Há spoilers! Leiam as críticas dos demais episódios de Bates Motel aqui. E leiam as críticas para as várias versões de Psicose aqui.
Inferior aos dois primeiros episódios da temporada, mas ainda assim, um bom capítulo para a construção psicológica de Norman, sua relação com “A Mãe” e a abertura de janelas importantes para o futuro (Chick como “O Escritor”; Romero fugitivo e Caleb libertado por Norman, em um momento de sanidade e negação da ordem d’A Mãe), Bad Blood tem um papel importante na temporada, embora a forma utilizada para nos trazer esse papel não tenha sido a melhor.
O maior erro aqui não é nem do roteiro, que tem seu valor provado. Mesmo não sendo tão bem articulado como em Dark Paradise e The Convergence of the Twain (bom… além do fato de estarmos falando de roteiristas diferentes) ele é capaz de deixar os personagens em posições interessantes para problemas que sabemos que irão acontecer em breve. Além disso, dá a oportunidade para A Mãe ganhar camadas mais profundas e mais… floreadas por Norman, à medida que novos impasses, ordens e estranhezas ocorrem na casa. Chick tem um papel importante nesse miolo da narrativa, carregando também uma faceta inesperadamente cômica na temporada, divida de maneira lúgubre com a personagem de Vera Farmiga.
Freddie Highmore, por sua vez, atua com um nível de cuidado impressionante, fazendo Norman se dissipar cada vez mais e dando espaço à Mãe, inicialmente relutante, mas progressivamente intensa, sedutora, manipuladora. Todo esse pacote dramatúrgico poderia caber em Bad Blood de maneira orgânica, mas não é o que acontece, graças à irresponsável montagem. Para mim, este foi o ponto mais problemático aqui, porque interrompeu sem escrúpulos uma boa cena ligando-a a um espaço contrastante e aleatório, o que não é nem de perto o padrão da série, especialmente a partir da 4ª Temporada, quando a equipe técnica começou a ficar mais afinada e cuidadosa com o ritmo e a sequência das coisas.
Uma sensação de filler nos toma por uns cinco minutos da projeção, quando voltamos para o passado de Caleb e Norma e vemos o cotidiano deles, as brigas entre os pais, o abandono. Esta parte do passado já havia sido explorada na série, sob o ponto de vista de Norma, por isso o retorno, apenas mudando de leve a perspectiva, não foi uma boa escolha. O impasse pode ser ainda pior para alguns espectadores, porque esse momento não tem amparo em outras resoluções do episódio. A rigor, ele serve para “impulsionar” os devaneios de Caleb, mas isso poderia ficar claro de qualquer outra maneira, não era preciso um retorno ao passado, principalmente para este momento, a fim dar a largada para os sentimentos (leia-se: as muitas formas de culpa) que perturbam Caleb.
Chick terá um caminho interessante para percorrer até o final se ele for mesmo a intenção metalinguística da produção, encarnando o equivalente ao autor de Psicose, Robert Bloch. Confesso que não esperava nada parecido, mas gosto da ideia dele para registrar os acontecimentos em livro e de como os roteiros dessa temporada parecem brincar com os dois lados da história, inserindo, mesmo que sutilmente, o espectador nesse jogo de fingir ver personagens. No final das contas, todos nós estamos meio loucos, enraivecidos e felizes (?) com este ou aquele assassinato, o que é uma coisa bem estranha de se constatar. Série boa é assim, mesmo quando não está no topo, traz muita coisa de bom para nos fazer pensar sobre elementos de dentro e fora dela.
Bates Motel (EUA, 6 de março de 2017)
Direção: Sarah Boyd
Roteiro: Tom Szentgyorgyi
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Nestor Carbonell, Ryan Hurst, Kenny Johnson, Isabelle McNally, Travis Breure, Malcolm Craig, Mira Eden, Cameron Forbes, Joshua Hinkson, Panta Mosleh, Naomi Simpson,
Duração: 42 min.