- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.
Descongelamento é um episódio visualmente muito interessante. Aliás, com exceção da montagem surreal com direito a câmera lenta em Dois Irmãos e das sequências nos Caminhos, eu diria que é o melhor trabalho da MAPPA nesta segunda metade da temporada final. Temos uma animação forte em cores quentes, especialmente o vermelho e alaranjado nas nuvens e no céu, acompanhados do ambiente em escombros em Paradis e da constante marcha dos Titãs de Eren – isso começou na parte final do episódio anterior, mas é pontuado fortemente neste episódio por causa da diminuição de escala e um fator mais humano. Passa-se uma sensação visual desoladora e cataclísmica, indicando que estamos diante de um novo cenário apocalíptico. Além disso, temos boas sequências com os DMT. Nada perto da excelência do começo da obra, mas são tremendamente superiores ao que vimos nos episódios anteriores – só não curti aquela música pop rock durante a batalha; achei levemente deslocada.
Já o texto do vigésimo segundo capítulo é básico, ainda que eficiente. Como eu suspeitava, considerando o tamanho do restante do arco, a narrativa muda de foco, tirando as lentes de Eren para se concentrar em Armin, Mikasa e no restante dos personagens secundários. Faz sentido a mudança de atenção, afinal, Isayama tem muitos arcos para concluir. Vemos isso com Connie e seu drama com a situação de sua mãe; a constante desconstrução e reconstrução de Gabi; e, claro, o esperado retorno de Annie Leonhart, indicado no título do episódio. Além disso, temos outras situações para serem desenvolvidas e resolvidas, como a questão da subserviência de Mikasa e o mais do que certo retorno de Levi.
Para desenrolar estas tramas, Isayama se respalda num dos pilares dramatúrgicos de AoT: dilemas morais. Como eu disse no parágrafo anterior, o roteiro é eficiente, nos dando bons conflitos, como o de Connie e Jean em relação ao sacrifício de Falco, se ligando perfeitamente com o drama interno de Gabi quando Armin cita o incidente na Vila Ragako (a reação da personagem conta tudo) ou então o próprio fechamento da questão entre Gabi e a família Blouse. O problema é que são situações tematicamente repetitivas. Já vimos dilemas assim dezenas de vezes na série, e de formas mais efetivas. O ponto que a série estava no episódio anterior, um clímax de pura excelência, também tira o peso dramático destes momentos.
O fato de que algumas resoluções são extremamente previsíveis é mais um aspecto negativo. Connie, por exemplo, não irá sacrificar Falco. Se eu estiver errado, retiro meu comentário e elogiarei a coragem de Isayama, mas seria uma ação totalmente fora de personagem e aposto minhas fichas que não irá acontecer. Então, muito do que vejo aqui parece regresso narrativo e redundância temática que não se aproveitam inteiramente do apogeu da obra. Além de que tudo soa para mim um prelúdio de team-up entre os sobreviventes, principalmente agora com o retorno de Annie, contra o grande e malvado Eren. Já havia dito na crítica do episódio anterior que é um progresso que conceitualmente desgosto, até porque é difícil se interessar por esses pequenos dramas depois do que vimos nos últimos três capítulos, mas veremos como Isayama arquiteta a reta final do anime.
Por fim, meu texto pode parecer muito negativo por acentuar problemas, mas eu gostei do episódio. Ele é dramaticamente eficiente. Fiel às bases, conceitos e temas da série. Adoro a certa ironia (novamente) carregada na história, agora em relação a como os atos ditos “libertadores” por Eren acarretam num ataque a seu próprio povo – sério, quem ainda não enxerga o discurso moralmente deturpado, ativamente egoísta e ideologicamente vazio do protagonista, precisa rever alguns conceitos. É também um dos melhores e mais consistentes episódios em termos visuais da MAPPA nesta reta final da temporada. E traz bons fechamentos de arco, conflitos internos e uma reviravolta desejada pela audiência há muito tempo. Mas eu não consigo tirar o sentimento de que a série já passou desse ponto. De que Isayama deveria ter elaborado melhor a narrativa para o clímax ter vindo posteriormente ao que vemos exposto aqui, pois há uma sensação de que as melhores e mais interessantes partes do enredo já aconteceram. Mas veremos. Espero sinceramente que meus receios não se concretizem e que Attack on Titan entregue uma conclusão satisfatória neste novo arco que se inicia. Por enquanto, só parece um “mais do mesmo” eficiente.
Attack on Titan – 4X22: Descongelamento (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 氷解, Hyōkai, Japão, 13 de fevereiro de 2022)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Kouki Aoshima
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco: Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura, Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.