- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.
Três anos atrás… Naquela época, ainda podíamos ser capazes de mudar alguma coisa.
Para iniciar este arco em Paradis, Attack on Titan decide seguir a rota do flashback para nos situar melhor dos acontecimentos que levaram ao ataque à Marley. O roteiro de Soldados Voluntários nos leva há três anos atrás, quando um navio marleyano enviado à Paradis é capturado por Eren, e com o auxílio de alguns soldados à bordo que traem os tripulantes, a Divisão de Reconhecimento é capaz de subjugá-los, além de criar uma intrigante aliança. Os traidores, soldados voluntários de Marley, reunidos por Zeke, constituem o foco inicial do episódio, que não apenas funciona como um simples flashback, mas dá início a uma expansão do quadro político global no anime, em adição a uma atmosfera de arrependimento geral.
Soldados Voluntários acaba sendo o tipo de episódio que, apesar de não ser impactante como os anteriores, funciona bem em nos dar contexto da guerra e ampliar o cenário além do campo de batalha, algo que o Isayama sempre prezou na obra. Achei talvez um tantinho súbito e conveniente certas situações da parceria rápida, mas os diálogos trabalham de modo bem orgânico a primeira conexão internacional da nação, além das investidas marleyanas. E é nessa estranheza do elenco principal de descobrir o exterior que a narrativa dramatiza como Paradis é vista globalmente, além de se divertir bastante com a reação dos eldianos. Religião, culinária, armamento, tecnologia, diferentes raças, geografia; vemos de tudo um pouco, e é bacana como o episódio tira seu tempo para trabalhar essas questões mais descompromissadas e íntimas, justamente para criar um paralelo com a realidade trágica do presente.
Mas, ironicamente, acho que é nisso que o episódio acabou pecando um pouquinho na minha concepção. Existe uma construção melancólica entre as diferentes linhas do tempo, utilizando da morte de Sasha para criar esta ruptura da pessoalidade e das escolhas dos Eldianos, especialmente Armin, e também manuseia a elaboração de Eren como uma figura vilanesca, porém, a despeito de ser tudo redondinho e sentimental, senti que o núcleo inicial político foi aos poucos sendo ignorado, até o cliffhanger com Pixis e os soros de Titãs. Contudo, é aí que mora a armadilha da crítica por episódio, pois isso pode ser facilmente retificado posteriormente, mas, aqui, o elemento mais interessante do episódio acabou sendo resignado para o arco de luto e indecisão dos personagens, que é sim ótimo, mas a trama está precisando de um elemento de novidade e progresso, e nada melhor que avolumar ainda mais as conjunturas internacionais deste Universo para além do Marley-Paradis.
Dito isso, Soldados Voluntários prepara vários desenvolvimentos curiosos ao longo da narrativa paradoxal. A aliança de Paradis com Yelena – baita personagem interessante – e os soldados voluntários, com um final digno de tramas políticas maquinadas por Pixis; predetermina divisões ideológicas na nação Eldiana; expõe o contexto misterioso do plano de Zeke, que me leva a pensar num sacrifício real; traz a maravilhosa Annie de volta para a história, mesmo que ainda cristalizada; e, o mais importante, estabelece a posição individualista (ou seria uma espécie de sacrifício da índole em prol do coletivo?), obsessiva e um tanto perturbada de Eren com o shot final corrompido do protagonista. Ainda faltam núcleos a serem desenvolvidos, principalmente Zeke, pouco mostrado no episódio, mas o nono capítulo da temporada indica que teremos mais cenários políticos e divisivos neste arco de Paradis, o que me deixa extremamente feliz. Um típico episódio de respiro narrativo, contemplativo, de consequências trágicas e preparações para a metade final de Attack on Titan. Só me pergunto como vão resolver tudo isso com tão pouco sobrando da temporada…
Attack on Titan – 4X09: Soldados Voluntários (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 義勇兵 Giyū-hei, Japão, 07 de fevereiro de 2021)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Hidetoshi Takahashi
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco: Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura, Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji, Hiroshi Kamiya, Romi Pak, Kishô Taniyama, Hiro Shimono, Yû Kobayashi
Duração: 24 min.