mas sim um trabalho que use a obra primígena como trampolim para uma obra derivada que fique de pé sozinha, que seja pensada diretamente para o audiovisual. A tendência de adaptações que carregam o peso da obra que lhes inspira, remontando-a sem nenhum traço de ousadia, acaba criando problemas onde não deveriam existir. Aqui, Sheridan simplesmente dá voltas e mais voltas para explicar o que poderia ser mostrado, com a direção de Chris Palmer não conseguindo se desviar dessas armadilhas. Um exemplo disso é a sequência em que Batman, Dent e Mulher-Gato estão discutindo o que fazer com o dinheiro de Falcone que eles localizaram. A sucessão de diálogos chega a ser engraçada de tão didática e de tão repetitiva, só faltando Batman chamar Alfred (Alastair Duncan) para conversa no rádio, ou talvez consultar Gordon antes para saber o que fazer.

Sim, sei que um dos motes da história é mostra ao Batman que não adianta ser porradeiro e que, para realmente livrar a cidade do crime, ele precisará desenvolver suas habilidades como detetive, mas isso não precisa ser dito, repetido e repetido mais uma vez a cada 15 minutos e ele não precisa agir como um sujeito completamente perdido que, enquanto mostra calma e total controle quando se depara com Solomon Grundy (Fred Tatasciore) no esgoto ou quando enfrenta o Coringa (Troy Baker) em um biplano nos céus da cidade, não consegue sequer perceber o que está óbvio ao seu redor. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, não é mesmo? Faltou finesse, faltou desenvolver um Batman em começo de carreira que não pareça ser de começo de carreira apenas quando convém, artificialmente criando momentos constrangedores na linha de “hummm, precisarei ser um detetive…”.

Esses aspectos do longa, que também valem para Harvey Dent de sua própria maneira, claro, acabam tornando a progressão narrativa razoavelmente arrastada, ainda que nunca exatamente cansativa – até porque há desvios bruscos de propósito como o já citado ataque do Coringa, o que também é um problema na HQ, diga-se de passagem que acabam mantendo a ação em constante movimento – e que talvez mostrem que O Longo Dia das Bruxas poderia ser apenas um filme se um roteirista mais hábil tivesse sabido enxugar a história para sua essência. Mas, na verdade, nem posso culpar Sheridan, pois é provável que essa quebra em dois longas tenha sido um mandamento que veio de cima e que ele só tenha obedecido, meio que sem escolha.

Esteticamente muito bonita e agradável, a adaptação da adorada HQ poderia ter sido fora de série, um verdadeiro divisor de águas nas animações da DC que há tempos precisam de uma renovada (o recente Alma do Dragão chegou próximo disso, temos que lembrar). No entanto, preferiram jogar o jogo de maneira confortável, sem assumir riscos e sem desviar do material fonte mais do que o mínimo necessário. E, com isso, pelo menos essa primeira parte da clássica minissérie em quadrinhos fica ali arquivada na categoria do legal, bacana, mas nada de tão especial assim. Uma pena.

Batman: O Longo Dia das Bruxas – Parte Um (Batman: The Long Halloween – Part One – EUA, 22 de junho de 2021)
Direção: Chris Palmer
Roteiro: Tim Sheridan (baseado em obra de Jeph Loeb e Tim Sale)
Elenco: Jensen Ackles, Naya Rivera, Josh Duhamel, Billy Burke, Titus Welliver, David Dastmalchian, Troy Baker, Amy Landecker, Julie Nathanson, Jack Quaid, Fred Tatasciore, Alastair Duncan, Jim Pirri
Duração: 85 min.

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