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Crítica | Ataque dos Titãs (Attack on Titan) – 4X21: De você, 2000 Mil Anos Atrás

O passado de Ymir.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Continuando o embate entre Zeke e Eren no “Caminhos” após a extraordinária reviravolta narrativa do episódio anterior, o capítulo desta semana nos apresenta o flashback de Ymir, a primeira Titã, antes de nos deixar com mais um cliffhanger no seu desfecho bombástico. Interessante como grande porção do episódio é basicamente um prólogo da história Eldiana com o passado de Ymir sendo finalmente contado em toda sua extensão, culminando num fechamento de arco com a “libertação” da personagem, enquanto o próprio episódio em si é uma resposta ao enigmático título do piloto da série, Para Você, 2000 anos Depois.

Dessa forma, De você, 2000 Mil Anos Atrás é tanto a conclusão de um grande arco do anime quanto mais uma representação do loop narrativo do ato final da série em sua alegoria das memórias e fluxo paralelo no tempo, com Eren influenciando passado e futuro. Em termos figurativos, é mais uma sacada fenomenal de Isayama, se encaixando como uma luva neste segmento surrealista temporal que estamos vendo, indo de encontro aos temas fundamentais do anime, como escravidão, violência cíclica e todo o alfabeto socialmente crítico da série que vocês estão cansados de ler nas minhas críticas – aliás, parando para refletir nisso, é bom saber que o anime está em seus estágios finais, pois não há muito mais que Isayama possa explorar nesse campo sem ficar repetitivo (se já não ficou um pouco), algo que falarei mais à frente.

Falando objetivamente, o que vemos aqui é um conto de horror aterrorizante. A partir de uma transição ironicamente inteligente de Historia olhando uma mentira em livros Eldianos de Paradis, adentramos uma história de origem transmitida como uma fábula macabra, em total semelhança com o que sempre vimos na obra. O fantástico, como no momento em que uma misteriosa criatura se funde com Ymir, é apenas um pretexto chamativo para o contexto realista e trágico do enredo. É por isso que a falta da explicação em torno da criatura não me importa tanto mitologicamente, mais ou menos como o que ocorreu com a revelação súbita do poder do Titã de Ataque no episódio anterior, pois Attack on Titan se aproxima de uma resolução em que os mistérios se tornam cada vez mais situações alusivas e simbólicas do que necessariamente explicadinhas – ademais, quem aí se lembra das várias teorias de Ymir ter feito um pacto com o demônio? hehe.

Diante disso, a menininha inocente é basicamente a personificação de um povo subjugado; sem ação, sem voz, sem decisão, sem olhar, sem humanidade. Essencialmente uma ferramenta humana em vida e no tempo como alusão de uma memória coletiva e hereditária carregada de dor. Existe uma atmosfera melancólica e angustiante que percorre este conto, reforçada pela poderosa trilha sonora, a paleta de cores sombrias e a falta de expressões faciais dos personagens. Tudo culminando na visualmente fantástica e desoladora sequência de Ymir trabalhando sob a voz autoritária de seu mestre na eternidade.

É por isso que o golpe de Eren libertando Ymir de um trauma milenar soa quase justificado, de certa forma até simpatizando o protagonista, como se fosse um líder aliviando seu povo da submissão através do emocionante rosto em prantos de uma garotinha saindo de suas correntes. Mas nós sabemos que o ato de Eren é acompanhado dos seus próprios planos distorcidos de retaliação, em que os fins justificam os meios. A verdade nua e crua é que Ymir foi manipulada novamente, encontrando paz nos braços de outro monstro que ferirá incontáveis inocentes como ela. Assim, a assombrosa metamorfose de Eren no Titã Fundador gigantesco, acompanhado do seu intimidador exército, é a solidificação de que o protagonista é também o vilão.

Meu único receio em tudo isso é o que citei anteriormente, de não saber quanto mais Isayama pode explorar na obra. Eu sei que há mais alguns episódios (e possivelmente filmes), o que me preocupa bastante. Como disse, este episódio funciona como um fechamento para o primeiro episódio do anime, em que Eren mata o mundo todo e o ciclo recomeça dentro do próprio povo Eldiano, ou então alguém impede o protagonista (não vejo como), e da mesma forma a violência continua. Em suma, AoT não pode ter um desfecho feliz; muito menos algo na linha de um discurso amigo que faz Eren se arrepender ou então ele sendo derrotado e o resto do mundo se unindo pacificamente. A série parece caminhar para um pequeno arco final com os coadjuvantes remanescentes (Mikasa, Armin, Levi, Jean, Gabi, Reiner, etc) se juntando contra Eren, o que honestamente não vejo sendo narrativamente tão interessante. Mas é conversa para outro dia. Por enquanto, o arco de Eren é uma história trágica com ares shakespearianos, e Attack on Titan oferece excelência narrativa.

Attack on Titan – 4X21: De você, 2000 Mil Anos Atrás (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – Memories of the Future 未来の記憶 Mirai no Kioku, Japão, 06 de fevereiro de 2022)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Kouki Aoshima
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco:  Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura,  Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.

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