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Crítica | Atlas (2024)

Artificial e não muito inteligente.

por Ritter Fan
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Com Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galore e Viagem 2: A Ilha Misteriosa, suas estreias em longas-metragens, o diretor Brad Peyton mostrou-se à vontade com o uso pesado de computação gráfica e, com Terremoto: A Falha de San Andreas e Rampage: Destruição Total, ele começou a investir seus esforços em filmes-desastre também carregados de CGI, algo que ele vem reconfirmar com Atlas, produção do Netflix com Jennifer Lopez como a brilhante analista que odeia inteligência artificial Atlas Shepherd em uma missão de captura do vilanesco androide terrorista Harlan (Simu Liu) que dá muito errada. E, assim como Terremoto e Rampage, o que Peyton entrega é uma mistura de referência cinematográficas reempacotada e devolvida ao espectador como um produto novo que, na verdade, é puramente mais do mesmo, ainda que, novamente, ele tenha se mostrado competente o suficiente para gerar entretenimento suficientemente competente.

O roteiro de Leo Sardarian e Aron Eli Coleite, ambos estreantes em longas, é um pot-pourri narrativo que pega sua estrutura base de Resistência, ou seja, uma I.A. que quase destrói a Terra, mas que acaba sendo obrigado a fugir – no caso para outro planeta – e é então caçado pelos humanos e de Exterminador do Futuro, uma humana tendo que se unir à uma inteligência artificial boazinha para destruir a malvada e inspira-se na ação de Aliens, O Resgate, que coloca uma mulher que não é soldado e que avisa que tudo dará errado, sendo obviamente ignorada, tornando-se uma máquina de combate com direito a uma empilhadeira altamente sofisticada em forma de exoesqueleto quando tudo efetivamente dá errado. Em cima disso tudo, o texto é inábil na concatenação de ideias e no uso de coisinhas insignificantes como lógica ou verossimilhança, exagerando, inclusive e especialmente no tanto de situações inacreditavelmente estúpidas que vão do plano de Harlan até as atitudes teimosas de Atlas. No departamento de computação gráfica, que é particularmente bom, devo dizer, os designs parecem pegar muita coisa emprestada não só dos longas já citados no que se refere a equipamentos, como também dos até agora dois filmes da franquia Avatar no que diz respeito ao design planetário. Em outras palavras, há de tudo um pouco nessa mistura que Peyton joga no liquidificador para fazer seu Atlas.

O que, porém, Atlas não tem é o coração das obras referenciadas, pois, nesse processo de uso de inspirações, muito do que as diferenciava se perde no smoothie monocromático resultante, com Peyton claramente apropriando-se dos elementos bacanas, mas sem saber imprimir charme e sem conseguir emprestar uma abordagem que fuja muito do comum. Sinceramente, porém, isso nem seria um grande problema se o elenco se segurasse com carisma e mínima competência dramática. Com exceção de Sterling K. Brown e Mark Strong que, porém, tem participações mínimas, todo o restante é fraco. Simu Liu como o grande vilão Harlan é insosso e até sonolento, com seu tenente Casca Decius vivido por Abraham Popoola só se destacando por sua voz potente. No lado dos bonzinhos, nem mesmo a voz da inteligência artificial Smith, resultante do trabalho de Gregory James Cohan, consegue criar conexão com o espectador, mais parecendo irritante e monocórdia do que atraente ou chamativa. Deixei Jennifer Lopez por último, pois tenho certeza de que Brad Peyton não tem cacife algum ainda para dar ordens à ela no set, assim como ele não deu nenhuma a Dwayne Johnson nas três vezes em que trabalhou com ele. O resultado é que a já limitada latitude dramática de Lopez – se é que ela tem alguma – torna-se quase que uma autoparódia, em que tudo o que ela consegue fazer é gritar, revirar os olhos e fechar a cara.

E tudo aquilo que poderia ser falado sobre inteligência artificial, assunto tão em voga hoje em dia, é sumariamente deixado de lado em prol da pancadaria artificial e de pouca inteligência (sendo simpático) que, reafirmo, Peyton maneja cinematograficamente muito bem mesmo com as limitações impostas pelo roteiro que dita que Lopez precisa ficar presa em um mesmo ambiente fechado o tempo todo demonstrando níveis de burrice estratosféricos e pela própria incompetência da atriz, claro. Aliás, é exatamente isso que retira Atlas da sempre crescente pilha de obras puramente genéricas: o que o diretor consegue colocar em tela com o material humano razoavelmente pobre que tem em mãos, descaradamente pinçando material de outras fontes e usando computação gráfica de qualidade (não excepcional, vejam bem, mas aí já é querer demais) para contar uma história que já vimos antes muitas vezes, mas que continua entretendo. Talvez mais do que especialista em filmes-desastre carregados de CGI, Peyton seja um especialista em salvar filmes que, de outra maneira, seriam só desastres mesmo. Antes isso do que uma direção que estraga material bom…

Atlas (Idem – EUA, 24 de maio de 2024)
Direção: Brad Peyton
Roteiro: Leo Sardarian, Aron Eli Coleite
Elenco: Jennifer Lopez, Simu Liu, Sterling K. Brown, Gregory James Cohan, Abraham Popoola, Lana Parrilla, Mark Strong
Duração: 120 min.

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