Home TVEpisódio Crítica | Bates Motel – 5X04: Hidden

Crítica | Bates Motel – 5X04: Hidden

por Luiz Santiago
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estrelas 5,0

spoilers! Leiam as críticas dos demais episódios de Bates Motel aqui. E leiam as críticas para as várias versões de Psicose aqui.

De volta ao grande estilo que vem marcando a série desde a 4ª Temporada, Hidden se mostrou uma excelente peça de psicologia e dramas psicológicos embrulhados em culpa e, mais uma vez, na complexa formação de imagens mentais de Norman Bates. Sem explicações didáticas e sem perder tempo com coisas supérfluas, o roteiro de Torrey Speer resolve bem as pontas soltas deixadas em Bad Blood e mais uma vez nos faz pensar sobre a dualidade de mundos que Norman vivencia e também como A Mãe passa a se intrometer cada vez mais, seja em presença, seja em culpa ou alucinação — sem os apagões, vejam só! — na vida do rapaz.

Fazendo a sua estreia na direção, Max Thieriot (sim, o mesmo que interpreta Dylan) guia o episódio como uma junção de belíssimos atos de drama, com destaque para três excelentes cenas, concebidas visualmente com muito cuidado (realmente espanta que este seja o primeiro trabalho de Thieriot atrás das câmeras), além de insanamente bem escritas. A primeira é o diálogo entre A Mãe e Norman na mata, em frente ao carro descoberto; a segunda, o enfrentamento entre Norman e a Xerife Jane Greene à noite, no Hotel; e a terceira, toda a sequência com Madeleine Loomis, que merece uma abordagem um pouco maior aqui.

Quando vimos Madeleine pela primeira vez, em Dark Paradise, sabíamos que ela teria um papel importante para o desenvolvimento de Norman nessa fase da série, mas não que a produção fosse adotar novamente o tom das indicações tabus na relação de Norman e sua mãe. A maquiagem e o cabelo da atriz Isabelle McNally são feitas para nos lembrar de uma Norma jovem, por quem Norman se apaixona à primeira vista, inconscientemente sem perceber a relação imediata que está fazendo entre a sedutora dona de uma loja local e sua falecida genitora. Percebam como o roteiro adota um caminho complexo ao sugerir essa relação, porque tanto o amor quanto o desejo/alucinação e eventual violência contra Madeleine são e será também atribuídos, inconscientemente a Norma. Com os vestidos dados de presente à jovem neste episódio, tal linha de acontecimentos ficou ainda mais clara.

A sequência do jantar é uma das coisas mais instigantes de toda a série, porque ela é de uma tensão e cinismo imensos. Vem à tona a relação dupla de Norman com Madeleine e a imediata aplicação da presença da Mãe no jantar, seja através do vestido, seja através da visão ou alucinação do perturbado jovem. O doloroso surto de realidade, a tentativa de tomar conta de sua própria vida, a fuga da casa antes que algo pudesse acontecer com Madeleine… tudo isso são indicações da complexidade da mente de Norman e de como essa temporada reservou o melhor de seu desequilíbrio mental para o final. Notem também que cada momento possui um tom na direção de fotografia para indicar um sentimento dominante: o verde aliado à doença, ao mofo e ao abandono, para o contêiner de Chick; o azul da solidão e abismo para as cenas com A Mãe; o marrom entre o acolhedor e soterrador ou o cinza para as cenas com a Xerife; e a ausência de filtro para a sequência do jantar.

Todas aquelas inúmeras sugestões sexuais — culminando com as cenas do bolo, que praticamente é uma preliminar em cada um dos seus atos (que cenas geniais!) — e o seu resultado final nos lembram que a instabilidade de Norman é algo tão interessante e perturbador, que novamente lamentamos que esta seja a última temporada da série. Ao mesmo tempo, ficamos felizes em ver que uma das propostas mais criticadas da TV, quando surgiu, se tornou um baita espetáculo televisivo com direito a muitas camadas de ciências da mente e muita coisa a ser considerada e interpretada. Quem já assistiu às sequências de Psicose, especialmente Psicose III, pegou aqui um bom número de referências e viu que os produtores foram a fundo na pesquisa de material do livro e das adaptações. O respeito a essas obras, sejam boas ou ruins, é outro ponto positivo da série, que além de tudo, conta com um elenco absurdamente exemplar.

Em tempo: vocês viram que Chick será realmente o autor de Psicose e que ele cita a adaptação de seu “livro que será um sucesso“, para o cinema? Melhor forma de deixar clara a presença metalinguística e fazer isso de maneira orgânica na série! Parabéns ao roteirista Torrey Speer e ao diretor de primeira viagem Max Thieriot, que já começou no posto com o pé direito!

Bates Motel (EUA, 13 de março de 2017)
Direção: Max Thieriot
Roteiro: Torrey Speer
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Nestor Carbonell, Ryan Hurst, Isabelle McNally, Brooke Smith, Malcolm Craig, Jillian Fargey, Kirt Purdy
Duração: 46 min.

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