- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.
Esse episódio me preocupou um pouco. Apesar de achá-lo levemente em linha qualitativa com o Julgamento, mas um pouquinho pior, os problemas que noto aqui não são necessariamente em relação a uma narrativa introdutória e de reorganização de trama como ocorreu no episódio anterior, mas sim uma aparente dificuldade de desenvolvimento da história. A impressão deixada é a de que a adaptação está arrastando o mangá, provavelmente cobrindo menos capítulos do que poderia. Eu não leio o material original então não posso afirmar de maneira concreta, mas a sensação é essa, considerando como esse episódio em vários momentos parece ser pura enrolação com um ritmo que consegue ser insosso em alguns núcleos. Isso, ou então Isayama está perdido no desfecho da série. Mas, vamos com calma, porque o episódio não é de forma alguma ruim, só que provoca apreensão pelo futuro da temporada.
Primeiramente que essa segunda parte da temporada final perde bastante o elemento político. Na minha opinião, os primeiros dezesseis episódios da 4ª temporada são excelentes por fazerem um mosaico complexo e intrigante de jogo político, subtexto racial e social entre marleyanos e eldianos, aventura/ação com a trama pós-apocalíptica e o ótimo desenrolar do mistério em torno dessas diversas formas narrativas. Muito disso não existe aqui. Situações como o jantar em Crianças da Floresta ou o estudo de personagem de Reiner em Trem da Noite Escura, por exemplo, estão fora de questão nesse ponto da série. É guerra total.
De certa forma, Isayama se sabotou nesse desfecho, mas, honestamente, é difícil imaginar um caminho diferente para a obra – e, sendo franco, qual shounen não acaba em guerra total? Acredito que a obra perde bastante em termos de diferentes linguagens, ambientações e gêneros expostos, mas eu já havia feito pazes com isso quando começou a invasão de Marley no episódio anterior. O foco da dramaturgia é bem claramente os dilemas pessoais do elenco, como o da Gabi e do Falco nesse episódio, para fechar arcos narrativos. Conceitualmente prefiro alguns, como o da própria Gabi contemplando seus atos e o de Armin na dúvida de confiar/desconfiar de Eren, e já não gosto tanto de outros como o da subserviência de Mikasa – apesar de ficar entusiasmado que ela finalmente tenha um arco pessoal e não o seu habitual drama por osmose – e o próprio Reiner, o qual Isayama desenvolveu tão bem, mas agora parece meio perdido na narrativa.
O que eu realmente acho interessante até o momento é a dúvida que paira sobre a motivação de Eren. Ele é um genocida? Um mártir? Uma espécie de herói fingindo ser vilão à la Itachi e Snape? É um questionamento interessante, especialmente pensando em toda a desconstrução de Eren em relação ao clichê protagonista de anime. Por exemplo, se AoT fosse um shounen padrão, Eren estaria nesse momento em guerra com o vilão principal, tentando atingir seu sonho e blá, blá, blá. Então a ambiguidade é muito bem-vinda. Espero que Isayama saiba desenvolver isso com lógica interna do que sabemos até aqui e com bom desenvolvimento de mitologia, além de delinear melhor o comportamento do protagonista, mas, até o momento, a dúvida distingue o embate de ser um abobado lado bom vs lado ruim. E para teorizar, aquela pequena montagem de quando Eren fala sobre seus inimigos é um indicativo que o personagem simplesmente vai matar todos os seus oponentes, restando a suspeita de que ele também vai trair Zeke.
No mais, Ataque Surpresa tem uma dificuldade imensa em termos de direção, a mesma reclamação que citei no capítulo anterior. A proposta agora é guerra, então fico decepcionado em como visualmente a série está deixando a desejar. Seja novamente as péssimas coreografias ou a falta de criatividade com a câmera – sério, o que aconteceu com os planos aproximados acompanhando os humanos lutando em 3D nos DMT com ótimas manobras ou as lutas dos titãs que emulam combates práticos de um-contra-um? Eu sei que a Mappa está trabalhando contra o relógio, mas não tem como não apontar o quão artisticamente limitado o anime se tornou. O que dizer, então, daquela irritante sequência do Eren manco indo em direção ao Zeke paradinho no muro? O que me leva ao problema de enrolação do episódio, que facilmente poderia ter avançado mais rapidamente a narrativa para dar mais senso de dinamismo – é uma guerra! – e proporcionado mais progresso narrativo, principalmente considerando o fato de que têm muitos capítulos para cobrir em poucos episódios. Seria essa segunda parte apenas uma ponte para os possíveis filmes? É provável. Há o que se gostar nesse episódio, mas é bem aquém do que estamos acostumados em AoT.
Attack on Titan – 4X18: Ataque Surpresa (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 断罪, Danzai, Japão, 16 de janeiro de 2022)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Yuichiro Hayashi
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco: Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura, Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.