Home FilmesCríticas Crítica | Babygirl (2024)

Crítica | Babygirl (2024)

Descobrindo a liberdade sexual.

por Felipe Oliveira
7 views

Embora conte com uma filmografia em construção, é possível observar que Halina Reijn trabalha com um tema comum em dois dos três filmes que dirigiu: a dinâmica de poder. Diferente de Instinto (2019), em sua divulgação, Babygirl focou muito na provocação de ser um thriller erótico ao trazer uma empresária que coloca a vida profissional e familiar em risco ao se envolver com um estagiário. O curioso é que a atriz e cineasta holandesa compartilha do que era o subgênero nas décadas de 80 e 90 nos filmes de Joe Eszterhas, como Atração Fatal e Instinto Selvagem – longas que também influenciaram Secretária –, ao subverter o olhar masculino sobre sexo e trazer uma perspectiva feminina ao tema, característica que é evidenciada logo na abertura com a personagem de Nicole Kidman fingindo um orgasmo com o marido, e em seguida, indo a assistir a um vídeo pornô sobre dominação.

Longe da figura da femme fatale que se popularizou no imaginário da audiência – arquétipo da mulher sedutora que leva o homem ao fracasso – Romy (Kidman) é presa ao molde da mulher ideal: boa esposa, sucedida e CEO de uma empresa de tecnologia, como se não pudesse fugir dessa imagem alto-padrão criada. A partir disso, Reijin passa a explorar sua temática sobre liberdade sexual, fetichismo e dinâmica de poder, o que é ótimo ver a entrega de Kidman em um papel desafiador e divertido na pele de uma mulher que tem medo de se descobrir e trair o status e papel social que detém como uma CEO. Mesmo que toda a representação indique um drama Reijin se apoia numa abordagem cínica que faz o prometido teor erótico seja visto por uma ótica cômica e artificial com a ausência do tesão provocativo da relação desconcertante que os personagens estão.

É como se A Professora de Piano encontrasse Cinquenta Tons de Cinza, mas sem nunca mostrar o quarto de jogos onde Christian Grey guarda seu XBox, ou seja, Babygirl tem manga um jogo de provocação sendo proposto, o qual Romy poderá ter seus anseios e fantasias experimentados com um jovem estagiário que parece oferecer bem mais do que os tórridos segundos de tela de uma pornografia e tentativas frustradas de realização com o esposo. O que vai na contramão do que o filme propõe é como Reijin não se arrisca, deixando a premissa e subversão a sombra da sugestão. É tudo muito anticlimático e brocha quando nem sequer consegue se enquadrar como um softporn. Apesar do uso de elementos e representações em seus filmes – como a cachorra, que também apareceu em Instinto – a ausência de tensão torna as ideias em Babygirl sem impacto, como se não estivessem sendo desenvolvidas.

Um bom exemplo disso é como acontece a aproximação entre Romy e o estagiário vivido por Harris Dickinson, com os diálogos que deveriam transmitir o duplo sentido e provocação entre duas figuras em posições opostas de poder, soarem bobas, porque pensando bem, Reijin tem muito a dizer ao defender os fetiches feminino envolvendo dominação e submissão não como fantasias sexuais projetadas por homens (algo que é ainda mais reforçado na cultura pornográfica) e focar na liberdade de sua personagem, mas que embora tenha a subversão da representação de mulheres em filmes eróticos, Babygirl não consegue evitar que pareça tanto uma história inspirada numa fanfic quanto Fifty Shades of Grey. A forma estilosa com a qual a música composta por Cristobal Tapia de Veer e também trilha sonora é usada no filme não acompanha a tensão sexual inexistente e dinâmica de poder que a diretora se esquiva tanto de explorar em tela.

Mesmo que todo o tesão não possa ser sentido, Kidman faz valer o protagonismo nessa trama em que os papéis são desafiados, e bem como os thrillers eróticos contrariavam tabus, Reijn oferece uma nova roupagem ao olhar masculino que tanto marcou o subgênero. E para isso, a cineasta não nega suas inspirações nem mesmo ao tentar fazer de Babygirl uma resposta – não tão psicológica – a masculinidade frágil de Tom Cruise representada em De Olhos Bem Fechados, mas talvez fazer de sua crescente filmografia uma subversão ao arquétipo feminino há muito tempo não visto da femme fatale nesse conto descontraído e quase sedutor de uma mulher que contraria a hierarquia do sexo.

Babygirl (EUA, 2024)
Direção: Halina Reijn
Roteiro: Halina Reijn
Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Sophia Wilde, Esther McGregor, Vaughan Reilly, Victor Slezak
Duração: 114 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais