Obs: Contém spoilers dos números anteriores, cujas críticas podem ser lidas aqui. Leiam, também, as críticas de todo o Millerverso de Batman, bem aqui.
Três meses depois, a penúltima edição de Cavaleiro das Trevas II: A Raça Superior é lançada pela DC Comics. Se ignorarmos essa demora indecente, que picota demais a minissérie e o impacto de cada nova publicação, o mais recente número é muito bom. No entanto, quando computamos tudo e comparamos expectativa versus resultado, é difícil ter apenas elogios ao trabalho de Frank Miller e Brian Azzarello.
Como mencionei em críticas anteriores, é muito provável que, uma vez encerrada, A Raça Superior sustente e justifique seu posto como a segunda continuação do clássico O Cavaleiro das Trevas, de 1986, depois de uma leitura em uma sentada só. No entanto, do jeito que ela vem sendo publicada, cada nova edição traz apenas um punhado de páginas lidando com a história principal sem realmente avançar a narrativa.
Na oitava edição, Batman está vivo, depois que Superman o salvou mergulhando o corpo inerte de Bruce Wayne no Poço de Lázaro. Ele volta para sua batcaverna e para a Batgirl, nova identidade de Carrie Kelley, com direito a um uniforme tenebroso nas cores rosa e verde. No entanto, além de ressuscitar, Bruce rejuvenesceu e Miller e Azzarello, pelo menos por enquanto, jogam no ralo o que faz da série O Cavaleiro das Trevas o que ela é: uma visão de futuro sobre o crepúsculo do Batman, com todas as limitações que isso acarreta. Ao torná-lo um homem nos seus 30 anos, os roteiristas apertaram no botão reset e podem, agora, fazer o que quiserem, corrompendo o genial enfoque original de Miller e banalizando-o completamente. Se ler uma história de um Batman no ponto alto de sua forma física é o que interessa, então há bibliotecas inteiras desse tipo de material. Não era necessária mais uma para cair na vala comum.
Além disso, toda a “volta de Bruce Wayne” parece muito mais algo feito para ocupar páginas do que para realmente avançar a história. Afinal, quando a edição anterior acabou, fomos deixados com um poderoso cliffhanger: a chegada dos kriptonianos seguidores de Quart à Amazonia, a cidade comandada pela Mulher-Maravilha. No lugar de logo mergulhar nessa parte da história, Miller e Azzarello “gastam” páginas para lidar com o óbvio e, com isso, a grande batalha é espremida nas páginas que restam. Mas calma, pois nem tudo se perde. Ao contrário, Andy Kubert se solta completamente na arte e cria páginas que dão um caráter épico que estava faltando em A Raça Superior.
São páginas inteiras e uma página dupla (essa do destaque do artigo) dedicadas à pancadaria entre amazonas e kriptonianos que lembram muito o estilo do próprio Miller em Os 300 de Esparta. A Mulher-Maravilha, claro, ganha destaque absoluto e é possível dizer que poucas vezes ela foi desenhada de maneira tão furiosa e destruidora como aqui. Tudo acontece muito rápido, porém, não só pelas páginas iniciais serem tomadas pelos momentos já descritos com Batman, como, também, pela imposição – da editora ou dos autores, não sei – em manter um número padrão de páginas que não diferencia a publicação de outras comuns mensais, já que apenas 25 das 54 páginas da edição são usadas na história principal. O resultado é, portanto, apressado e insatisfatório, com a necessidade de se tomar atalhos e reduzir a potencialmente grandiosa batalha a algo menor, menos impactante. E, tão de repente quanto ela começa, ela chega ao fim e a revista acaba. Uma pena.
Na história secundária – Detective Comics #1 – vemos a Comissária Ellen Yindel enfrentando Bruno e seus Coringas. Ainda que o final fique em aberto e ele possa ser importante para esse universo de Batman criado por Frank Miller, a história em si deixa a desejar por parecer apartada demais da narrativa central. Até agora, essas histórias paralelas tinham a função de complementar os acontecimentos principais, às vezes abordando outros personagens que certamente serão importantes em seu desfecho, mas, aqui, o que vemos é uma história sem consequências, já que Yindel tem importância mais do que reduzida no geral. Seu destino, portanto, a não ser que Miller planeje um plot twist completamente inesperado, pareceu-me mais uma vez desperdício de páginas que poderiam ter sido empregadas na batalha das amazonas contra os kriptonianos. Pelo menos a arte de Miller, aqui, não está mais cambaleante como em alguns dos números anteriores. Ao contrário até, ele quase volta ao seu estilo de outrora.
Depois de um número desapontador, A Raça Superior volta a melhorar, ainda que mantenha-se muito aquém de uma história que pretende levar o nome O Cavaleiro das Trevas. As 10 a 12 páginas dedicadas à Mulher-Maravilha são o ponto alto e quase fazem da edição algo de destaque. Mas não chega a tanto. A terceira incursão de Miller nesse futuro possível de Batman não passa de mais uma história comum, daquelas que poderiam ter sido escritas por qualquer um.
Batman – Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #8 (DK III: The Master Race #8, EUA – 2017)
Roteiro: Frank Miller, Brian Azzarello (ambas as histórias)
Arte: Andy Kubert (história principal), Frank Miller (história secundária)
Arte-final: Klaus Janson (ambas as histórias)
Cores: Brad Anderson (história principal), Alex Sinclair (história secundária)
Letras: Clem Robins (ambas as histórias)
Editora nos EUA: DC Comics
Data original de lançamento: 29 de março de 2017
Editora no Brasil: Panini Comics (ainda não lançado por aqui na data de publicação da presente crítica)
Páginas: 54 (as duas histórias mais páginas extras com capas variantes e esboços)