- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.
Generals gathered in their masses Titã Martelo de Guerra
Just like witches at black masses
Evil minds that plot destruction
Sorcerer of death’s construction
– Black Sabbath (Paranoid, 1971)
Durante a reunião de Willy Tybur e Theo Magath, eu não conseguia parar de pensar na música War Pigs, do Black Sabbath, que como o trechinho acima expõe, fala sobre generais maquinando estratégias de guerra à custa de vidas humanas inocentes. Claro que, a ideia do Hajime Isayama é demonstrar essa crueldade governamental com uma certa empatia para as partes envolvidas, porém, é intrigante esse cenário maquiavélico construído, no qual dois homens se auto intitulam juízes, júri e carrascos de múltiplas vidas, em prol de algum bem maior, baseando-se em ideologias fortemente enraizadas no patriotismo, dentro daquela concepção absurda de assassinar tantas pessoas para proteger um número maior de vidas. E o mais interessante? O roteiro consegue tornar o argumento insano pertinente da nossa perspectiva, e manuseia-o para dar significado ao sacrifício de Tybur, ao mesmo tempo que conecta esse nacionalismo com Eren.
Dessa forma, a narrativa do anime continua os joguinhos morais com o protagonista, carregando seus companheiros de Paradis para dentro da esfera pungente da guerra e da sobrevivência, com um quê vingativo, fazendo um paralelo com o ataque marleyano à Paradis no primeiro episódio da obra. Interessante imaginar como o autor poderia muito bem ter iniciado a trama da série desse ângulo, e aos poucos destrinchado a história para diferentes perspectivas como ele já fez, só que, partindo do ponto de vista inicial de Eren como antagonista. A ideia é apresentar o ambiente como elemento determinante do pensamento coletivo, dessa forma, justapondo os “demônios de Paradis” através da visão rasa e preconceituosa de personagens como Gabi e Galliard, já que os Eldianos “ruins” são tudo, e muito mais, que a educação marleyana marcou em suas mentes. É fácil odiar tais personagens, mas acredito que a única maneira de absorver completamente a mensagem de Isayama é, nesse episódio, partilhar da dor, luto e crueldade impostas aos chamados “vilões”.
E o anime não economiza na hediondez de nossos queridos personagens, nunca negando uma das ideias gerais do núcleo da série de navegar no limite humano quando posto face ao inimigo – quem aí se lembra do discurso de Eren para Mikasa quando eram crianças? –, com, obviamente, novas camadas, mas a concepção da retaliação sempre permeou a série, aos pouquinhos tomando essa forma imoral, cruel e imprópria. E o mais bacana é como o episódio toma pequenos respiros para mergulhar nas consequências psicológicas para alguns personagens. Esses acontecimentos de choques de ideologia, que são construídos com Reiner a muito tempo, e também com os Eldianos durantes os embates com a gangue do Kenny, demonstram o “crescimento” de alguns deles, desde a certa indiferença de Eren a parcial compaixão de Mikasa e Jean, motes esses que eu estava ansiando, e vai ser intrigante notar a corrupção emocional de Paradis nessa nova visão do Eren, de destruição global. Nem todo mundo topa genocídio como desculpa de legítima defesa, sabe? Abrindo espaço para uma rachadura ideológica dentro do grupo principal, especialmente pensando na benevolência de membros como Armin, Jean, e os próprios Ackerman.
Todavia, existe outro objetivo principal neste capítulo, além das comparações cruéis da guerra. E ele pode ser facilmente resumido a uma palavra: hype. Ou, traduzindo, empolgação, entusiasmo e euforia. Acredito ser nesse sentido que o episódio falha em determinados elementos, primeiramente, como esperado, na animação. Olha, eu consigo entender a dificuldade de muitas pessoas com a qualidade técnica da MAPPA, que tem decaído desde o primeiro episódio, mas, honestamente, não é algo que me aborrece a ponto de estragar minha experiência, pelo menos não até aqui. Pois, na minha humilde opinião de pouco conhecedor da arte de animação, o maior problema do episódio é a direção, e não necessariamente a parte visual em si. Falta aquela criatividade durantes os “voos” dos soldados de Paradis, basicamente seguindo-os por planos panorâmicos, e quando próximos, os vemos em uma linha praticamente reta, divergindo bastante daquela imersão da WIT em misturar a câmera com os movimentos de batalha. A conclusão óbvia de tais acontecimentos é o objetivo de mascarar a falta de orçamento do estúdio, no entanto, consigo pensar em vários exemplos de animes clássicos que faziam muito mais com menos dinheiro, afinal, existem alguns momentos que a direção realmente está de sacanagem. O shot de Galliard vendo os “demônios” chegando é especialmente feio, lembrando uma teia de aranha com animação estática, e só consigo imaginar essa cena nas mãos de um diretor superior, que saberia aproveitar melhor da ocorrência para construir suspense e terror em torno da situação.
Dito isso, me peguei bastante eufórico em vários momentos, desde a aparição de Mikasa e Levi, até a própria luta de Eren com a Titã Martelo de Guerra, que, em comparação com, digamos, a luta Titã com Reiner, deteriora o padrão esperado, mas reitero, não é algo que realmente me aborrece. Sinto sim uma falta de inventividade com a câmera, na contramão da engenhosidade de enquadramentos e deslocação dos combates que vimos nas temporadas anteriores – e no Do Outro Lado do Oceano também – que detrai enormemente da experiência entusiástica habitual, contudo, Attack on Titan sempre foi mais narrativa do que ação na minha concepção, e na primeira ele continua espetacular, ainda que, a direção decepcione.
Attack on Titan – 4X06: Titã Martelo de Guerra (進撃の巨人, Shingeki no Kyojin – 戦槌の巨人 Sentsui no Kyojin, Japão, 18 de janeiro de 2021)
Criado por: Hajime Isayama
Direção: Teruyuki Omine
Roteiro: Hajime Isayama, Hiroshi Seko
Elenco: Takehito Koyasu, Yoshimasa Hosoya, Ayane Sakura, Natsuki Hanae, Toshiki Masuda, Manami Numakura, Yûmi Kawashima, Ayumu Murase, Masaya Matsukaze, Jirô Saitô, Tôru Nara, Yû Shimamura, Yûki Kaji, Kazuhiro Yamaji
Duração: 24 min.