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Crítica | Atlan – Livro 3: O Grande Dilúvio, de Hans Kneifel

As sementes de uma famosa narrativa.

por Luiz Santiago
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Ciclo 1: Aventuras Temporais — Episódio: 3/52
Principais personagens: Atlan, AQUILO, Alyeshka, Shar-gal Nisobar, Rico, Kharg, Imohag, D’Agana.
Espaço: Mesopotâmia
Tempo: 4024 a 4021 a.C.

Acho muito curiosa a maneira como a qualidade da série Atlan caiu, de seu primeiro livro, No Berço da Humanidade, para este terceiro, O Grande Dilúvio, lançado em 1976. Até aqui, a série teve apenas um escritor, Hans Kneifel, e um único grande bloco histórico sendo explorado (o Neolítico, ainda na pré-História), o que faz bastante sentido em termos de escolha dramática para as antigas aventuras do arcônida na Terra. No caso do primeiro romance, Atlan recebeu um interessante tratamento literário. Nunca fui fã dos adendos feitos posteriormente, com o personagem em uma espécie de coma, “lembrando” de todas essas histórias através de uma máquina capaz de extrair memórias das pessoas e exibi-las em uma tela, mas tudo bem, esta é a cara da série, não há nada a ser feito. No primeiro livro, porém, a exploração do espaço de ação do protagonista e a ameaça em cena eram todos interessantes, algo que mudou já no volume seguinte, o chatíssimo A Fuga dos Androides.

Há uma diferença de quase mil anos entre a aventura anterior e esta, que serve de continuação. Mais uma vez, androides fogem de Peregrino, e AQUILO dá uma missão a Atlan: é necessário capturar ou matar esses fujões, que certamente tentarão fazer um império na Terra, algo que o cínico Superser não irá permitir. Passando-se entre os anos de 4024 e 4021 a.C., no finalzinho do Período Ubaid (ou Tell al-‘Ubaid, que foi de c. 6500 a 3700 a.C.), esta aventura foca em algumas das primeiras grandes migrações para a região futuramente conhecida como Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. É um momento muito rico da Pré-História, onde o sedentarismo, a agricultura e a pecuária já estão estabelecidos (estas últimas, ganhando cada vez mais novas técnicas) e onde a humanidade começa o movimento em direção à urbanização.

É nesse aspecto que Hans Kneifel foca, demarcando um bom território, no começo do livro, para o que vem depois: as grandes inundações que gerariam histórias populares sobre dilúvios, culminando num pedaço da versão mitológica basilar da cultura e literatura humanas (Ele Que o Abismo viu: Epopeia de Gilgámesh), na qual Moisés se inspiraria para escrever a história do dilúvio, no Gênesis. Vemos a chegada dos dois fugitivos de Peregrino e acompanhamos as mudanças que eles promovem na Terra, dando início a uma cidade belicamente forte. Atlan precisa impedir que esse tipo de expansão continue, mas ao mesmo tempo deve garantir que a humanidade tenha aprendido coisas novas, a fim de que siga se desenvolvendo. Nesse caso, o texto explora tanto elementos materiais (com destaque para urbanização, formação de exércitos, táticas de luta e meios diferentes de irrigação) quanto culturais, como a narração de mitos.

O problema da obra é que muitos momentos genuinamente interessantes, explorando o dia a dia da população no Crescente Fértil, é intercalado por cenas absolutamente desmotivadoras, reflexões chateantes de Atlan e um foco pouco interessante nas ações dos androides fugitivos. Também não ajuda nada o fato de, mais uma vez, termos androides que precisam ser capturados/mortos. Penso que uma mudança um pouco maior na criação da ameaça seria melhor para a trama como um todo. O final também parece corrido em diversas partes, além de reticente na demonstração de desaparecimento de Atlan, do Oriente Médio, e sua colocação na base submarina. O Grande Dilúvio é um Romance Planetário melhor que aquele que o antecedeu, mas ainda está bem abaixo do livro de estreia da série. O que aconteceu nesse meio-tempo? E mais importante: o restante dos livros será assim? Com temor, espero que não.

Perry Rhodan: Romances Planetários #149: Atlan – Livro 3: O Grande Dilúvio (Perry Rhodan-Planetenromane – Band 149: Die Große Flut) — Alemanha, 1976
Autor: Hans Kneifel
Capa original: Johnny Bruck
Editora original: VPM – Pabel Moewig Verlag KG
No Brasil: SSPG Editora (junho de 2019)
Tradução: Marcos Roberto Inácio Silva
145 páginas

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