Home TVTemporadas Crítica | Avatar: A Lenda de Aang – Livro Três: Fogo

Crítica | Avatar: A Lenda de Aang – Livro Três: Fogo

por Kevin Rick
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A mente pura pode vencer todas as mentiras e ilusões sem se perder.

O coração puro pode resistir ao veneno do ódio sem ser envenenado.

Desde o começo dos tempos, a escuridão prospera no vácuo. Mas sempre cede à luz purificante.

Eu sempre tive essa ideia comigo de que a 2ª Temporada de Avatar: A Lenda de Aang era a melhor da animação, e, de certa forma, ainda vejo ela como a mais consistente e a mais divertida de revisitar pela maneira que a estrutura episódica ordinária foca inteiramente em seus personagens, e sem sombra de dúvidas mantenho minha opinião em relação à completa obra-prima que é o segundo livro, mas… a 3ª Temporada reivindicou meu pódio. Após a revisitação, todos os problemas que me lembrava, como o ritmo insosso ou o desfecho apressado, desapareceram completamente. Seria fácil eu declamar sobre as várias conclusões fenomenais de arcos, a redenção de Zuko, a superação de Aang e o fechamento de ciclo que o terceiro livro faz, só que minha abordagem será um tantinho diferente, pois, na minha concepção, o ano final da animação é sobre o fracasso.

O medo do fracasso sempre foi um assunto debatido no show em relação a todos os personagens, mas especialmente desenvolvido com Aang e Zuko, com o destino e a honra, respectivamente. E apesar dos vários deslizes e derrotas ao longo da jornada da dupla, o maior baque a seus temores acontece ao final da 2ª Temporada, com as consequências definindo o arco dos inimigos/amigos na narrativa do terceiro livro. Aang foi derrotado, ferido fisicamente e espiritualmente, e não está forte o bastante para enfrentar Ozai, enquanto Zuko destruiu a sua honra ao trair seu tio Iroh. Grande parte do medo que permeava os anos anteriores, e era mais transpassado simbolicamente, ganha o espaço definitivo em uma temporada completamente madura e objetiva em relação às inseguranças de seus personagens.

Isso é melhor visto na mudança de abordagem do roteiro com os diálogos, mais diretos e pragmáticos. A Praia, por exemplo, é um episódio inteiramente focado nas indecisões dos antagonistas da série, em uma sucessão de situações nas quais o grupo de Azula, Zuko, Ty Lee e Mai são postos em ambientes adolescentes normais, e falham miseravelmente em interações sociais, culminando na rígida e emocionante conversa da praia. Os Atores da Ilha Ember é outro episódio que busca o embate derrotista nos jovens, utilizando uma peça de teatro como exteriorização das falhas, vulnerabilidade e dúvidas dos personagens. O par de episódios da Rocha Fervente lida com o fracasso da liderança e inutilidade de Sokka; Pesadelos e Devaneios é um conto quase surreal na mente apavorada de Aang; A Manipuladora de Fantoches é uma fábula de horror às raízes de Katara; e, claro, O Dia do Eclipse é o fiasco épico do grupo na empreitada contra a Nação do Fogo.

Outra questão importante na temporada é a da moralidade. Isso é primeiramente desenvolvido com Katara em Os Atacantes do Sul, onde a personagem parte com Zuko à procura do soldado da Nação do Fogo que assassinou sua mãe, e é interessante como a personagem oferece misericórdia, mas não perdão. As coisas não são tão preto no branco como na atmosfera pueril de Aang, e o protagonista começa a “evoluir” seu medo de fracasso para a corrupção de seus princípios ao ser colocado em xeque na missão de assassinato do Senhor do Fogo Ozai. O dilema de Aang é simplesmente fantástico entre o seu eu-nômade do ar e o seu papel como Avatar.

Até aí, minha opinião em relação à terceira temporada estava no caminho esperado, e os meus (antigos) problemas com a trinca de episódios do Sozin’s Comet estavam chegando: o Deus Ex Machina da Tartaruga Leão e o final apressado. Ah, como estava errado. Todo o desenrolar filosófico com a Tartaruga Leão é completamente perfeito para o fechamento de arco de Aang, pois parte do Espiritual. Todas as questões intrínsecas da construção de mundo de Avatar que falo na crítica da 1ª Temporada são personificadas no discurso do início do texto e na dobra de energia do Aang. Ele não estava pronto para enfrentar Ozai, e mesmo se a série se estendesse para prover mais tempo de treinamento, o ponto-chave da vitória de Aang não é o físico, mas o de princípios.

Um final de temporada épico que puxa as temáticas espirituais desse Universo fantástico como resolução de um embate muito mais interessante no campo ideológico do que no corpo-a-corpo, como a animação sempre prezou. Uma temporada sobre os fracassos e inseguranças de uma classe de personagens em constante amadurecimento, ainda buscando respostas no finalzinho da série. Avatar: A Lenda de Aang marca uma geração e o gênero televisivo como umas das melhores obras sobre construção de mundo, caracterização e evolução temática. Uma obra-prima em todos os sentidos.

Avatar: A Lenda de Aang – Livro Três: Fogo (Avatar: The Last Airbender – Book Three: Fire, EUA, 2006)
Criado por: Michael Dante DiMartino, Bryan Konietzko
Direção: Lauren MacMullan, Giancarlo Volpe, Anthony Lioi, Ethan Spaulding
Roteiro: Michael Dante DiMartino, Bryan Konietzko, Nick Malis, Aaron Ehasz, Matthew Hubbard, John O’Bryan, Tim Hedrick, Ian Wilcox, Elizabeth Welch Ehasz, Joshua Hamilton
Elenco: Zach Tyler, Mae Whitman, Jack De Sena, Dee Bradley Baker, Dante Basco, Mako, André Sogliuzzo, Mark Hamill, Greg Baldwin, James Garrett, Michaela Jill Murphy, Grey Griffin, Cricket Leigh, Olivia Hack, Clancy Brown
Duração: 529 min. (21 episódios)

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